Moro, o mascarado, assume o seu tosco papel na política
O ex-juiz federal, que perseguiu Lula e o PT, agora admite o que sempre negou: gosta mesmo é de fazer política. Pretensioso, o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro se filia ao Podemos, a antiga legenda de aluguel da direita chamada PTN e posa de candidato à Presidência. Seu outro parceiro de crimes na Lava Jato, o ex-procurador Dallagnol também anuncia que disputará as eleições
A entrada em cena de Sérgio Moro no teatro das eleições de 2022 ocorreu na última semana no melhor estilo do velho circo midiático montado pela República de Curitiba no auge da Lava Jato. Com pompa, expectativas de velhacos da direita carcomida nacional e ampla cobertura da imprensa nativa, Moro fez um discurso vazio e anódino. Ele se permitiu repetir os velhos slogans surrados de sempre do combate à corrupção, mas sem falar em desigualdade ou emprego para o povo.
“Chega de mensalão, petrolão, rachadinha e orçamento”, discursou Moro, num evento que parecia aludir à passagem de Fernando Collor, no final dos anos 80, ou ao próprio Bolsonaro, em 2017, como o candidato da salvação nacional, num palco verde, amarelo e azul, repetindo o mesmo padrão da velha direita nacional. Nenhuma palavra sobre a geração da economia ou como fazer o país voltar a crescer com justiça social.
A filiação do ex-ministro da Justiça ao Podemos — a legenda da direita nacional que antes era conhecida como o partido de aluguel PTN — ocorreu com pompa e circunstância em Brasília, com figuras pouco conhecidas na política nacional. O ex-ministro falou em combate à corrupção e ao crime organizado, fim da reeleição e do foro privilegiado, volta da prisão a partir de condenação em segunda instância, respeito às listas para nomeação no Ministério Público e a autonomia da Polícia Federal, com mandatos para diretores. Citou a criação de uma corte nacional anticorrupção.
Claro, Moro não fez qualquer menção ao fato de que foi ele próprio um dos responsáveis pela derrocada da economia brasileira, o Golpe de 2016 e a destruição de empresas de engenharia nacional, além de permitir a ascensão da extrema direita ao poder. Moro quer ser o candidato a encantar a direita e os bolsonaristas sem Bolsonaro, o tragicômico presidente que jogou o país na rebordosa institucional e aumentou a miséria da população.
O mesmo Bolsonaro que Moro serviu, de maneira subserviente e encantada, durante dois anos, depois de largar a magistratura assim que cumpriu o seu papel designado pela Lava Jato: tirar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva da disputa presidencial de 2018, numa manobra corrupta para atender aos interesses das velhas oligarquias e do establishment político e midiático.
Com a velha dicção que lhe rendeu o nada honroso apelido de Pato de Maringá, o ex-juiz federal subiu ao palco para esboçar um discurso surrado e cheio de clichês. “Muitos dizem que não sou eloquente e até criticam minha voz”, disse. “Se não sou a melhor pessoa para discursar, posso assegurar que sou alguém que vocês podem confiar”, pontuou.
“O Brasil não precisa de líderes que tenham voz bonita, mas de líderes que ouçam a voz do povo brasileiro”, disse. Moro não lembrou que só tem 8% das intenções de voto e uma que chega a 60%, de acordo com pesquisa PoderData, instituto ligado ao site Poder 360.
E continuou na ladainha em que tenta posar de paladino da Justiça. “A vida pública me testou como juiz e ministro. Tomei decisões difíceis e nunca recuei”, disse, escondendo que deixou o governo escorraçado pelo presidente que apoiou com afinco já em 2018 e a quem deixou de prestar reverência quando passou a tomar broncas públicas do ex-capitão do Exército.
O ex-juiz finalizou o discurso de malandro político de maneira dissimulada, navegando em chavões da velha UDN — bastião dos golpistas conservadores. “Pretendo atuar como um guardião vigoroso do interesse público, como um protetor dos direitos de todos os brasileiros e brasileiras. O Brasil poderá confiar que este filho teu não fugirá à luta e que jamais deixará o seu interesse pessoal acima do interesse do povo brasileiro”. Nem parecia o mesmo homem que jurou que nunca entraria na política, numa entrevista concedida ao Estadão em novembro de 2016.