Morre o poeta Thiago de Mello

Um dos gigantes da literatura morreu aos 95 anos, deixando um legado de dezenas de obras traduzidas em mais de 30 idiomas. É dele a poesia “Faz escuro mas eu canto”, poema contra a ditadura

 

Na sexta-feira, 14 de janeiro, o Brasil e a luta incessante pela preservação da floresta amazônica perderam o poeta e tradutor Thiago de Mello. Morto aos 95 anos em casa, Thiago foi autor de dezenas de obras memoráveis e um defensor intransigente das causas amazônicas e da democracia brasileira. Ele faleceu em Manaus.

Thiago de Mello nasceu em Barreirinha, no interior do Amazonas, e é um dos poetas mais conhecidos da região, influente no Brasil e no mundo. Suas obras foram traduzidas para mais de 30 idiomas. Um dos seus poemas mais conhecidos é ‘Os Estatutos do Homem’, em que chama atenção para os valores simples da natureza humana.

Por sua luta em favor da democracia, foi perseguido e preso pela ditadura militar instaurada em 1964, sendo posteriormente obrigado a se exilar. Ao viver no Chile, travou um intenso contato com o poeta Pablo Neruda. Além da proximidade de ideais, desenvolveram uma sólida colaboração artística.

Seu poema ‘Madrugada Camponesa’ foi um forte brado contra a ditadura brasileira e a tentativa de apagamento pelo regime da verdadeira arte e cultura de raízes nacionais. Os versos são líricos e de forte conotação política:

Faz escuro mas eu canto,

Porque a manhã vai chegar.

Vem ver comigo companheiro,

A cor do mundo mudar.

Vale a pena não dormir para esperar

A cor do mundo mudar.

Já é madrugada,

Vem o sol, quero alegria,

Que é para o que eu sofria.

Quem sofre fica acordado

Defendendo o coração.

Vamos juntos, multidão,

Trabalhar pela alegria,

Amanhã é um novo dia.

Tal poema foi o que levou a 34º Bienal de São Paulo a homenagear Thiago de Mello no ano passado. O verso que inspirou a bienal, ‘Faz escuro mas eu canto’ é parte do poema ‘Madrugada Camponesa’. O poema, de 1965, também ganhou uma versão musical por meio de uma parceria entre Thiago e o músico Monsueto Menezes, no mesmo ano em que foi lançado.