A eterna Isaura estreou na televisão brasileira em 1976, mas deu início à carreira aos 14 anos. Em sua trajetória, brilhou nas telinhas e telonas e se mantém ativa como artista e militante política

 

 

A atriz Lucélia Santos teve sua estreia nos palcos, aos 14 anos, atuando na peça infantil “Dom Chicote Mula manca e seu fiel companheiro Zé Chupança”, uma adaptação abrasileirada da obra “Dom Quixote“, de Miguel de Cervantes.  Paulista de Santo André, no ABC, dali em diante não parou mais. Após um curso de preparação de atores, dirigido pelo célebre diretor teatral Eugênio Kusnet (1898-1975), participa dos espetáculos “Godspell“ e “Rock Horror Show“ e em seguida de “Transe no 18“.

Sua performance foi imediatamente percebida pelo autor de novelas Gilberto Braga e por Herval Rossano (1935-2007), que a convidaram para o papel de Isaura, uma escrava branca de origem afro, que protagonizou a novela de maior sucesso internacional na história da teledramaturgia brasileira até o momento.

Aladim Miguel, que acompanha a carreira da atriz e é o responsável pela montagem do acervo e do arquivo Lucélia Santos, diz: “A primeira vez que vi Lucélia foi justamente em sua estreia na TV, com Escrava Isaura, em 1976. Foi a partir desse momento que comecei a colecionar todo o material relacionado a sua carreira”.

O estrondoso sucesso da novela trouxe imediatamente um reconhecimento do grande público e da crítica especializada, fazendo a atriz ocupar capas de revistas, transformando-a do dia para noite em uma celebridade nacional.

A comercialização da produção pela Rede Globo para outros países — “Escrava Isaura” é a telenovela brasileira mais vendida de todos os tempos — levou Lucélia Santos a receber o Águia de Ouro, em 1985, considerado o principal prêmio chinês, outorgado pela primeira vez a um artista estrangeiro. A premiação é feita por voto popular e  Lucélia Santos teve 300 milhões de indicações. O reconhecimento internacional  fez a atriz virar protagonista de um filme rodado nos dois países: “Um Amor do Outro Lado do Mundo”.

Protagonista em papéis variados na TV brasileira, tanto na Globo quanto mais recentemente na Record, Lucélia teve grande presença no cinema nacional. Estrou na telona com dois filmes: “Já não se faz amor como antigamente” e “Ibraim do subúrbio”, ambos rodados em 1976. O último é “Mulher Oceano”, de 2020. A atriz estrelou ainda filmes que são considerados clássicos do cinema nacional, como “Luz del Fuego“, que lhe rendeu o Kikito de melhor atriz no Festival de Cinema de Gramado, “Fonte da Saudade“, “As Setes Vampiras“ e os impactantes “Engraçadinha” e “Bonitinha mas Ordinária”, inspiradas na obra de Nelson Rodrigues (1912-1980).

Seu papel como Engraçadinha, personagem que dá título ao filme, rendeu-lhe o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cinema de Brasília, em 1981. Lucélia voltou a receber a mesma premiação no em 1993 por sua participação no filme “Vagas para Moças de Fino Trato“, do cineasta Paulo Thiago, baseado na peça homônima do dramaturgo Alcione Araújo, também autor do roteiro.

“Eu considero Lucélia Santos uma atriz ímpar, que me conquistou pela entrega absoluta às suas personagens. Uma atriz que marcou época e abriu as portas do mundo para a nossa teledramaturgia encantando gerações“, aponta Aladim Miguel.

Atriz de presença cênica singular, Lucélia enfrentou e ultrapassou ao longo de sua carreira todos os tipos de estereótipos. Sua versatilidade a fez ser considerada como uma das principais intérpretes da obra de Nelson Rodrigues, considerado um dos maiores dramaturgos das artes brasileiras.

Filiada ao Partido dos Trabalhadores e apoiadora de suas campanhas desde a fundação ao partido, em 1980, e filha de um metalúrgico, Lucélia nunca se omitiu no enfrentamento contra as mazelas da sociedade brasileira. Participante ativa na campanha das “Diretas Já”, manteve sua coerência e ajudou o PT a enfrentar o seu pior momento: a prisão injusta e já revista judicialmente do ex-presidente Lula.

A atriz inclusive participou da vigília na frente da PF em Curitiba se solidarizando com Lula e protestando contra o arbítrio. Também foi uma voz forte a ajudar a divulgar internacionalmente o Golpe de 2016 que levou à deposição da presidenta Dilma Rousseff. Militante das causas feministas e contrária a toda forma de discriminação, a atriz é uma voz firme e contundente na luta contra o preconceito, o machismo, o racismo e a LGBTfobia, que vem sendo estimulada no atual governo.

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