O jantar do deboche

Um convescote reunindo a fina flor da elite paulistana — do doleiro Naji Nahas ao dono da Band, Johnny Saad —, na noite de segunda-feira, 13, é o retrato perfeito do Brasil de Bolsonaro. Um ex-presidente rindo do atual presidente, enquanto o filho de um ex-bolsonarista — ele próprio dublê de intérprete junto a Trump — imita Jair Bolsonaro de maneira boçal e caricata. À mesa, os comensais se engasgam nas próprias gargalhadas, com as bocas escancaradas, enquanto o garçom segue a servir vinho e uísque. Um ultraje a rigor.

A cena correu o Brasil a partir de terça-feira nas redes sociais e rendeu notas auto-elogiosas do aprendiz de marqueteiro Elsinho Mouco, responsável pela gravação do flagrante debochado em que Michel Temer (MDB) se escangalha de rir com a imitação tosca de Bolsonaro encenada por André Marinho, filho do magano Paulo Marinho, um bolsonarista de primeira hora que rompeu com o capitão em 2020 depois de comprar briga com os filhos do presidente, e agora posa de democrata.

O texto de André Marinho, que se notabilizou na emissora bolsonarista Jovem Pan, é um primor do pensamento do capitão: “E essa cartinha que eu recebi, é tua?”, diz André, olhando para Temer, que acena com a cabeça e sorri, abobalhado. “Achei ela meio infantil, meio marica, eu estou achando que foi o Michelzinho que mandou para mim”, afirma o aprendiz de comediante, referindo-se ao filho de 12 anos do ex-presidente.

“Cadê a parte que eu combinei contigo de queimar o STF? Cadê a parte que eu combinei de roubar as perucas do [Luiz] Fux [presidente do STF]? Cadê a parte que eu combinei de botar o pau de arara na Praça dos Três Poderes e dar de chicote no lombo de Alexandre de Moraes? Assim não vai dar!”, continua André Marinho. Na mesa, todos riem, enquanto a câmera de Mouco mostra os convivas.

Participam do jantar: Paulo Marinho, empresário, 1º suplente do senador Flávio Bolsonaro e hoje em SP engajado na campanha de João Doria; Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD; Johnny Saad, presidente do Grupo Bandeirantes; Roberto D’Ávila: empresário e apresentador da GloboNews; Tonico Pereira, ex-editorialista do Estadão; Naji Nahas, empresário suspeito de trambiques no mercado financeiro nos anos 90; e Raul Cutait: cirurgião do hospital Sírio-Libanês.