Um dos grandes tesouros da música popular argentina ainda é um ilustre desconhecido do grande público no Brasil. Uma pena. O talentoso Charly Garcia, o pai do rock hermano, que já tocou com os Rolling Stones e é cultuado por Bono, do U2, completou nesta última semana de outubro 70 anos. Um colosso da contracultura argentina, ele é um misto de Bob Dylan, Caetano Veloso, Keith Richards e Gilberto Gil. É o mais importante e cultuado músico da Argentina e uma lenda viva na América Latina.

Nascido em 23 de outubro de 1951 como Carlos Alberto García, o músico desafiou a censura da ditadura militar, sobreviveu aos excessos dos anos 70 e 80 e se converteu em um dos mais influentes músicos do mundo. Charly já cantou com Caetano Veloso e é amigo de Herbert Viana, Bi Ribeiro e João Barone, dos Paralamas do Sucesso. Prodígio, já era um concertista de piano clássico aos 5 anos e tem ouvido absoluto. Mas descobriu os Beatles ainda em 1964 e nunca mais foi o mesmo. Em seguida, passou a compor e se apresentar em duo com o amigo Nito Mestre, com quem fundou, em 1969, a banda Sui Géneris, considerada o primeiro grande grupo de rock argentino que encheu seguidas vezes o mítico Luna Park, com mais de 25 pessoas. É dessa época um dos seus hinos: “Canción para mi muerte”.

Se não bastasse seu lugar na história com esta mítica banda, ainda fundou outras duas grandes: La Maquina de Hacer Pájaros e Serú Girán — considerada os Beatles da Argentina. Com essas duas bandas, burlou e ridicularizou a ditadura militar da Argentina e compôs grandes clássicos: como “Seminare”, “Eiti Leda”, “Viernes 3AM” e “Nos veremos otra vez”.

Algumas dessas grandes canções foram compostas nos final dos anos 70 por Charly em Búzios, no litoral do Rio, onde permaneceu durante um verão inteiro compondo com David Lébon, o guitarrista do Serú Girán, e os músicos Pedro Aznar (baixo) e Oscar Moro (bateria). Ele ainda morou em Buenos Aires com a mulher, a mineira Zoca Pederneiras, com quem tem um filho.

Neste mês, Charly foi alvo de grandes homenagens pelo governo e a prefeitura da Argentina, que celebraram seus 70 anos com uma série de shows espalhados por Buenos Aires, com mais de 100 artistas que renderam homenagem à lenda da música pop. O ponto alto foi o concerto de Fito Páez, neste último final de semana, com o Teatro Colon lotado para cantar as canções do genial — e temperamental — gênio argentino. Ouça agora!

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