Sejamos austeros: é o presidente que o quer. Aqui não é lugar para fazer comentários políticos ou econômicos, mas como o presidente se dirigiu aos brasileiros em geral, no seu discurso de terça-feira, eu me vi direta e quase pessoalmente atingido pela fala presidencial.

 

Sejamos austeros: é o presidente que o quer. Aqui não é lugar para fazer comentários políticos ou econômicos, mas como o presidente se dirigiu aos brasileiros em geral, no seu discurso de terça-feira, eu me vi direta e quase pessoalmente atingido pela fala presidencial.

Eu concordo com que devamos ser austeros. Aliás, sr. presidente, do jeito que a coisa vai, não nos resta outro recurso senão sermos compulsoriamente austeros. E somos austeros, naturalmente austeros, por uma razão muito simples: com que roupa não o sermos? Até achei um pouco engraçado esse negócio de se dirigir aos brasileiros em geral e dizer-lhes: sejam austeros. É mais ou menos a mesma coisa que chegar para o retirante nordestino, para o lavrador do Interior, para o operário do Brás ou de Santo André, para o favelado do Canindé e dizer: “Olhe, meu filho, você precisa parar com essa história de gastar muito, de beber “whisky”, de trocar o carro pelo último modelo, de viajar para a Europa todo ano, de usar casimira inglesa, de ter apartamento na praia. Seja austero: não gaste tanto dinheiro”.

O problema do brasileiro, sr. presidente, não é que ele deva ser mais austero: ele deve é ser mais de circo. Saber como pular na corda bamba e fazer as acrobacias necessárias para não pagar este mês a farmácia para poder pagar o açougue, e no mês que vem não pagar o açougue para pagar o aluguel. O problema todo está em como fingir que o dinheiro dá. Porque dar, não dá mesmo. Como disse há tempos o senhor Vão Gogo, o mal do brasileiro é que sempre sobra mês no fim do dinheiro.

A austeridade do presidente vai ter, imediatamente, três efeitos principais: aumentar o preço do trigo, da gasolina e do papel de imprensa, isto é, do pão, do ônibus e do jornal. Como não sou padeiro nem motorista, vou falar no papel de imprensa. Concordo inteiramente com que, numa sociedade ideal e utópica remotamente futura, o jornal possa vir a ser um luxo desnecessário. Mas por enquanto os jornais têm preenchido diversas funções: uma delas, aliás – falando assim só como exemplo- é a de fazer propaganda política para eleger os presidentes da República; outra função, por exemplo, é a de levar a todos os brasileiros em geral as falas do presidente sobre a austeridade econômica. No dia em que cada exemplar de jornal custar cinqüenta cruzeiros, sr. presidente, dificilmente os brasileiros em geral terão oportunidade de saber o que o presidente está fazendo em prol deles. E a mim parece, assim de momento, que nem todos os brasileiros têm aparelhos de televisão.

Mas em todo o caso, sejamos austeros. Por isso minha crônica hoje é mais curta.

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