Ao contrário do que costumam propagandear os arautos do capitalismo, a luta de classes não apenas continua ardendo, como é cada vez mais bruta e desequilibrada. No filme do francês Stéphane Brizé, um retrato dramático desta realidade na batalha travada entre sindicalistas e administradores de uma empresa francesa que anuncia a transferência de sua produção para a Romênia, deixando 1.100 trabalhadores ao deus-dará.

O filme é tenso, sufocante e incômodo, como são as lutas sindicais e os movimentos grevistas da vida real. Em seus 113 minutos não há paz, nem momentos para respiro. Sob a liderança do sindicalista Laurent (muito bem interpretado pelo ator Vincent Lindon), os trabalhadores tentam de todas as formas evitar o fechamento de  uma fábrica em território francês. A despeito dos fortes argumentos que empunham (os lucros elevados nos anos anteriores; os benefícios fiscais concedidos pelo governo; o contrato coletivo de trabalho ainda vigente; entre outros) nem a mídia, nem o governo e muito menos a empresa lhes dão a devida importância.

No mundo das “cadeias globais de valor”, a luta entre o capital (cada vez mais desenraizado e imaterial) e o trabalhador (inexoravelmente preso ao local de produção e a sua condição humana) torna essa guerra muito mais difícil e complexa, concentrando ainda mais poder na mão dos primeiros. Levada ao limite, a dinâmica avassaladora do capital coloca a classe trabalhadora frente ao trágico paradoxo: a vida pela vida.

Ficha técnica:
Título original: “En Guerre”
Ano: 2018
Diretor: Stéphane Brizé
Elenco: Vincent Lindon, Mélanie Rover, Jacques Borderie, David Rey, Olivier Lemaire, entre outros.
País: França
Minutos: 113