Brasil e China assinam mais acordos. E os desacordos?
Via portal https://amanha.com.br/
O total de memorando entre os dois países nos últimos 25 anos está próximo de 230
Fecharemos o ano de 2024 com mais 37 acordos e memorandos assinados com a China. Ano passado foram 15. Em outubro de 2019, outro tanto. Entre 1999 e 2019, teriam sido 162. Somados, o total de acordos do Brasil com a China nos últimos 25 anos está próximo de 230. A burocracia governamental e diplomática dos dois países comprova assim sua eficácia, à altura da importância do Brasil e da China. Tantos acordos inevitavelmente levam a se perguntar quantos e como – e se – foram efetivamente realizados nesse período (1999/2024), e a cobrar a avaliação pública de cada um deles. E quais são e como estão os desacordos ainda existentes, que entrarão mais um ano como pendências.
Um acordo que ficou no papel foi o do Fundo de Cooperação “China-LAC Industrial Cooperation Investment Fund (Claifund)”, de US$ 20 bilhões, acertado em 2015 e criado em maio de 2017. Difícil de acreditar, mas é verdade: apesar da necessidade das empresas de dinheiro com custos baixos, pelo que se sabe essa montanha de dólares ficou intocada. Outro desacordo significativo diz respeito à liberação de visto para a população chinesa, a exemplo do que existe com vários países, inclusive Estados Unidos e Canadá. Se não há acordo para liberar, bem que poderiam ao menos agilizar sua emissão.
Entraremos em 2025 com dezenas de intercâmbios com universidades chinesas dos quais apenas uma parte está andando, por falta de recursos e/ou de interesse dos gestores acadêmicos, e os irmanamentos (“cidades-irmãs” e “províncias-irmãs”) assinados por governos municipais e estaduais com os seus equivalentes na China, que ficaram apenas no ato de assinatura dos acordos e respectivas visitas – em geral, sem a necessária preparação e acompanhamento posterior. Resta torcer para que prefeitos e prefeitas de grandes cidades em início de novo mandato se animem a tocar a cooperação com suas equivalentes chinesas, para dinamizar a economia local e proporcionar “n” oportunidades culturais, educacionais, esportivas e de trabalho para sua juventude. Os municípios menores, através de consórcios e agências regionais de desenvolvimento, podem fazer o mesmo, negociando em bloco com as megacidades chinesas. Seguimos com o desacordo histórico a respeito de qual órgão federal deve centralizar as ações (com estrutura e recursos suficientes) combinadas com a China. Esse hábito nos impede de ter a estratégia e a agressividade (no bom sentido) necessárias a fazer as coisas acontecerem, com o país que é responsável pelo maior superávit na balança comercial, a compra de um terço de nossas exportações e grandes investimentos em áreas vitais.
Viajando por boa parte da China entre maio e novembro, foi possível constatar, repetidas vezes, o desacordo em relação ao português de Portugal praticado por intérpretes chineses – dos quais não se pode reclamar, porque o Brasil não age para difundir a língua “brasileira” na China (e em outros países), a exemplo do que lusitanos fazem há séculos – e a China também, via Instituto Confúcio, hoje atuante em 12 estados brasileiros. Há desacordo inclusive em relação à qualidade do avanço comercial realmente ocorrido entre os dois países: de US$ 4 bilhões em 2001, para US$ 157 bilhões em 2023, mais investimentos diretos realizados no período. Vendemos (US$ 105 bilhões) para a China muito mais do que ela nos vende (US$ 52 bilhões), mas o faturamento do Brasil não resiste a uma análise comparativa de empregos e impostos gerados.
Agora, com a ofensiva europeia e dos Estados Unidos para diminuir as vendas chinesas em seus países, em tentativa atônita para evitar quebradeira de empresas, não se sabe o que poderá ocorrer em 2025, quando Trump assumir a liderança desse enfrentamento comercial, econômico, científico, tecnológico e em inovação com a China – e a substituição do dólar pelo yuan é só o começo, lembrando que o comércio exterior chinês movimenta anualmente mais de US$ 6 trilhões. Desses desacordos entre as grandes potências quanto impactará vendas, empregos e salários na indústria brasileira, que segue o setor mais vulnerável na relação desigual com a China?