O descontrole da pandemia e o aprofundamento da política neoliberal, promovidos por Bolsonaro, levaram o Brasil a uma situação dramática. Além dos 540 mil mortos e sequelados pela pandemia, são 14,8 milhões de desempregados, 33,3 milhões de subutilizados e 6 milhões de desalentados. A inflação foi de 8,06% nos últimos 12 meses, com os preços de energia, combustíveis e especialmente alimentos disparando e pressionando a vida dos trabalhadores e dos pobres.

Para piorar, o aumento da extrema pobreza e a fome se tornaram uma triste realidade para 14,5 milhões de famílias brasileiras. São pessoas que sobrevivem com renda de R$ 89 per capita por mês. Outras 2,8 milhões de famílias estão em situação de pobreza — vivem com renda mensal entre R$ 90 e R$ 178 para cada membro da família.

Nesse cenário de agonia e desespero, o apoio popular a Bolsonaro despenca nas pesquisas. Cada vez mais isolado politicamente, a maioria do povo considera o ex-capitão pouco inteligente, indeciso, incompetente, despreparado, autoritário e desonesto. Isso aumenta a pressão sobre o governo e parece comprometer de forma definitiva qualquer perspectiva de reeleição.

O trabalho estratégico da CPI da Covid no Senado fez ruir a última narrativa de Bolsonaro: um governo impoluto. Graves denúncias de propina e superfaturamento na compra de vacinas, envolvendo o líder do governo na Câmara, militares do alto escalão — e até um pastor evangélico —, apontam que o negacionismo na gestão da pandemia na realidade era uma grande negociata. Enquanto milhões de brasileiros morriam ou eram internados pela Covid-19, a compra de vacinas se tornou um grande esquema de corrupção.

Com os olhos da imprensa independente e do povo voltados para a degradação do presidente da República, a agenda de desmontes e de retrocessos avança quase que silenciosa e desapercebida no Congresso, especialmente na Câmara. O semipresidencialismo, o distritão e o voto impresso voltaram a assombrar a proposta de reforma política. A privatização da Eletrobrás já foi aprovada, retirando do Estado a principal ferramenta de gestão da política energética. Agora, os Correios são o próximo alvo.

Está em andamento ainda uma proposta de reforma tributária que aprofunda as desigualdades e beneficia setores como o agronegócio, mineração, imobiliário e mercado financeiro. Dentro os pontos alterados pelo Congresso com apoio de Paulo Guedes estão, por exemplo, o fim da possiblidade das empresas deduzirem o vale-alimentação da base de cálculo do Imposto de Renda, o retorno da elisão fiscal, a desoneração do IR das grandes empresas, desoneração do lucro imobiliário. E, mais uma vez, os muito ricos continuarão sem pagar impostos.

A superação desse cenário de caos gerado pelo desgoverno Bolsonaro passa necessariamente pelo enfrentamento da fome, do desemprego e da desigualdade. Os super ricos devem financiar a recuperação do país.

Por isso, é fundamental uma reforma tributária justa, sustentável e solidária, que tenha centralidade na progressividade do imposto de renda, na taxação de dividendos e juros sobre capital próprio, dos lucros imobiliários e dos muito ricos. São medidas fundamentais para a reconstrução do país.

Além disso, o Estado deve ser o grande agente indutor da recuperação econômica, com a retomada do controle de empresas estratégicas, da capacidade de investimentos e financiamento das políticas sociais. Já mostramos que sabemos como conciliar crescimento, estabilidade e justiça social. E é isso que voltaremos fazer com Lula em 2023.

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