O Brasil atravessa um momento de turbulência política e institucional marcado por retrocessos civilizacionais, ameaça autoritária, investida do ultra-neoliberalismo sobre conquistas sociais, riquezas naturais e ativos econômicos do povo brasileiro. 

Tragédias ambientais, a distopia e o pessimismo colocam dúvidas quanto à nossa capacidade de sobreviver como sociedade e como nação livre e soberana.

A democracia brasileira, desde a Proclamação da República, é marcada por instabilidades. Golpes, tentativas de golpes, sempre a serviço das classes dominantes, vêm impedindo a consolidação de um sistema democrático apto a corrigir a gigantesca desigualdade e as mazelas nacionais.

O país não avança. Não aprimora a vida democrática e as relações sociais. O impacto do golpismo é incomensurável.

As soluções para tantos problemas devem ultrapassar as disputas políticas e econômicas imediatas porque demandam reflexão, conhecimento e elaboração.

Precisamos compreender o que impede a estabilização e o aprofundamento da democracia para construirmos uma sociedade com igualdade de direitos para todos os brasileiros e brasileiras.

Essa construção passa pela cultura para enfrentarmos chagas históricas, como as perversões escravagistas e a herança colonial que ainda nos definem e nos limitam.

Temos que pensar a cultura como argamassa da coesão e da identidade nacional; como espaço que abriga e processa as identidades culturais, regionais, étnicas, etárias, de gênero e quantas houver; como espaço de comunicação e de ressignificação de visões sobre a vida coletiva.

A cultura é porta de entrada no século 21 e oportunidade de inserção soberana do Brasil no mundo.  Precisamos construir uma cultura democrática, firmar um compromisso com a democracia, para a recomposição do pacto social rasgado no impeachment forjado da presidenta Dilma Rousseff.

A cultura deve compor a estratégia de emancipação e de superação dos impasses que vivemos. Pelos valores que agrega, por possibilitar uma visão generosa do mundo e da humanidade, por sua capacidade de promover diálogo, conhecimento, lucidez.

Os seminários Cultura e Democracia, promovidos pela Fundação Perseu Abramo e Friedrich-Ebert-Stiftung têm como ponto de partida nossa bagagem histórica de práticas e teorias. Devemos analisar momentos culturalmente marcantes, como a Semana de Arte Moderna de 1922, às vésperas do seu centenário. É importante revisitar todo o nosso processo cultural e, particularmente, a experiência criativa das artes, as políticas de Getúlio Vargas e o trajeto desde o fim da ditadura militar até hoje.

O legado dos governos liderados pelo Partidos dos Trabalhadores também será referência para reflexões e proposições, pois sua memória nos serve, não como culto a um passado idealizado, mas como experiência inédita de uma gestão que reconheceu o papel do Estado no desenvolvimento cultural e na democratização do acesso à cultura no Brasil.

Os seminários deverão acolher colaborações do universo intelectual, político e cultural que compõe a sociedade brasileira. Temos que promover um diálogo com enfrentamento de idéias e, ao mesmo tempo, reconhecer  territórios comuns que sedimentem uma base coesa em torno da democracia, capaz de ajudar o país a se reencontrar e a superar a distopia. Neste processo é recomendável reconhecer enganos, limites, erros e omissões.

Devemos refletir sobre a guerra cultural como parte de um projeto global antidemocrático e antipopular da extrema-direita, que promove a corrosão da vida civilizada, da democracia e das ideias de justiça e igualdade.

Estas são linhas gerais para nos conduzir nos seminários. Certamente, novos temas e questões serão apontados e incorporados. 

Sejam todos bem-vindos.

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