Nos últimos artigos para a Focus Brasil, e também na edição de número 12 do boletim do Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos (Noppe), da Fundação Perseu Abramo, demonstramos como as pesquisas recentes quantificam percepções da opinião pública sobre o já evidente caos na gestão de Jair Bolsonaro e do seu ministro Paulo Guedes, na área econômica.

Aqui, evidenciamos tendências encontradas em três pesquisas recentes: 1) A percepção da inflação e o imperativo de reorganização do consumo das famílias, que torna-se cada vez mais o grande tema para o país e para a população; 2) A responsabilização do governo Bolsonaro e a queda da aprovação de Guedes; e 3) O pessimismo em relação ao futuro imediato.

Estes três resultados demonstram quão descolados estão o governo e os operadores do mercado financeiro, das necessidades e preocupações materiais do povo brasileiro. As pesquisas analisadas foram feitas pelos institutos Datafolha — entre 13 e 15 de setembro, presencialmente —, PoderData — de 11 a 13 de outubro, via telefone — e Ideia Big Data — de 18 a 21 de outubro, via telefone.

Segundo o levantamento do Idea Big Data, os temas vinculados à inflação e renda em 2021 têm sido um grande problema para o dia a dia de 79% dos brasileiros. Os itens que mais têm pesado no bolso da população de renda mais baixa são os alimentos e as bebidas. Para as classes A e B, o aumento do preço dos combustíveis tem peso maior.

Ainda segundo a mesma pesquisa, 68% dos entrevistados mudaram hábitos de consumo em 2021 por conta da inflação. O número está mais tímido que aqueles apresentados pelo DataFolha em setembro. Naquela ocasião, o instituto mostrou que 85% dos brasileiros reduziram o consumo de algum item alimentício desde o início do ano, com destaque para carne de boi, refrigerantes, sucos e laticínios.

Destaca-se ainda que o imperativo da mudança nos padrões de consumo afetou toda a sociedade, não havendo diferenças tão significativas quando analisados os segmentos por idade, escolaridade ou mesmo renda.

A Idea Big Data aponta ainda que 45% dos brasileiros acreditam que o principal responsável pela crise é o governo federal, contra 28% daqueles que responsabilizam os governadores. Novamente, um número mais tímido em relação ao Datafolha, que mostra mais de 70% considerando que o governo Bolsonaro tem muita ou alguma responsabilidade sobre a crise.

Essa percepção, como demonstrado em artigos anteriores, afetou a avaliação do governo Bolsonaro e também de Paulo Guedes, como revela a pesquisa da PoderData, instituto ligado ao site Poder360.

Um último levantamento aponta que 48% dos brasileiros conhecem bem o ministro e outros 46% “ouviram falar” – enquanto 7% não o conhecem.

Excluindo esses últimos, o levantamento mensurou a avaliação do ministro entre quem o conhece de alguma forma. Entre estes, 35% avaliam seu trabalho como “ruim” ou “péssimo”, enquanto 25% o veem de forma positiva – uma alta de 9 pontos percentuais na negativa e queda de 3 pontos na positiva, comparado a fevereiro de 2021, período da última aferição.

A avaliação regular de Guedes caiu 10 pontos, de 41% para 31%. A opinião sobre o ministro segue a mesma tendência por perfil da avaliação do próprio governo: ele é melhor avaliado por pessoas de 45 a 59 anos e na região Centro-Oeste. Entre os que mais o rejeitam estão os jovens de 16 a 24 anos, além de pessoas com escolaridade superior.

Com uma situação econômica atual bastante preocupante e tendo à frente do governo federal e do ministério da Economia líderes que demonstram pouca disposição em resolver o problema da inflação, desemprego e queda de renda, a população demonstra estar cada vez mais pessimista.

A última pesquisa da Ideia Big Data aponta que 61% dos brasileiros e brasileiras mostram pessimismo em relação ao futuro, acreditando que os preços devem seguir aumentando nos próximos seis meses. Entre os mais pobres – caracterizada pelo instituto como classes D e E – quase 50% não veem uma melhora econômica para o próximo período.

Outras pesquisas têm reforçado que a perspectiva de melhora é baixa entre os brasileiros. Segundo o Datafolha, 69% esperam piora na inflação e apenas 12% veem a possibilidade de melhora. Em relação ao desemprego, há expectativa de piora para 54% dos brasileiros.

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