Depois do flagrante do caminhão de ossos no Rio, da venda de carcaças em Santa Catarina, agora uma nova cena comove o país: brasileiros procuram restos de alimentos em caminhão de lixo. Uma cena corriqueira no país da desigualdade

 

No Brasil de Bolsonaro, em que 603 mil pessoas morreram de Covid, 14 milhões estão desempregados e 19 milhões não têm o que comer, um novo flagrante comoveu o Brasil na semana que passou. As imagens de pessoas em busca de comida em um caminhão de lixo em Fortaleza (CE) viralizaram nas redes sociais e chocaram o resto do país.

“A pandemia não trouxe a fome, mas intensificou a desigualdade. Sim, antes havia quem buscasse comida nos restos jogados fora, mas hoje existem mais pessoas nessa situação. Infelizmente, teremos mais episódios de pobres revirando lixo”, lamentou o economista Marcelo Neri, ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos no governo Dilma Rousseff

Feitas em 28 de setembro no bairro Cocó, área nobre da capital cearense, as imagens captadas somam-se às fotos recentes de caminhão que distribuía restos de carne e ossos no Rio de Janeiro e filas de pessoas em busca de doações de restos de ossos de boi em Cuiabá (MT). O flagrante no Ceará foi feito pelo motorista de aplicativo André Queiroz. No vídeo, homens e mulheres aparecem recolhendo alimentos descartados pelo comércio da Rua Bento de Albuquerque dentro do caminhão de lixo.

Uma funcionária do supermercado, que não quis se identificar, disse ao site UOL que a cena tornou-se corriqueira. Ela trabalha no local há cinco anos, mas conta que a situação piorou depois da pandemia. “Uma a duas vezes por semana, os moradores de rua vêm pegar comida aqui nesta rua, normalmente são frutas e verduras estragadas ou machucadas”, disse.

O Nordeste apresentou, em 2020, o maior número absoluto de pessoas em situação de insegurança alimentar grave, de acordo com o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19. São quase 7,7 milhões de pessoas nessa situação na região. No país, são 19 milhões.

No Ceará, cerca de 1 milhão de pessoas vivem em situação de extrema pobreza, com renda mensal total de até R$ 89, segundo dados do governo.

Em setembro, a fome levou moradores do bairro da Glória, no Rio de Janeiro, a disputar restos de carne e ossos em um caminhão que distribuía os produtos. Em outubro, em Santa Catarina, após açougues serem flagrados comercializando ossos de boi por até R$ 4 por quilo, o Procon teve que emitir uma recomendação aos estabelecimentos para que não comercializassem ossadas, permitindo apenas doações.

O preço da carne bovina acumula alta de 30,7% em 12 meses, segundo os dados mais recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Com alta da inflação e 14,1 milhões de desempregados, o consumo do alimento diminuirá em quase 14% neste ano, se comparado a 2019, antes da pandemia.

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