Lula defende enfrentamento urgente da desigualdade e da fome: “Não é possível imaginar a fome num planeta que produz mais alimentos que o povo necessita”

 

Em palestra proferida em Madri, na última quinta-feira, 18, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a reconstrução do mundo, sobre os alicerces da igualdade, da fraternidade, do humanismo, dos valores democráticos e da justiça social. Ele participou do seminário “Cooperação multilateral e recuperação regional pós-Covid-19”, na Casa América, na capital da Espanha.

“Mudar o mundo deve ser sempre a nossa profissão de fé, a própria razão para existirmos e nos lançarmos a uma luta árdua e permanente, da qual não poderemos jamais descansar”, afirmou o ex-presidente do Brasil. Ele destacou que o mundo já estava doente antes de ser atingido pela pandemia da Covid 19.

A doença, segundo Lula, é o abismo social no mundo de ricos e pobres: “A desigualdade está na raiz de incontáveis mortes que acontecem ao redor do mundo. Inclusive quando o atestado informa como causa da morte a Covid”. Ele também lembrou de outro tema vergonhoso para a humanidade: a fome.

“Mesmo que sobrevivam à Covid, 800 milhões de pessoas hoje não conseguem escapar de outro terrível flagelo – a fome”, denunciou o ex-presidente. “Não é possível imaginar a fome num planeta que produz mais alimentos que o povo necessita”, declarou.

Lula lembrou que existem recursos, como se mostrou com o gasto de quase US$ 2 trilhões para salvar o sistema financeiro durante a crise de 2008. “Infelizmente, não vemos a mesma generosidade quando se trata de salvar o planeta do aquecimento global, combater a crescente desigualdade e eliminar a miséria no mundo”, afirmou. O ex-presidente foi aplaudido de pé.

Ele voltou a dizer que os desafios globais não serão solucionados pelo sistema atual, criado após a Segunda Guerra Mundial. E convocou os líderes das nações a empreender a reconstrução das instituições internacionais sobre novas bases, propondo uma conferência mundial para definir uma nova governança global, justa e representativa. 

“Nós precisamos ter coragem de dizer que precisamos de uma nova governança mundial, que a governança mundial criada depois da Segunda Guerra Mundial e nem suas instituições resolvem nossos problemas”, afirmou, criticando atuação do Fundo Monetário Internacional (FMI) e reafirmando a necessidade de ampliação do Conselho de Segurança da ONU, formado hoje apenas por Estados Unidos, Inglaterra, França, China e Rússia.

“Por que não outros países da Europa? Por que não da América Latina? Por que não da África? Qual a justificativa que tem para o país do tamanho da Índia não está no Conselho de Segurança? É preciso criar uma governança com mais gente e mais poder de tomar decisões”, questionou. 

Lula também falou dos riscos de as medidas propostas na Conferência Mundial para Mudanças Climáticas (Cop26), realizada na Escócia, não serem efetivadas. “Porque não tem governança para obrigar, os Estados nacionais não cumprem”, afirmou. Ele reiterou que é urgente colocar a desigualdade no centro do debate internacional. “É impensável a gente colocar a cabeça no travesseiro e dormir sem lembrar que tem gente na rua, dormindo no frio. O povo precisa de um pouco dinheiro”, lembrou. 

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