Neste ano, o feriado de Sete de Setembro foi de sol, calor e muita luta em São Paulo. Pelo 23º ano, o Grito dos Excluídos tomou as ruas para gritar que a Independência ainda não chegou para grande parte da população.

Em 2017, o grito de indignação dos brasileiros excluídos foi ainda mais forte, pois chega num momento de retrocessos e perda de direitos do povo mais pobre do país, no contexto de um governo golpista em Brasília, mas também de ataques no plano estadual, com Alckmin, e no municipal, com Doria.

Os mandatários das três esferas de poder foram os principais alvos do protesto de mais de 15 mil pessoas, organizado pela Central de Movimentos Populares (CMP) São Paulo. Movimentos de moradia, de funcionários públicos, mulheres, juventude e outras categorias começaram a se concentrar às 9h da manhã de sol na Praça Oswaldo Cruz, no começo da Avenida Paulista.

“Povo sem saúde, educação, trabalho, cultura, não é independente”

Lideranças se revezavam para fazer suas falas no carro de som, intercalando com música para animar o povo de luta de São Paulo e de toda a região metropolitana. “É muito importante o Grito dos Excluídos nesse ano com a situação peculiar que é essa crise econômica. Já são 14 milhões de desempregados, uma crise social com o corte dos recursos, crise política que afeta todas as instituições, a perda de soberania”, elencou Raimundo Bonfim, coordenador-geral da CMP.

Sobre o simbolismo do Sete de Setembro, Raimundo disse: “é um dia pra gente dizer que, não obstante em 1822 terem declarado formalmente a independência do Brasil, até hoje o povo não adquiriu sua verdadeira independência, porque um povo que não tem acesso a saúde, educação, trabalho, cultura, não é um povo independente”.

Como aconteceu nos 22 anos anteriores, a bancada do PT na Câmara de Vereadores, Assembleia Legislativa e Congresso Nacional estava na rua dando seu apoio às lutas dos movimentos sociais.

A vereadora da capital Juliana Cardoso afirmou que infelizmente os movimentos golpistas avançam na consolidação da venda do patrimônio público. “Na cidade de São Paulo, esse prefeito fake, que vem fazer turismo na cidade, tá querendo vender todo o nosso patrimônio público, parques, cemitérios, mercados. Vamos ter que tirar mais recurso de onde a gente não tem pra pagar por esses serviços”.
Alencar: “Temos um governo estadual que trata os bairros ricos melhor”

O deputado estadual Alencar Santana lembrou dos ataques já habituais da Polícia Militar comandada por Geraldo Alckmin contra o povo da periferia. “Temos um governo estadual que trata os bairros ricos melhor, mas trata os bairros da periferia de uma maneira ruim. A escola estadual de uma região mais nobre é mais cuidada do que a da ponta, a estação de trem e metrô, o tratamento da polícia, admitido pelo comandante da Rota, é de exclusão”, afirmou.

À reportagem da Agência PT de Notícias, Alencar afirmou que, neste ano, o Grito dos Excluídos representa o grito dos que estão sofrendo com as políticas do governo Temer. “É um grito por justiça, mas pela justiça real, social, que considera o povo com sua diversidade e trabalha pra reparar erros históricos”, disse.

Fiorilo: “inadmissível continuar convivendo com um governo ilegítimo”

Paulo Fiorilo, presidente estadual do PT, falou em nome do partido no carro de som do Grito dos Excluídos. “Infelizmente estamos no momento mais triste da nossa história, porque os direitos dos que mais precisam estão sendo retirados à luz do dia. A gente viu em Brasília, com o golpe na Dilma e esse governo golpista retirando direitos com a reforma trabalhista, inadmissível que a gente continue convivendo com um governo ilegítimo e que quer agora fazer a reforma da previdência manchado pela corrupção, pelas malas de dinheiro do Geddel”, afirmou.

Fiorilo lembrou que na cidade de São Paulo não é diferente. “O Doria tá fazendo da cidade um trampolim pros seus objetivos principais. É importante que haja um plebiscito pra perguntar se alguém quer vender o que foi construído com nosso dinheiro”, lembrou. Um abaixo assinado para a criação de um plebiscito para que o povo escolha se quer ou não privatizar o patrimônio do município circulou entre o público do ato.

À Agência PT, o presidente estadual do partido também afirmou que o Grito dos Excluídos acontece em 2017 num momento muito importante. “estamos vendo retirada de direitos dos que mais precisam, com o governo golpista do Temer, retirada dos direitos trabalhistas, no estado o Alckmin privatizando as empresas e aqui em São Paulo o Doria, com um projeto nacional, querendo vender a cidade”.

Zarattini: “governo golpista tirou uma mulher honesta do poder pra botar uma gangue”

O líder do PT na Câmara, deputado federal  Carlos Zarattini (SP), também falou ao público e lembrou: “estamos hoje no dia da Independência do Brasil, mas esse governo golpista, que tirou uma mulher honesta do poder, pra botar uma gangue, uma quadrilha de ladrões que estão saqueando o Brasil, entregando a riqueza, o petróleo, as jazidas de ouro, o minério de ferro, cobre. Temos que continuar a lutar pra tirar esse governo e restaurar a democracia no Brasil e reinaugurar um novo ciclo onde as pessoas tenham direito à moradia, ao emprego, educação e saúde de qualidade”.

