Neste domingo, dia 6 de outubro, o Papa Francisco abriu o Sínodo para a Amazônia, no Vaticano, e em grande parte de sua fala o pontífice teceu críticas ao desmatamento e às violências sofridas pelo povo amazônico, em especial os indígenas. A ideia do fogo, relacionado às queimadas amazônicas, foi utilizado tanto para mensagens diretas, quanto em metáforas, como ao dizer que o mesmo foi “ateado por interesses que destroem”, que este “fogo está devorando povos e culturas”.

Rogando à Deus que preserve a todos da ganância dos novos colonialismos, alimentando-se da partilha, e não somente dos lucros, o pontífice declarou que o que pode sufocar a ação da Igreja na Amazônia são “as cinzas dos medos e a preocupação de ter que defender o status quo“, deixando claro que estes são dois fatores a serem enfrentados. O Papa acrescentou que a Igreja deve caminhar junto com o povo da Amazônia, que “carrega cruzes pesadas”. Para ele, é preciso ter prudência, mas não medo ou indecisão.

As pessoas assassinadas na Amazônia por sua atuação ativa em defesa da mata e dos povos locais também foram lembradas no discurso papal. O cardeal brasileiro Dom Cláudio Hummes, que é o relator-geral do Sínodo, pediu ao Papa que estes mártires sejam declarados santos, como a Irmã Dorothy Stang, religiosa norte-americana assassinada em 2005 por enfrentar os interesses locais escusos, no interior do Pará.

Não houve autocrítica do papa ao longo histórico da Igreja Católica no aculturamento dos povos indígenas. No entanto, recentemente o pontífice declarou que os padres locais devem respeitar a cultura indígena, o que inclui suas crenças e rituais, algo como uma igreja com rosto indígena. A controversa conversão de alguns indígenas em padres, mesclando inclusive rituais indígenas e católicos, e a consideração da possibilidade de nomear padres indígenas casados são exemplos deste movimento de aumentar a presença católica na região. A liderança de mulheres nas comunidades cristãs e o diálogo com evangélicos e outros grupos religiosos também serão pautas do Sínodo.

No encontro serão discutidos temas ambientais, sociais e próprios da atuação da Igreja Católica na região. Além do Papa e bispos, participam do encontro freiras, padres, estudiosos, membros da ONU e da Cúria Romana. Apesar da Amazônia estar presente em nove países da região, cerca de 75% dela está em território brasileiro. Em consequência, há muitos participantes brasileiros.

O atual governo brasileiro, que já declarou que iria monitorar o evento, não comentou as recentes declarações do Papa. No documento de pauta do Sínodo existem fortes críticas ao atual modelo de desenvolvimento da Amazônia. Segundo o mesmo, alguns dos pontos a serem debatidos são:

– A conivência de governos com projetos econômicos que prejudicam o meio ambiente;

– A complexa situação das comunidades indígenas e ribeirinhas, em especial os povos isolados;

– A exploração internacional dos recursos naturais da Amazônia;

– A violência, o narcotráfico e a exploração sexual dos povos locais;

– O extrativismo ilegal e/ou insustentável;

– O desmatamento, o acesso à água limpa e ameaças à biodiversidade;

– O aquecimento global e possíveis danos irreversíveis na Amazônia.

Em uma referência aparentemente mais próxima à atual realidade política brasileira, Francisco disse no evento de abertura que “o fogo devorador alastra quando se quer fazer triunfar apenas as próprias ideias, formar o próprio grupo, queimar as diferenças para homogeneizar tudo e todos”. De acordo com o cardeal Dom Claudio Hummes, quando as outras partes envolvidas nos temas amazônicos não estiverem abertas ao diálogo (governos e empresas internacionais, por exemplo), é função da Igreja “denunciar os problemas e propor novos caminhos”.

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