Em meados de julho de 1961, entrava nos estúdios da Motown Records, mais precisamente no selo alternativo Tamla Records, na cidade de Michigan, um jovem de 11 anos de idade acompanhado de sua mãe. O garoto tímido e talentoso, de nome Steveland Hardaway Morris, e que por sugestão dos produtores adotou o nome artístico de Stevie Wonder, iniciava ali uma trajetória de sucesso que dura 60 anos.

A Motown havia sido fundada apenas dois anos antes, em 1959, pelo produtor musical Berry Gordy Jr. Negro, Gordy buscava investir no crescente e efervescente mercado da chamada black music, priorizando a contratação de jovens talentos afro-americanos e difundindo suas composições. Mas foi em 1961 que começava uma parceria que perdura até hoje: a Motown e Stevie Wonder.

Mesmos que artistas negros contemporâneos tenham obtido grande sucesso, a Motown foi a mais importante lançadora de talentosos músicos afro-americanos desde que surgiu. E também a gravadora lançou musicais que deixavam de lado o “mero lirismo” e partiam para a produção calcada em temas políticos e sociais.

Vencedor de 25 prêmios Grammy, Stevie foi ao longo de seus 60 anos de carreira empilhando um sucesso atrás do outro. Considerado pela unanimidade da crítica musical, um dos melhores músicos da atualidade, Stevie, cego desde o nascimento prematuro – sofre de retinopatia da prematuridade — desenvolveu sua genialidade exclusivamente com base na sonoridade.

Seu single de estreia “I call it pretty music” (Eu chamo isso de música bonita), abriu a possibilidade do lançamento nos dois anos seguintes de vários hits. O primeiro deles “Fingertips part 2”, gravado ao vivo, atingiu o primeiro lugar na parada musical na categoria pop e rhythm and blues.

Aos 18 anos, Stevie se muda para Los Angeles, onde busca desenvolver novos ritmos e novas influências musicais e começa a trabalhar com o produtor, maestro e arranjador Quincy Jones. Um mestre dos arranjos, Jones vinha de uma escola das big bands de Count Basie e Duke Ellington e tinha se tornado mundialmente conhecido como arranjador de Frank Sinatra.

A influência de Quincy Jones na obra de Wonder é decisiva na virada de sua carreira. A partir daí, a música do garoto prodígio começa a atravessar as fronteiras dos Estados Unidos e ganhar o mundo. A influência de Wonder na música contemporânea pode ser considerada a mais significativa. São incontáveis a quantidade de artistas mundo afora que se consideram influenciados, como o rei do pop Michael Jackson.

Além de exímio pianista e tecladista, Stevie é um profundo conhecedor e divulgador da gaita, instrumento tradicional da chamada música country e inserido na música pop e depois incorporado definitivamente ao rock e ao blues. Ele também foi um dos primeiros músicos a usar o sintetizado e o transformador de voz.

Ativista das causas sociais e raciais, o cantor nunca deixou de lembrar a saga dos negros em defesa dos direitos civis.  Apoiador do movimento Black Lives Matter, o cantor lançou recentemente “Can’t put in the hands off fate” e “Where is our love song”. Ambas tratam dos debates, controvérsias e desafios globais.

Mesmo sem Berry Gordy, que deixou a Motown em 1988, vendendo sua parte para a Universal, Stevie segue na gravadora. São 60 anos de parceria que perdura e revelou um artista que é mundialmente reconhecido como um dos maiores nomes da música pop.

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