Zarattini disse à reportagem que, em 2017, o Grito dos Excluídos significa a resistência, “contra a retirada de direitos trabalhistas, o fim da previdência, que na prática é o que o governo Temer quer, a defesa da soberania nacional, das nossas riquezas como o petróleo, da nossa Amazônia, das nossas empresas estatais”.

O líder do PT na Câmara afirmou que a luta é, principalmente, pelo direito à democracia. “Nós temos que lutar para ter eleições livres em 2018 e eleição livre significa Lula poder ser candidato, porque o que eles querem fazer é tirar Lula do páreo para que eles possam dominar e continuar retirando nossas conquistas”.  Zarattini disse que a independência do Brasil tem que ser conquistada no dia a dia. “O Brasil sofre muito, pois é expoliado por interesses estrangeiros, que vem aqui e levam sempre nessa riqueza, desde 1500”.
Teixeira: “temos que defender o direito de Lula ser candidato a presidente”

O deputado federal Paulo Teixeira (SP)  foi outro representante do PT que falou no Grito dos Excluídos. “Hoje é um dia de luta daqueles explorados por essa estrutura capitalista que vem aprofundando a cada dia que passa a exploração em nosso país. O golpe dado contra a presidenta Dilma não foi pra tirar o PT do governo, foi pra aumentar a exploração em nosso país, retirar os direitos, a previdência que é uma conquista de mais de 60 anos, retirar a soberania nacional e entregar nossas riquezas, nosso petróleo do pré-sal, nossa Amazônia, nossos minérios e nossas empresas pras multinacionais estrangeiras”.

“Vamos resistir a esse golpe, e pra resistir temos que defender a democracia, o direito do povo votar e, principalmente, temos que defender o direito de Lula ser candidato a presidente da república pra gente voltar a dirigir esse país. Uma eleição sem Lula é fraude que não podemos aceitar. O que a gente tá vendo hoje é a tentativa de cassar o direito de Lula ser candidato”, completou Teixeira.

O deputado também falou com a Agência PT de Notícias e afirmou que o Grito dos Excluíodos se torna ainda mais importante com um governo de exclusão. “Tirou de milhões de pessoas do Bolsa Família, ampliou o desemprego, está tirando direitos do povo brasileiro e entregando riquezas do Brasil pros estrangeiros, minas de ouro, o petróleo do pré-sal. Teixeira admitiu que estamos perdendo soberania, mas demonstrou confiança que “o povo na rua vai restaurar a democracia no Brasil, tirar os golpistas e recuperar os direitos do povo brasileiro”.
Wellington Cesário, morador de rua: “estão querendo limpar e privatizar

O povo mais humilde de São Paulo compareceu em peso para defender seus direitos no Grito do Excluídos. Wellington Cesário, representante do movimento das pessoas em situação de rua, afirmou estar lutando contra “toda a injustiça desses partidos de direita, que eles estão querendo limpar e privatizar,tirar famílias da favela dando borrachada e matando um monte de gente”. Wellington lembrou de um caso recente. “O Ricardo, morador de rua, foi assassinado em Pinheiros e eles querem limpar pra não ter morador e esconder, gente que vota, tem título de eleitor, a gente é ameaçado por militares e donos de supermercados”, afirma. Ele lembrou ainda da ação desastrosa do João Doria na Cracolândia. “Esse prefeito está tirando os abrigos, está querendo tirar as famílias da Favela do Moinho e não tem vaga nem pra por metade da população que hoje paga aluguel”.

O Grito dos Excluídos teve nesse ano a “ala das panelas”. Genilce Gomes, moradora do Ipiranga e membro da coordenação da Central de Movimentos Populares Municipal, explicou a simbologia das panelas. “A panela já está presente na história do Brasil, lá nos anos 1980 os movimentos pegaram a panela como símbolo daquele momento de arrocho, em que as panelas estavam vazias. De 2014 até o golpe, a elite pegou a panela pra dizer que havia uma crise nesse país. Na verdade não existia a crise que a gente tá vivendo hoje, e agora retomamos a panela como símbolo pra dizer que realmente as panelas estão vazias, e aqueles que pegaram a panela estão em casa pois estão com a barriga cheia e agora o povo brasileiro foi jogado numa crise”, afirmou.

Às 11h, o Grito dos Excluídos ganhou as avenidas Paulista e Brigadeiro Luís Antonio, com muita animação, música, gritos de guerra, bandeiras, faixas, cartazes e fumaça colorida, até o Monumento às Bandeiras, onde terminou com a leitura da Carta do 23º Grito dos Excluídos. Por mais um ano, o povo brasileiro deu seu grito contra a injustiça social.

Mobilização nacional

Os atos do Grito dos Excluídos foram realizados também em Dourados e Campo Grande, no Mato Grosso do Sul; nas capitais de Porto Alegre, Curitiba, Manaus, Porto Velho, Rio de Janeiro e Fortaleza; nas cidades de Cascavel (PR), Eunápolis (BA), Campina Grande (PB), Juiz de Fora (MG); e também em cidades do interior de São Paulo, como Campinas e São José do Rio Preto

Da Redação da Agência PT de notícias/Rede Brasil Atual

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