Com início em 3 de junho, ação faz parte da iniciativa “Memória da Luta Antirracista” promovida pela Fundação Perseu Abramo

Para fortalecer o combate ao racismo e contribuir com a construção de uma sociedade mais justa, o Centro de Documentação e Memória Política Sérgio Buarque de Holanda (CSBH) da Fundação Perseu Abramo promove, a partir de junho, uma série de atividades intitulada “Memória da Luta Antirracista”. A iniciativa de âmbito nacional pretende destacar marcos históricos e o protagonismo de lideranças negras e de movimentos sociais que contribuíram por igualdade e justiça social no Brasil e no mundo.

Com esse propósito, será realizado um ciclo de debates de periodicidade mensal voltado a resgatar o simbolismo de mobilizações e de personalidades relacionadas à luta antirracista. A mesa de discussão inaugural será na próxima terça-feira (3/6), às 18 horas, no auditório da Escola de Filosofia e Ciências Humanas do campus Guarulhos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), na Grande São Paulo. O evento, aberto ao público, é realizado em parceria com a Cátedra Lourenço da Silva Mendonça da Unifesp e o Núcleo Negro da Unifesp Guarulhos (NNUG).

Na ocasião, para tratar do tema “Do centenário de Clóvis Moura aos 50 anos de Kabengele Munanga no Brasil: democracia e políticas antirracistas”, haverá a presença da ex-ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, que foi a primeira a ocupar o cargo no governo federal.

Além dela, participa também o professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Petrônio Domingues, que é historiador e doutor pela Universidade de São Paulo (USP). Pesquisador sobre diáspora africana, pós-abolição e identidades, foi finalista do Prêmio Jabuti em 2020. A mediação estará a cargo da professora Fabiana Schleumer, da Unifesp.

PRÓXIMOS DEBATES

O ciclo terá ainda mais três encontros mensais, com datas e locais que serão confirmados em breve. A segunda discussão, prevista para julho, irá abordar o seguinte assunto: “A construção do feminismo negro: mulheres em luta – Pensamento e militância de Lélia Gonzalez e Beatriz Nascimento: intelectualidade, ativismo e luta pelo combate ao racismo”.

As convidadas são a professora da UFRGS, Gládis Kaercher, que é pesquisadora em educação para relações étnico-raciais e coordenadora do curso de aperfeiçoamento Política de Promoção da Igualdade Racional na Escola (Uniafro) na instituição gaúcha; a psicóloga e ativista social Ìyá Sandrali de Òsun, que é dirigente da comunidade de tradição de matriz africana “Sociedade Afro-Brasileira Ilê Àsé Orisá Yemanjá”; e a pesquisadora, ativista e escritora Carla Akotirene, que é mestra e doutora em Estudos de Gênero, Mulheres e Feminismos pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especialista em políticas de raça e gênero.

A mediação dessa mesa, que é uma realização conjunta com a Escola Nacional de Formação do PT e a UFRGS, ficará por conta da servidora pública Tamyres Filgueira, que é coordenadora-adjunta do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI) da UFRGS e que foi também candidata em 2024 a vice-prefeita de Porto Alegre pelo PSOL, na chapa encabeçada pelo PT local.

ENCERRAMENTO

Os temas dos dois últimos debates são “Movimentos sociais e promoção da igualdade racial no Brasil: 30 anos da Marcha Zumbi contra o Racismo, pela Cidadania e pela Vida” e “Centenários do pensamento internacionalista sobre a questão racial”.

Para o primeiro deve estar presente o jornalista, professor e ensaísta Edson Lopes Cardoso, militante do movimento negro desde os anos 1970. Com doutorado em Educação pela USP e pós-doutorado na mesma área pela Universidade Metodista de São Paulo, foi editor de importantes publicações especializadas em assuntos da comunidade negra, como Raça&Classe, Jornal do MNU (Movimento Negro Unificado) e Irohín.

E, para o segundo, foram convidados o sociólogo e coordenador da Célula de Pesquisa em História, Antropologia e Sociologia do Centro de Estudos Sociais Amílcar Cabral (Cesac), Miguel de Barros, como conferencista vindo da Guiné-Bissau, e o professor Rubilson Delcano, da Universidade Federal do Maranhão, como debatedor.

SAIBA MAIS

Confira, a seguir, quem são as personalidades e os episódios destacados no ciclo de debates da iniciativa Memória da Luta Antirracista.

  • Clóvis Moura: jornalista, sociólogo, historiador e escritor. Produziu importantes estudos sobre a escravidão e a resistência da comunidade negra no Brasil. Foi fundador, em 1975, do Instituto Brasileiro de Estudos Africanistas (1975), onde promoveu cursos, debates e atividades culturais com participação de militantes do movimento negro. Em 10 de julho, comemoram-se os 100 anos de seu nascimento.
  • Kabengele Munanga: graduado em Antropologia Social e Cultural pela Universidade Oficial do Congo, em 1969, foi o primeiro antropólogo de seu país. Convidado a vir para o Brasil em 1975, concluiu doutorado na USP, onde deu aulas e se tornou professor emérito. Anteriormente, teve passagens pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Já na USP, dirigiu o Centro de Estudos Africanos, foi diretor do Museu de Arqueologia e Etnologia e vice-diretor do Museu de Arte Contemporânea. Seus temas de pesquisa se baseiam em racismo, identidade negra, negritude, multiculturalismo, educação e relações étnico-raciais, políticas antirracistas. Em 2025, o intelectual comemora 50 anos de sua vinda ao Brasil.
  • Lélia Gonzalez: ativista, filósofa e antropóloga. Foi professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade Gama Filho. Fundou o Instituto de Pesquisas das Culturas Negras do Rio de Janeiro e o Movimento Negro Unificado (MNU). Além disso, participou do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (1985 a 1989) e da Assembleia Constituinte de 1987, como membra da Subcomissão dos Negros, Populações Indígenas, Pessoas Deficientes e Minorias. Em 2025, comemoram-se os 90 anos de seu nascimento.
  • Beatriz Nascimento: historiadora formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), é, assim como Lélia Gonzalez, uma das mais importantes intelectuais negras do país. Pesquisou os chamados sistemas alternativos organizados por pessoas negras, o que inclui desde os quilombos até as favelas. Em outubro de 2021, recebeu o título póstumo de Doutora Honoris Causa in Memoriam da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em julho de 2023, deu nome ao primeiro programa do governo federal direcionado exclusivamente a mulheres cientistas negras, indígenas, quilombolas e ciganas: o “Atlântica – Programa Beatriz Nascimento de Mulheres na Ciência”. Em 2025 se celebram os 30 anos de seu falecimento.
  • Marcha Zumbi contra o Racismo, pela Cidadania e pela Vida: organizado em 20 de novembro de 1995, em homenagem aos 300 anos da morte de Zumbi dos Palmares. Contou com mais de 30 mil negros, que se reuniram em Brasília para solicitar ao governo federal (gestão Fernando Henrique Cardoso) a implementação de políticas públicas e denunciar o racismo e o preconceito contra a comunidade negra. Em 2025, são comemorados os 30 anos da Marcha.

    Serviço:

    Ciclo de debates Memória da Luta Antirracista

    3ª feira (3/6), às 18 horas, no auditório da Escola de Filosofia e Ciências Humanas do campus Guarulhos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
    Estr. do Caminho Velho, 333 – Jardim Nova Cidade, Guarulhos