A nova estratégia da direita na America Latina está coordenada com a estratégia imperial norte-americana. Consciente da impossibilidade de dar continuidade aos golpes militares, a estratégia da guerra híbrida consiste na corrosão interna dos sistemas políticos, para destruir os aspectos democráticos que tenham e impor um novo tipo de governo.

A estratégia se colocou em pratica no Brasil, na Bolívia, no Equador, com golpes de Estado distintos dos tradicionais. Os novos tipos de golpe começam com um processo de mobilização prévios, que preparam o clima para o golpe.

O excelente livro “Guerras hibridas”, do jornalista russo Andrew Korybko, publicado pela Expressão Popular, tem como subtítulo “Das revoluções coloridas aos golpes”. Estas são as mobilizações como as que se deram no Brasil em 2013, criando o clima politico e preparando as condições para o golpe de 2016.

A mídia internacional difunde, com destaque, dezenas de mobilizações simultâneas na manhã de domingo, 11, em Cuba, com palavras de ordem contra o governo. Está claro que se acumularam uma série de insatisfações, vinculadas às dificuldades de Cuba resolver os problemas econômicos básicos, desde o fim do campo socialista. A isso se soma, com aspecto determinante, o bloqueio econômico de mais de seis décadas, praticamente desde o surgimento da Revolução, em 1959.

Cuba não contava com meios próprios para industrializar-se, como era o projeto original do Che, no Ministério da Economia. Teve que acoplar-se ao campo socialista dirigido pela URSS, para o qual Cuba contribuía com açúcar e outros produtos primários, recebendo em troca recursos energéticos, armamento, entre outros produtos. Em compensação, Cuba teve que manter um modelo mais ou menos similar ao soviético.

Foi o período em que Cuba mais cresceu economicamente, em que mais as necessidades e os direitos do povo cubano foram mais atendidos. Esse período foi bruscamente rompido com o fim da URSS e do campo socialista, com todas as consequências negativas para Cuba. Desde então, sob o impacto dessa ruptura, Cuba conseguiu sobreviver, vivendo naquele momento mobilizações espontâneas de descontentamento de setores da população. O país contava ainda, naquele momento, com Fidel, que foi conversar, ouvir e argumentar com setores descontentes.

A partir daquele momento, Cuba sobreviveu, mas a econômica deixou de crescer, houve retrocessos nos avanços logrados no período anterior. Foram se acumulando descontentamentos em setores do pais.

O fim do campo socialista fez com que o criminoso bloqueio norte-americano seguisse ainda mais cruel nos seus efeitos negativos sobre a ilha. A tentativa foi inviabilizar a sobrevivência de Cuba sem o campo socialista. Fracassaram, mas os efeitos combinados da falta do apoio externo com o bloqueio, geram situações de insatisfação interna.

A politica monetária dupla – com uma moeda subsidiada para a compra dos produtos básicos e uma vinculada ao dólar, para os outros produtos —, que já havia se mostrado insustentável, tardou a ser modificada, sendo finalmente unificada já durante a pandemia. O que aumentou as dificuldades no poder de compra dos setores mais fragilizados da população – que coincide com os que não recebem ajudar de fora de Cuba.

As manifestações recentes se valem das insatisfações, inclusive de setores favoráveis à Revolução, para organizar – de maneira muito suspeita, pela simultaneidade das mobilizações, todas ao mesmo tempo, em lugares distintos da ilha – para organizar ações, tratando de impor-lhes palavras de ordem contra o governo. As dificuldades enfrentadas por Cuba durante a pandemia acrescentaram as insatisfações e favorecerem o clima para as manifestações.

Quem quer ajudar a Cuba, como disse com clareza o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, tem que batalhar para terminar o bloqueio norte-americano. Para que Cuba possa comprar no exterior, inclusive seringas e outros materiais sanitários, para combater melhor a pandemia.

O que é certo é não apenas que Cuba superará essa crise atual, apesar de todos os problemas acumulados ao longo do tempo, que se combinam agora com os problemas da pandemia. Assim como é certo que Cuba terá que procurar um outro modelo de construção do socialismo. Aquele herdado do período anterior já se havia esgotado com o fim do campo socialista.

Mas o que se esgota não é o socialismo, que permitiu todas as conquistas extraordinárias que Cuba viveu desde 1959. Para medi-las, basta comparar a situação de Cuba com a de países similares, como a República Dominicana, Jamaica ou mesmo o Haiti. O que Cuba tem que buscar criativamente é uma nova via de dar continuidade à construção do socialismo.

Cuba vive, da sua maneira, os efeitos da política imperial norte-americana sobre o conjunto da América Latina. Uma política que trata de brecar os intercâmbios muito positivos da China com grande parte dos países do continente. Uma política que trata de enfraquecer os processos de integração regional. Uma política que apoia os governos de direita e de extrema direita, que busca dar continuidade ao esgotado modelo neoliberal.

O governo norte-americano se preocupa com a situação do Peru, do Chile, da Colombia, do Brasil. E preocupa-se com os governos que vivem situações de instabilidade e com aqueles que avançam na superação do neoliberalismo e da dependência dos Estados Unidos. Impotente, porque os EUA não tem nada a oferecer aos países do continente, senão o neoliberalismo e a subordinação à política imperial.

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