Na CPI, Wagner do Rosário é acusado de fazer vista grossa sobre a Precisa Medicamentos, que tentou fraudar contratos no Ministério da Saúde. Após ofensa a senadora, passou à condição de investigado

 

Convocado à CPI da Covid após o depoimento do lobista Marconny de Faria, na semana passada, o ministro da Controladoria Geral da União (CGU), Wagner Rosário, teve dificuldades para explicar sua omissão no caso da Precisa Medicamentos, investigada por tentativa de fraude na venda da vacina Covaxin ao Ministério da Saúde. Ele foi acusado de prevaricação porque a CGU tinha informações sobre a atuação do lobista em esquemas de corrupção.

Arrogante, grosseiro e desrespeitoso com os senadores, Wagner Rosário tripudiou sobre sua função no serviço público para atuar como um advogado do governo Bolsonaro. O ministro negou superfaturamento de preço na venda da Covaxin ao Ministério da Saúde. A pasta suspendeu um contrato de compra de 20 milhões de doses da vacina por R$ 1,6 bilhão após a CPI denunciar o esquema. Ele mentiu ao justificar a inexistência de sobrepreço simplesmente porque não houve pagamento da compra do imunizante. A Covaxin foi a vacina mais cara oferecida ao governo, US$ 17 por dose.

“Fizemos contato com a própria empresa, a Bharat Biotech na Índia, fizemos verificações no site da própria empresa”, argumentou. Do ponto de vista técnico, a justificativa de verificação em site foi considerada uma afronta pelos senadores. “Vejam o quanto isso é ridículo. Teria sido melhor que a CGU se abstivesse de opinar”, condenou o relator Renan Calheiros (MDB-AL).

Em relação às investigações sobre Faria, envolvido na elaboração de um passo a passo para fraudar um contrato de compra de testes rápidos de detecção da Covid-19, Rosário saiu-se com essa: “Até 8 de julho de 2021, a CGU sequer possuía autorização para utilizar informações sobre Marconny Albernaz e Roberto Dias”, desconversou, referindo-se também ao ex-diretor de Logística da Saúde, envolvido na falcatrua das vacinas superfaturadas.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS) exibiu um vídeo de Rosário onde o ministro apresentou dados inverídicos sobre análise técnica das notas fiscais, as invoices da Precisa Medicamentos, usadas para aplicar o golpe no Ministério da Saúde. Para Tebet, a exposição apenas comprovou a omissão do ministro, que na interpretação da senadora, inverteu o papel técnico da CGU para acobertar irregularidades no governo. 

Rosário ofendeu a senadora ao dizer que ela estava “descontrolada” e deu início a um tumulto na sessão. Após suspensão dos trabalhos, Renan anunciou que Rosário passou à condição de investigado. Ao fim do depoimento, Tebet confirmou a atuação seletiva do ministro, agindo previamente para fiscalizar contrato com a fabricante da Pfizer, mas fazendo vista grossa para o da Covaxin, a preferida de Bolsonaro.

“Está comprovado, pelas próprias palavras do corregedor-geral da União, que havia um pacto no Ministério da Saúde, em 2020 e 2021. Tudo que fosse [sobre] aquisição de insumos e vacinas, a CGU seria acionada preliminarmente como órgão de fiscalização e controle. Ele comprovou que com a Pfizer foi assim, mas não com a Covaxin”, declarou Tebet.

“A CGU fez o dever de casa quando foi acionada mas ele, [Rosário] como ministro, não. Ele resolveu passar pano, deixar sua função para fazer uma defesa intransigente e equivocada do Ministério da Saúde e do governo federal”, disse.

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