As cerca de 700 mil pessoas que tomaram as ruas no Brasil e no exterior contra o presidente Jair Bolsonaro, no sábado, 2 de outubro, colocaram a pauta do povo no centro da disputa política. É verdade que palavras de ordem contra a condução do governo federal na pandemia, que já vitimou mais de 600 mil brasileiros, estiveram presentes. Mas, o grande recado das manifestações foi o de que o povo não aguenta mais o desemprego, o aumento dos preços e a volta da miséria, da desigualdade e da fome.

O mote do “Bolsocaro”, que vai colando na imagem do presidente, é um péssimo sinal para governo, que perde apoio popular a cada nova pesquisa de opinião divulgada. Também demonstra o esgotamento da política econômica ultraliberal de Paulo Guedes, com a qual Bolsonaro parece não ter condições de romper.  Na pesquisa Quaest divulgada na última semana, o governo bateu recorde de avaliação negativa: 53%. E Bolsonaro atingiu a pior marca de avaliação positiva — 20%.

Essa mesma pesquisa apontou que a economia é principal problema do país para 44% dos entrevistados, sendo que 69% acreditam que a situação piorou no último ano. Além disso, 29% dos consultados consideram Bolsonaro totalmente responsável pelo desastre econômico e outros 25% apontam o ex-capitão como muito responsável pelo problema.

A indignação popular com a catástrofe social e econômica do governo Bolsonaro é comprovada pelos diversos indicadores do país. Sobre a volta da fome, no final de 2021, 116,8 milhões de pessoas estavam em condições de insegurança alimentar e 19,1 milhões passavam fome. Isso, em um cenário em que 2,2 milhões de famílias estão na fila de espera do Bolsa Família.

No Brasil de Bolsonaro, o desemprego assola mais de 20 milhões de pessoas. São 14,4 milhões de desocupados, 5,6 milhões de desalentados e 32,2 milhões de subutilizados, com o PIB patinando e registrando recuo de -0,1% no 2º trimestre deste ano. Para o próximo ano, não há sinais de melhora. Pelo contrário, a desigualdade tende a aumentar.

A inflação, especialmente sobre a vida dos mais pobres, é outro problema. Os aluguéis, por exemplo, foram majorados em até 31% para contratos com reajuste anual, em razão da indexação ao IGP. A situação dos preços dos alimentos, dos combustíveis e da energia elétrica é crítica.

 

Alimentos

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), referente às famílias com rendimento de um a cinco salários mínimos — R$ 1,1 mil a R$ 5,5 mil —, teve alta semelhante à do IPCA: 0,88% em agosto. Mas, no ano, o índice acumula alta de 5,94%. E, em 12 meses, de 10,42%. É muito acima dos 9,85% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Para essa faixa de renda, os produtos alimentícios subiram 1,29% em agosto, ficando acima do resultado de julho (0,66%).

A alimentação fora do domicílio (0,76%) também acelerou em relação a julho (0,14%), principalmente por conta do lanche (1,33%) e da refeição (0,57%). Todas as regiões metropolitanas registraram alta dos preços.

 

Combustíveis

Dados desagregados obtidos pelo Dieese/FUP com base no IPCA mostram que, nos primeiros oito meses de 2021, a gasolina teve alta de 31,09%. No diesel, o aumento acumulado foi de 28,02%. O etanol também registrou altas sem precedentes: 62,26% em 12 meses, 40,75% no ano, e 4,50% em agosto.

A deterioração da renda dos trabalhadores vai mais além. O gás de cozinha teve alta recorde de 23,79% nos primeiros oito meses deste ano, acumulando em 12 meses, até agosto, 31,70%.

 

Energia elétrica

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que é uma prévia da inflação oficial do país, avançou 0,89% na passagem de julho para agosto, enquanto a alta da energia elétrica foi de 5%.

No ano, enquanto o IPCA-15 acumulou alta de 5,81%, a alta acumulada nas contas de luz chegou a 16,07%, quase o triplo do índice geral. Já em 12 meses, a energia elétrica acumulou alta de 20,86%, mais que o dobro da inflação acumulada no período, que foi de 9,3%.

É evidente que apesar de estarem relacionados, em alguma medida, a causas externas, como o aumento do preço internacional das commodities, a estiagem, a variação cambial, entre outros, a disparada dos preços poderia ter sido minimizada por ações de governo Bolsonaro. Entretanto, o governo prefere apostar no aprofundamento da política neoliberal, que já está sendo revista e superada em democracias como a EUA (Plano Biden) e União Europeia (Next Generation).

Por isso, tudo o recado das ruas foi claro. O Brasil precisa avançar em um novo modelo de desenvolvimento justo, solidário e sustentável. E quem melhor representa essa esperança, de acordo com todas as pesquisas de opinião, é Lula.

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