Empresa ligada à família Bolsonaro é acusada de adotar tratamento precoce a pacientes internados, mesmo sabendo da ineficácia do uso da cloroquina. CPI vai reconvocar diretor do plano de saúde macabro

 

A CPI da Covid decidiu na quinta-feira, 16, reconvocar Pedro Benedito Batista Júnior, diretor-executivo da operadora de saúde Prevent Senior. Ele recorreu recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para obter o direito de permanecer em silêncio durante a oitiva, mas há muito o que esclarecer. Documentos obtidos pela comissão apontam que a Prevent Senior adotou de forma indiscriminada aos seus pacientes a prescrição de remédios do chamado “kit covid”, comprovadamente ineficazes para o tratamento da doença.

Integrantes da CPI querem investigar as ligações entre o gabinete paralelo do Ministério da Saúde – grupo de assessoramento extraoficial de Bolsonaro que defende a imunidade de rebanho e o tratamento precoce –, e as práticas adotadas pela Prevent Senior durante a pandemia. As investigações do colegiado apontam que a médica Nise Yamaguchi e o empresário Carlos Wizard seriam alguns dos integrantes do chamado gabinete paralelo.

“Esse não comparecimento [à CPI] e a ida ao STF [para garantir o direito ao silêncio] é paradoxal. Afinal de contas, essas pessoas têm propalado que o trabalho desenvolvido por essa instituição é preciso, científico e o objetivo é ajudar a enfrentar a pandemia. Nada mais natural que essas pessoas quisessem vir aqui”, disse o senador Humberto Costa (PT-PE). “É uma contradição que eles tenham tantas coisas boas feitas e peçam ao Supremo para ficar em silêncio”, ironizou.

A Prevent Senior é investigada desde março pelo Ministério Público de São Paulo. O órgão abriu inquérito civil para apurar denúncia de associados que estavam recebendo o kit covid sem nem sequer terem confirmado o diagnóstico de Covid-19. A CPI também investiga a possível ocultação de mortes, por parte da Prevent Senior, de pacientes que participaram de um estudo realizado pela empresa para testar a eficácia da hidroxicloroquina, associada à azitromicina, para tratar a Covid-19. O estudo contou, inclusive, com o apoio explícito do presidente Jair Bolsonaro.

“Nós precisamos atentar para um fato muito grave desse pessoal da Prevent. Eles estão aqui, numa nota pública, veladamente ameaçando as pessoas que queiram contribuir com a CPI. Diz a nota: ‘A Prevent Senior vai pedir investigações ao Ministério Público de denúncias infundadas e anônimas levadas à CPI por um suposto grupo de médicos’. É grave. A pessoa não vem aqui e ameaça as pessoas que estão contribuindo com a CPI”, denunciou o senador Jean Paul Prates (PT-RN), líder da Minoria.

Ainda há outra suspeita pesando contra a Prevent Senior, que teria manipulado estudo sobre a eficácia da hidroxicloroquina associada à azitromicina no tratamento contra a Covid-19 e na divulgação dos dados, mortes de pacientes teriam sido ocultadas. A pesquisa começou a ser feita em 25 de março deste ano e, numa mensagem publicada em grupos de aplicativos de mensagem, o diretor da operadora, Fernando Oikawa, orienta os subordinados a não avisar os pacientes e familiares sobre a medicação.

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