Em 24 de julho de 2018, completam-se cem anos do nascimento de Antonio Candido, um dos maiores intelectuais brasileiros. Sua vasta obra tornou-se referência para estudos nas áreas de Literatura, Linguística, Sociologia, Antropologia e História. Entretanto, a sua carreira não se limita à esfera acadêmica.
Desde sua juventude, Antonio Candido esteve ligado a movimentos de esquerda, como, por exemplo, o Partido Socialista Brasileiro e o Grupo Radical de Ação Popular, integrado também por Paulo Emílio Salles Gomes, Paulo Zingg, Antônio Costa Correia e Germinal Feijó. Neste grupo, Candido ajudou a editar o Resistência, periódico de oposição ao Governo Vargas, durante o Estado Novo.
Posteriormente, participou do processo de fundação do Partido dos Trabalhadores. Em uma entrevista realizada por Eder Sader e Eugênio Bucci para a revista Teoria e Debate em 1988, Antonio Candido explica como foi a sua entrada no PT:
Nos anos da ditadura militar eu sempre fui contra a tese do voto em branco e votei invariavelmente em candidatos do MDB. O MDB me parecia ser a boa fórmula que permitia a união bem ampla das oposições, inclusive de esquerda. Lembro que ainda em 1977 cheguei a dar uma entrevista neste sentido a um jornal de Florianópolis. Participei de vários encontros prévios do grupo que formaria o PT, mas pensando que era melhor ficar no MDB, como faziam os comunistas. O que me fez decidir pelo PT foram apelos de Mário Pedrosa e sobretudo o ponto de vista de Febus Gikovate, que já estava doente e nos dizia que o PT seria o que nós tínhamos tentado em vão na mocidade: um partido nascido da classe operária, sem ortodoxia rígida, capaz de agregar de maneira democrática mas extremamente combativa os elementos progressistas da população. Ainda nas vésperas de morrer, em 1979, ele me aconselhou a entrar efetivamente no PT, dizendo mais ou menos: ‘Ele é o nosso partido; eu não vou para lá porque estou indo para outro lugar‘, que foi a maneira extremamente simples e comovente com que me anunciou a própria morte, que de fato chegou dois dias depois. Com esses estímulos de velhos companheiros e a minha própria convicção interior de que o PT era o primeiro partido brasileiro de esquerda nascido da iniciativa de operários e destinado a trazer afinal uma fórmula independente para a luta do socialismo, eu me decidi. Fui do grupo fundador e estava presente nas primeiras reuniões, no Colégio Sion. Entrei e não pretendo sair. (Teoria e Debate, nº 02, 01 de março de 1988)
A trajetória no interior do partido é extensa. Além de participar dos momentos iniciais de fundação do partido, Candido “nunca se furtou a discutir conosco os problemas que se colocavam no nosso caminho e estava sempre disposto a colaborar nos nossos projetos, quando era solicitado”(Depoimento de Zilah Abramo). Foi presidente do Conselho Curador da Fundação Wilson Pinheiro – constituída pelo PT em 1981 –, integrante do Conselho Editorial da Revista Teoria e Debatee também dedicou “apoio irrestrito”à Fundação Perseu Abramo “desde os primeiros dias de sua existência”(Zilah Abramo).
Dessa maneira, tendo em vista sua trajetória e longa participação política, a Fundação Perseu Abramo mais uma vez tem o prazer de homenagear Antonio Candido.
Em agosto de 1998, com intuito de celebrar o aniversário de 80 anos e homenagear a vasta trajetória acadêmica e militante de Candido, a Fundação Perseu Abramo em parceria com intelectuais da USP, Unicamp, Unesp promoveram o seminário “Antonio Candido: Pensamento e militância“, realizado em São Paulo nos dias 11, 12 e 13 de agosto. Deste seminário resultou o livro que carrega o mesmo nome, organizado por Flávio Aguiar, lançado pela FPA no ano seguinte, em 1999.
Em 2008, no contexto de 90 anos de seu nascimento, a revistaTeoria e Debate – do qual foi membro do Conselho Editorial – reuniu depoimentos de diversos militantes e intelectuais, como Alfredo Bosi, Celso Lafer, Paul Singer, Paulo Vannuchi, para homenageá-lo. Esses registros relatam sobresua relação com a academia, como intelectual e como integrante do Partido dos Trabalhadores. Para conferir na íntegra esses depoimentos, acesse aqui.
Ainda neste ano, AntonioCandido foi um dos entrevistados na obra Muitos Caminhos, uma estrela: memória de militantes do PT, lançado pela Fundação Perseu Abramo, cujoobjetivoera deixar registrado a memória oral dos “líderes que tiveram um protagonismo central na fundação do Partido” (2008,p. 09).
Nesse contexto de homenagens, o Centro Sérgio Buarque de Holanda publicou em seu site uma exposição com depoimentos contidos no livro Antonio Candido: pensamento e militância– atualmente esgotado –,e fac-símilesdas primerias edições de suas obras.Passados dez anos, reunimos novos documentos para integrar essa exposição em homenagem aum dos maiores intelectuais brasileiros. Além dosmateriais presentes na exposição de 2008, a equipe do CSBH incorporou documentosde seu acervo que refletem a memória militante de Antonio Candido nadécada de 1980, no contexto de sua participação política como intelectual no interior do partido, quando presidiu o Conselho Curador da Fundação Wilson Pinheiro. Trazemos também cartas e dedicatórias escritas por Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos, Oswald Andrade, entre outros, dedicadas a Candido. Reunimos também algumas fotografias que refletem alguns momentos da trajetória militantede Antonio Candido. De nosso acervo trouxemos sua participação no 2º Congresso Nacional da CUT em 1986. Também inserimos fotos de sua presença na inauguração da Biblioteca da Escola Nacional Florestan Fernandes – a quem agradecemos pela gentileza e colaboração no envio das imagens. A fala de Candido durante a inauguração da Biblioteca pode ser conferida aqui.
Abaixo os depoimentos dedicados a Antonio Candido:
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