Cúpula do Clima e as armadilhas para os países em desenvolvimento
Na segunda-feira, 26 de abril, o programa Pauta Brasil discutiu a Cúpula do Clima e quais foram suas decisões, as implicações geopolíticas e quais as responsabilidades do governo Bolsonaro em relação à situação atual e às diretrizes acordadas na Cúpula.
O programa recebeu o sociólogo Marcelo Zero, especialista em Relações Internacionais, e Olympio Barbanti, professor de Relações Internacionais da UFABC, membro do Observatório de Política Externa Brasileira da Universidade. A mediação foi de Jéssica Italoema, diretora da Fundação Perseu Abramo.
Marcelo Zero iniciou contextualizando as intenções dos Estados Unidos, que “estão muito preocupados com a liderança chinesa e vão fazer uso da agenda ambiental para reverter os desastres do governo Trump. Esse novo investimento na agenda ambiental tem relação com os interesses comerciais deles”, explicou Zero.
Para ele, “o Brasil fez a aposta errada, se aliou a Trump não só na relação climática, e tomou várias atitudes que fragilizaram a fiscalização, com perdão de multas, com o ministro Salles, o único antiambientalista do mundo”, ações que geraram inclusive o fim de apoios de cooperação internacional, o que prejudicou projetos de defesa do meio ambiente. Bolsonaro apresentou realizações e metas que foram construídas pelos governos do PT, “fez caridade com chapéu alheio”, disse.
A agenda ambiental é muito importante mas pode conter uma armadilha, alertou, “como as pressões que incluam retaliações comerciais e econômicas contra países que não se esforçarem para cumprir a agenda ambiental internacional. Mas por outro lado, os países mais pobres não dispõem da tecnologia necessária para fazer a transição para uma economia verde”.
A situação é grave. Nas duas próximas décadas, se nada for feito, não teremos mais como resolver problemas relacionados ao efeito estufa, por exemplo. Zero afirmou que as decisões neste debate devem se preocupar com uma “forma justa, que todos os países possam dar sua contribuição sem cair em disputas geopolíticas ou pressões econômicas e manter seus interesses de forma soberana no cenário internacional”.
O professor Olympio Barbanti comentou alguns pontos, a começar pela busca de reposicionamento dos Estados Unidos, em um tema que possa ser usado tanto na política externa como doméstica. Para ele, o tema ganhou status e tem por trás o interesse de reverter questões produtivas, de geração de emprego, na produção agrícola, com “formas de produção sustentáveis, de baixo carbono”, disse.
Barbanti acredita que Biden irá “financiar e apoiar os produtores e aumentar o custo dos produtos competidores, e isso para o Brasil é um grande problema, pois compete com os Estados Unidos na produção produção de carne e soja”. Ele ainda falou sobre bioeconomia e as influências no Brasil, a competição com a China, “que está tranquila pois tem assumido compromissos que não causam impacto na sua economia”.
Ele acha fundamental os debates sobre o mercado de carbono, “até porque agora os Estados Unidos querem esse mercado. Bolsonaro diz que vai diminuir quando na verdade aumentou as emissões de carbono”, disse. “Salles deixou pronta uma série de projetos para comercialização de créditos de carbono”, que segundo ele não são bons para o país.
Olympio disse que “não era de se esperar que fosse diferente”, sobre a ação do governo Bolsonaro na questão ambiental. “Para recuperar é preciso plantar. Mas não podemos transformar o país numa monocultura de eucalipto só porque irá atingir neutralidade e reduzir a emissão de carbono”, denunciou.
Assista a íntegra do programa Pauta Brasil aqui.
Pauta Brasil receberá especialistas, lideranças políticas e gestores públicos para discutir os grandes temas da conjuntura política brasileira. Os debates serão realizado nas segundas, quartas e sextas-feiras, sempre às 17h, e serão transmitidos ao vivo pelo canal da Fundação Perseu Abramo no YouTube, sua página no Facebook e perfil no Twitter, além de um pool de imprensa formado por DCM TV, Revista Fórum, TV 247 e redes sociais do Partido dos Trabalhadores.
O novo programa substitui o Observa Br, programa que era exibido nas quartas e sextas-feiras, às 21h. Clique aqui e acesse a lista de reprodução com todos os 66 programas.