O Brasil chega à Conferência do Clima com as emissões de gases estufa em alta e a credibilidade em baixa. O país se comprometeu a reduzir em 43% as emissões de gases estufa até 2030. Essa foi a meta oficial apresentada no Acordo de Paris pelo governo Dilma. Mas no fim do ano passado, o governo brasileiro, já sob a égide do líder de extrema-direita Jair Bolsonaro, mudou a base de cálculo das metas brasileiras. Segundo especialistas, a medida foi o sinal verde e uma permissão oficial para poluir mais.

“É uma pedalada matemática que foi dada nos números e que afetou os compromissos do Brasil. O Brasil simplesmente diz que vai jogar para atmosfera 400 milhões de toneladas de carbono a mais em comparação ao que tinha prometido em 2015”, explica Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

Professor do Instituto de Física da USP e cientista do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU, Paulo Artaxo criticou a decisão do governo Bolsonaro. “Não há menor dúvida que o governo mudou a base, a maneira de calcular as emissões que esperaria reduzir junto ao Acordo de Paris”, lamenta. “Isso faz com que o Brasil entre em uma mesa de negociações ainda mais desprestigiado do que antes, sente em uma mesa de negociações com todos os parceiros desconfiando das suas intenções e da sua seriedade”.

Na semana passada, outro golpe na credibilidade do Brasil em relação ao clima. A senadora Kátia Abreu (PP-TO), conseguiu aprovar um projeto que anularia a meta estabelecida pelo Brasil em Paris e permite que o presidente Jair Bolsonaro defina por decreto qual será a nova meta do país. A medida é um retrocesso.

“A meta atual do Brasil é reduzir 43% em relação a um dado conhecido de 2005. Agora, ele virou uma redução de 43% em 2025 de um dado desconhecido, porque é uma projeção que ainda será feita”, explica o coordenador técnico do Observatório do Clima, Tasso Azevedo. “E, diga-se, a projeção só deve ser feita em 120 dias por este governo que não tem mostrado compromisso, por exemplo, com o combate ao desmatamento, nossa principal fonte de emissões de gases de efeitos estufa”.

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