Primeiro dia do evento contou com participação de lideranças políticas e especialistas que debateram quatro eixos temáticos 

Seminário da FPA apresenta dados e oferece propostas para a Amazônia

A Fundação Perseu Abramo deu início nesta quinta-feira (5) ao “Seminário: Amazônia e Mudanças Climáticas – Soberania, Sustentabilidade e Inclusão no Desenvolvimento Nacional” com objetivo de debater temas urgentes e oferecer propostas que serão apresentadas aos parlamentares do Partido dos Trabalhadores e também durante a COP30.

A organização do evento, que contou com transmissão ao vivo pelo canal do YouTube da FPA, é do Núcleo de Acompanhamento de Políticas Públicas – Ciência, Tecnologia e Informação (NAPP CT&I). Na primeira parte da iniciativa ocorreu a mesa de abertura e outras quatro com os eixos Desenvolvimento Territorial Sustentável, Mudanças Climáticas e Biodiversidade, Governança e Compromissos Internacionais e Ciência, Tecnologia, Formação e Inclusão. As palestras continuam nesta sexta-feira (6) com novos temas.

Durante a mesa de abertura, o presidente da Fundação Perseu Abramo, Paulo Okamotto, falou sobre a importância do seminário para superar os desafios do meio ambiente que estão em curso. “Esse  seminário tem como objetivo a gente organizar e articular os conhecimentos que já temos sobre a questão da emergência climática, questão do meio ambiente, nossas propostas sobre desenvolvimento  sustentável e com isso oferecer um produto final que permita que o Partido dos Trabalhadores se posicione de maneira segura”, afirmou. 

A atividade irá abordar o desenvolvimento da região amazônia, desenvolvimento inclusivo que respeite o meio ambiente e o território e que gere riqueza para a população local. 

Já Airton Faleiro, deputado federal (PT/PA), elogiou a oportunidade de conversar sobre pontos tão importantes e formular um documento que colabore com as pautas consideradas prioritárias na questão do meio ambiente e da Amazônia. “Nós temos um marco temporal de curto prazo que é a COP30 e ao mesmo tempo o restante da gestão Lula para colocar em prática aquilo que acreditamos. Temos que pensar também a longo prazo e nas demandas que essas questões exigem. Um desses pontos é pensar na questão da industrialização na Amazônia que se encontra muito defasada”, pontuou.

Luiz Antonio Elias, coordenador do NAPP de Ciência e Tecnologia da FPA, falou sobre a necessidade de olhar os desafios da região para aquilo que considera mais importante. “O presidente Lula anunciou o maior aporte já repassado para o Fundo Amazônia, são oitocentos milhões de reais, quer para preservação, quer para o monitoramento ou contra o desmatamento. Isso é fundamental para que tenhamos clareza sobre o que o atual governo está fazendo para a região. A Amazônia tem uma centralidade muito grande na questão da estabilidade climática. O seminário vai ser importante para discutir essa centralidade, mas também para estabelecer proposições políticas”.

Pedro Silva Barros (FPA), que é técnico de Planejamento e Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), reiterou a importância de voltar todos os esforços para a COP30 no Brasil, que pode ser um marco balizador nas lutas pelo meio ambiente. “A exposição midiática do evento dá ao país um passivo na questão da devastação da Floresta Amazônica e como é possível reduzir esses índices. A gente tem que inverter esse discurso e ver a COP30 como uma oportunidade, mas para isso precisamos atualizar as nossas agendas, principalmente para os amazônidas que não estarão nas mesas de debate. São eles que mais precisam do país neste momento”. 

Eixo 1: Desenvolvimento Territorial Sustentável

Palestrantes: 

Ana Claudia Cardoso,  UFPA

“Cada vez mais temos evidências de que a floresta é o patrimônio. Temos pesquisa mostrando que só 10% do território do mundo não teve manejo e aqui na Amazônia temos todo esse território manejado por muitos povos e que trouxeram para a gente muitos recursos e isso nunca foi devidamente creditado. Nós não temos aqui pirâmides mas temos uma floresta tropical que é um verdadeiro manancial de recursos que a gente ainda não compreendeu e não consegue dar o devido valor”.

