Atualmente há mais adultos obesos do que abaixo do peso em todo o mundo. A obesidade dobrou em 73 países desde 1980. No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que 60% da população tem excesso de peso e a proporção de crianças obesas cresceu 270% de 1980 a 2015. Apesar de haver outros fatores que levam à obesidade, como genética, ritmo de vida e aumento da renda e do sedentarismo, é crescente o número de obesos com nutrição precária, diabetes e problemas cardíacos.

Para muitos especialistas da área, o aumento da obesidade está fortemente vinculado ao aumento de vendas de 25% dos alimentos industrializados de 2011 a 2016, e ao de refrigerantes carbonatados, que dobraram desde 2000. Uma das discussões internacionais sobre o tema trata de taxações específicas para estes produtos.

No ano de 2016, no Reino Unido, foi aprovado o imposto sobre o açúcar (UK sugar tax), que será cobrado das fabricantes de refrigerantes. Com isto, almejam arrecadar cerca de 520 milhões de libras que deverão ser investidos no melhor aparelhamento para esporte nas escolas.

No Brasil, o hábito passou de uma alimentação tradicional e diversificada para produtos multiprocessados. A conclusão é oriunda de levantamentos e entrevistas com estudiosos do tema feitas pelo jornal americano The New York Times. Esta mudança também é perceptível na forma como são produzidos, distribuídos e anunciados os alimentos.

As consequências são aumento da obesidade, doenças e prejuízos aos setores de alimentação tradicionais que não se adaptaram à nova cultura alimentar, fazendo com que agricultores troquem a produção de alimentos de subsistência por outros mais rentáveis, como cana-de-açúcar, milho e soja, ingredientes base de muitos alimentos industrializados.

As vendas destes alimentos ultraprocessados ​mais do que duplicaram na última década, apoiadas, inclusive, pela melhora do padrão aquisitivo, bem como a comodidade, prestígio e, por vezes, sabores que tais produtos propiciam.

Além de táticas agressivas de marketing, que em outros países são proibidas, a venda direta de porta em porta é uma das estratégias de grandes empresas como Nestlé, PepsiCo e General Mills. Desta forma, conseguem ir até a periferia de difícil acesso em grandes cidades ou nos locais mais remotos do país, onde só se chega por barco ou por trilha.

O poder das grandes indústrias de alimentos também se reflete na capacidade de influenciar as decisões políticas. De acordo com o estudo mencionado, “a última ameaça veio do presidente Michel Temer,… cujos aliados conservadores do Congresso estão procurando impedir uma série de regulações e leis cuja intenção é estimular uma alimentação mais saudável”.

Também salta aos olhos o relato, em 2000, da então diretora de nutrição do Ministério da Saúde, Denise Coitinho, que afirmou ter recebido pressão da Nestlé para que o país não pressionasse a Organização Mundial de Saúde a recomendar o aumento amamentação de quatro para seis meses. Segundo ela, “dois meses podem não parecer tanto, mas significam muita receita. Representam muita venda”.

Leia aqui reportagem do Jornal The New York Times é https://goo.gl/rgLygu.

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