Evento do CSBH trouxe o sociólogo para conferência no dia 13, como parte das Etapas Livres do 5º Congresso do PT

Como Etapa Livre do 5º Congresso do Partido dos Trabalhadores, o Centro Sérgio Buarque de Holanda (CSBH) realizou na quarta-feira, 13, na Universidade de São Paulo (USP), a conferência Marxismo e romantismo revolucionário, de Karl Marx a José Carlos Mariátegui, com o professor Michael Löwy. Parte do I Encontros de Memória e História do CSBH, o evento no Departamento de História da univesidade contou com a participação da diretora da FPA Luciana Mandelli e do professor da USP Jean Tible.

Michael Löwy aborda o romantismo revolucionário em palestra na USP

Mandelli, Tible e Löwy (da esq. para dir.)

Luciana explicou que a conferência abre o ciclo de debates do CSBH, que terá sua próxima etapa em Salvador (BA), nos dias 27 e 28. “A função do Memória e História é reorganizar uma série de debates internos para o PT, para ouvir e fazer o confronto de ideias”. Tible agradeceu a presença do público, alunos e professores, e apresentou Löwy – sociólogo, professor emérito e diretor no Centro Nacional de Pesquisa Científica (Centre National de la Recherche Scientifique) da França.

Löwy abriu sua palestra contextualizando o romantismo. “Não é somente uma escola literária do começo do século 19. Encontramos romantismo em todos os campos: poesia, filosofia, teoria política, antropologia, até na economia política. É uma visão de mundo. Partindo de uma análise marxista, é um protesto cultural contra a civilização capitalista moderna, contra a economia burguesa.”

Para o professor, o romantismo é uma galáxia bastante heterogênea politicamente, mas com dois pólos: um conservador, passadista, restauradora do passado; e um romatnismo revolucionário, uma volta pelo passado em direção ao futuro utópico, pós-capitalista. Este último, portanto, uma visão dialética, se refere ao passado pra atacar o presente burguês com vistas ao futuro. Rosseau seria, assim, o primeiro grande pensador romântico, por ter abordado as origens das desigualdades entre os seres humanos, para ele o homem selvagem era livre e o contemporâneo, um escravo.

Michael Löwy aborda o romantismo revolucionário em palestra na USP

“Teremos, então, a relação Marx-Engels com o romantismo. Marx não era romântico, mas interessado no romantismo. Ele vai se inspirar em parte nos seus argumentos. Para ele, em estágios anteriores do desenvolvimento, existia uma maior plenitude dos indivíduos, mas seria ridículo ter nostalgia disso tanto quanto na crença de que é preciso permanecer no atual completo esvaziamento”, afirmou Löwy. Marx teria dito que aprendeu mais sobre a burguesia com Balzac e Dickens do que com textos de estatísticos, por exemplo.

Quixotismo
Segundo o professor, Marx-Engels é uma superação dialética do romantismo, mas é um dos componentes dessa dialética. Após, haveria os marxistas-românticos, no fim do século 19, sendo o primeiro deles, o escritor William Morris (autor de Notícias de Lugar Nenhum, publicado pela Editora FPA). A partir daí e de outros movimentos culturais inspirados pelo romantismo, como o surrealismo, Löwy cita o que para ele é o mais importante exemplo latino-americano, o pensador peruano José Carlos Mariátegui (1894-1930). “Um romancista romântico, um marxista convicto e confesso, como dizia.”

“Ele sempre se opôs à filosofia racionalista, ao culto supersticioso ao progresso. Opõe a isso o retorno ao espírito de aventura, ao quixotismo, numa citação a Unamuno. Para ele, na história do Peru e da América Latina, antes dos espanhóis, havia uma sociedade que tinha aspectos comunistas. Um comunismo inca. No nível das comunidades de base havia uma igualdade, uma espécie de democracia. Tese foi tratada de romântica, idealista, antimarxista, antimaterialista. Mas Rosa Luxemburgo também tratou do ‘comunismo inca’, do comunismo primitivo. Ela cita textualmente o exemplo peruano.”

Löwy complementou, retornando ao tema da volta ao passado como crítica ao presente e com vistas a um futuro melhor: “Não podemos restaurar o império inca, mas lutar pelo comunismo apoiando-nos nestas tradições primitivas incas seculares. O socialismo afinal está na tradição da história americana. Não queremos que seja cópia de uma matriz exterior, temos que dar vida a nossa própria linguagem, um indo-socialismo, não pode ser uma cópia, como muito se fez depois”. Após a explanação do professor, seguiu-se um debate com o público.

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Fotos Marcelo Vinci