Alcineide Piratapuya, UNB 

“Acho que precisamos reforçar a importância da demarcação de terras indígenas. Isso garante entre outras coisas o direito originário sobre terras tradicionalmente ocupadas, protege a cultura, a identidade e a autonomia dos povos. Também é importante pensar nos mecanismos de inclusão e sustentabilidade que tem como pilares estratégicos fatores como a desintrusão, que é a remoção de ocupações ilegais, a autogestão de recursos naturais e a conciliação de saberes tradicionais e de sustentabilidade”.

Bruno Malheiros, UNIFESSPA

Preparei uma reflexão: a Amazônia é uma zona de sacrifício do Brasil? É preciso falar sobre as falsas saídas sustentáveis que estamos vendo e outras frentes capitalistas que adentram a Amazônia neste contexto do capitalismo verde. Mas também quero apresentar um lado mais otimista com o tópico ‘Construindo horizontes amazônicos ao Brasil’ e ao mundo, oferecendo caminhos para o desenvolvimento da região sem que isso ocorra de maneira predatória”.

Eixo 2: Mudanças Climáticas e Biodiversidade

Palestrantes: 

Gilberto Câmara, INPE 

“Com o Bolsonaro tivemos a demissão do presidente do INPE, mas curiosamente o instituto continuou a emitir seus relatórios. Isso nos leva à reflexão sobre o papel do Estado no sentido de manter os trabalhos realizados. O primeiro ponto é a construção de uma cultura baseada no mérito. O Inpe é uma instituição que é baseada no mérito, no bom sentido da palavra. Foi assim na decisão de construir um comitê que é reconhecido tecnicamente. É preciso entender esses mecanismos para saber o que se pode e o que se deve fazer na questão ambiental utilizando ferramentas do Inpe”.

Pedro Paulo Zahluth, Unicamp 

Já existe uma discussão relativamente madura no governo e também dentro do Partido dos Trabalhadores sobre o que fazer com a Amazônia. As discussões precisam ser organizadas de maneira que pensemos em como os investimentos estão sendo aplicados na região. Certos projetos de infraestrutura na Amazônia, se não forem pensados de antemão, irão colocar uma fronteira de expansão que pode não sair do papel. Isso é o que pensamos sobre bioeconomia”.

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Eixo 3: Governança e Compromissos Internacionais

Palestrantes:

Marilene Corrêa, UFAM

“Só a Fundação Perseu Abramo trouxe temas tão sensíveis e tão profundos para o debate coletivo da Amazônia e das interlocuções do governo. Isso tudo incluindo sujeitos que hoje estão gabaritados para discutir questões como o grande avanço da fronteira do agro naquela região. Temos que retomar aqui um assunto que já foi muito caro para todos nós que é a questão da geopolítica da Amazônia, ou seja, a análise das relações de poder com espaços geográficos carece de um aprofundamento”.

Luiz Marques, Unicamp

“Nos últimos 20 anos, a atmosfera acima da Floresta Amazônica vem secando, deixando os ecossistemas vulneráveis a incêndios e secas. Observamos que nas últimas duas décadas houve um aumento significativo da aridez na atmosfera, assim como da demanda por água acima da floresta. Comparando essa tendência determinamos que a mudança na aridez atmosférica está bem além do que seria de se esperar levando em conta apenas a variabilidade natural do clima”.

Eixo 4: Ciência e Tecnologia, Formação e Inclusão

Palestrantes:

Raimunda Monteiro, UFPA

“Nós temos um marco orientador de política de desenvolvimento no país, e que a tradução amazônica deste material pode ser um passo importante para evolução de toda a região. Se a gente pegar a Política de Desenvolvimento Regional nacional é preciso traduzi-lo para a questão da Amazônia. Estamos falando de estados que não têm mais florestas nativas e que precisam de um plano para que esse desenvolvimento aconteça da melhor maneira possível”.

Nilson Gabas, MPEG

“Eu continuo batendo na tecla que os institutos relacionados à Amazônia precisam de investimento e mão de obra. É difícil falar de recuperação da região sem políticas claras de recursos humanos e aporte financeiro. Outro ponto é pensar em parcerias científicas internacionais de tecnologia. Precisamos fazer com que quem pensa na Amazônia olhe para o trabalho que está sendo realizado mas também aponte novos rumos que englobem os nove países que integram a região. Esse é um grande desafio”.

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