O início da semana não trouxe boas notícias para o povo brasileiro. Como já virou rotina no governo de Jair Bolsonaro, os combustíveis sofreram novo reajuste a partir da terça-feira, 26. Com isso, a gasolina acumulou alta de 74% e o diesel de 65%, nas refinarias, desde o início do ano. E não vai parar.

Só em 2021, a Petrobrás promoveu pelo menos 10 aumentos no preço do óleo diesel e 11 no valor da gasolina. E quem paga a conta dessa escalada dos preços dos combustíveis é o povo. Os dados mais recentes da inflação, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), revelam alta de 33% no preço do diesel e de 39,5% no valor da gasolina para o consumidor nos últimos 12 meses.  

Sem nenhuma proposta para enfrentar o problema do preço dos combustíveis, a reação de Bolsonaro foi a de declarar que a Petrobrás só dá dor de cabeça e que a privatização da empresa entrou no radar do governo federal. “Vamos partir para uma maneira de quebrarmos mais monopólio. Quem sabe até botar no radar da privatização. É isso que nós queremos”, declarou, em entrevista à Jovem Pan.

Como de costume, Bolsonaro também tentou se eximir da responsabilidade e reafirmou que não irá interferir na política de preços de combustíveis da Petrobrás. Além disso, como de praxe, criticou governadores pela cobrança do ICMS sobre combustíveis. Como se o aumento dos combustíveis fosse explicado pelo aumento de tributos, e não como resultado de sua política de alinhamento aos preços internacionais do petróleo.

A verdade é que, desde 2016, quando a Petrobrás adotou uma nova política de preços de combustíveis, segundo a qual os reajustes são baseados na paridade com o mercado internacional de forma quase que imediata, o povo sofre com os constantes aumentos de preços. Essa política privilegia a geração de lucros para os acionistas e onera o consumidor por definir preços dolarizados e baseados em padrões externos e não nos custos de extração, refino e distribuição internos.

Em artigo publicado no Correio Braziliense, o coordenador técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Bicombustíveis, William Nozaki, defende que, sem uma mudança na Petrobrás, que classifica como não adequada ao país, os preços não irão cair. “A causa da alta dos preços dos combustíveis é a política de refino da atual gestão da Petrobrás, pois é ela quem cria um canal de contágio direto entre o mercado internacional e a bomba do posto de combustíveis e, de quebra, nos torna mais dependentes de importações. Sendo assim, enfrentar a inflação de combustíveis sem confrontar esse problema equivale a tratar a pandemia com cloroquina”, defende.

No mesmo sentido, o economista e ex-presidente da Petros, Henrique Jaeger, afirma que se o quadro não for revertido, toda a população brasileira, especialmente os extratos mais pobres da sociedade, sofrerão as consequências dessas decisões por um longo prazo. “O aumento contínuo dos derivados do petróleo impactará em mais inflação e no aumento da concentração de renda no país”, argumenta.

Antes de ocupar a Presidência, Bolsonaro se posicionava contra a atual política de preços da Petrobrás. Em vídeo que circula nas redes sociais, o então deputado advertia: “Acompanhar o preço internacional, com a minoria entrando aqui, isso é um mau-caratismo”.  Mudou?

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