Governo acabou com o Bolsa Família, mas novo programa social nasce com número de beneficiários e valores menores que os prometidos e abandona quem recebia auxílio emergencial. A manobra do Planalto é claramente eleitoreira

 

O Palácio do Planalto editou, na última segunda, 8, o decreto que regulamenta o programa Auxílio Brasil, instituído pelo governo Bolsonaro e que acabou com o Bolsa Família. Em seu lugar, nasce um programa eleitoreiro e oportunista, que exclui 22 milhões de famílias que recebiam o auxílio emergencial, além de jogar a população mais pobre na absoluta incerteza.

Segundo o próprio governo, o Auxílio Brasil deve beneficiar até 17 milhões de pessoas, muito abaixo do número de beneficiados hoje pelo Bolsa Família e o Auxílio Emergencial. Ex-ministra do Desenvolvimento Social, a economista Tereza Campello alerta:  “Vinte e dois milhões de famílias provavelmente vão ser excluídas de programas de transferência de renda. Esse é o dado que eles estão escondendo e de que ninguém fala. Esse é o principal dado da conjuntura”.

Ela classifica o Auxílio Brasil de oportunista e eleitoreiro. “Bolsonaro teve a audácia de dizer que o Auxílio Brasil é o Bolsa Família turbinado. Só que o pagamento no valor de R$ 400 por família está garantido até o fim de 2022. Depois, os recursos não estão programados e uma bomba está armada para 2023”, denuncia a ex-ministra.

A economista aponta ainda que o Auxílio Brasil acabou com todos os pilares que fizeram do Bolsa Família o maior e melhor programa de transferência de renda do mundo. Lamenta que não haverá a parceria com governadores e prefeitos, excluídos do processo de formulação do programa. “Isso é um erro porque são os prefeitos que sabem as peculiaridades de cada cidade. O Bolsa Família funcionou bem até hoje porque as prefeituras ajudavam na gestão, acompanhando as famílias e identificando as necessidades de adaptação para cada realidade”, explica.

Ela também considera um erro o desmonte do Sistema Único de Assistência Social (Suas) e do Cadastro Único. “Foram essa estrutura e essa ferramenta que garantiram um acompanhamento permanente e humanizado das famílias que recebiam o Bolsa Família”, lamenta. “No CadÚnico, o assistente social, por exemplo, podia anotar que uma família não tinha luz e água em casa e encaminhá-la para os programas Luz Para Todos e Água para Todos (cisternas)”.

Segundo a economista, com o desmonte dessas estruturas, o cadastro vira só uma lista de beneficiários, gerida por meio de aplicativo, o que faz o Auxílio Brasil um mero programa de transferência de renda, que não presta atenção a todas as necessidades da família. “Sem essa rede mais ampla de atenção, o Bolsa Família não teria funcionado. É por isso que o Auxílio Brasil está fadado ao fracasso”, destaca.

`