A Fundação Perseu Abramo promoveu na última terça-feira, 12, a primeira edição do projeto “Roda de Conversa Sobre Participação das Mulheres na Política”, que acontece em importante período, que antecede as eleições municipais deste ano.

“Organizar essa atividade é debater os desafios que as mulheres enfrentam nos diferentes espaços de participação política”, destacou a presidenta do Conselho Curador da FPA, Eleonora Menicucci de Oliveira, que saudou as companheiras presentes e a parceria com a secretária nacional de mulheres do PT, Anne Moura.

A conversa foi transmitida ao vivo pelo YouTube da FPA e está disponível na plataforma.

Anne Moura ressaltou que as dificuldades enfrentadas por mulheres no fazer político se deve, em especial, pelo acúmulo de responsabilidades profissionais e domésticos, um problema social crônico enfrentado pelo movimento organizado de mulheres na política, sobretudo com o peso da violência de gênero.

“Apesar das dificuldades, obtivemos conquistas, como a cota e o fundo partidário”, ressaltou a secretária. “Embora seja importante, é ainda distante da representação e inclusão necessárias. É preciso fazer lutas nos municípios, tendo a compreensão que o território mudou e que estamos em ano eleitoral”.

Também presente no encontro, Elen Coutinho, diretora do Centro Sérgio Buarque de Holanda (CSBH), lançou na ocasião quatro periódicos digitais produzidos pela Secretaria Nacional de Mulheres, e digitalizados pelo CSBH. Ao todo são 47 jornais disponíveis na base de dados do CSBH para consulta, e que contribui para dar visibilidade à pauta das mulheres, suas lutas, militância e construção do próprio PT.

Presidenta do Instituto Lula, Ivone Silva, ressaltou que bancários são uma exceção quando o assunto é participação política, porque na maioria dos espaços, mulheres não estão representadas – ainda mais reduzida quando se trata de mulheres negras.

“A inexistência de creche nos eventos não é justo com mulheres que têm filhos. Ser mãe pode inviabilizar a participação de mulheres. Há, portanto, uma desigualdade, por exemplo, na participação de mulheres no movimento sindical”, destacou Ivone.

Para a vice-presidenta da FPA, Vivian Farias, também presente na conversa, “as notícias não são boas quando o assunto é movimento estudantil, onde a militância tem uma vida curta. Não é diferente e as jovens sofrem violência”, apontou.

Segundo a vice-presidente da FPA, a pior violência é a violência psicológica na política e, como exemplo, citou o caso da ex-primeira ministra da Nova Zelândia, Jacinda Arden que, após muita pressão, renunciou ao seu mandato. Para ela, é preciso construir uma nova práxis. Construir uma nova ordem de afeto.

Isolda Dantas, deputada estadual do PT/RN, explicou que o que acontece na vida das mulheres é fruto do conservadorismo mundial, porque quando temos recuo na democracia e na economia a vida das mulheres fica mais difícil, e que há uma estrutura neoliberal que avança, sobretudo na vida das mulheres.

Para mostrar a pouca participação das mulheres na política Isolda mencionou que em 2022, ao todo, foram cerca de dezesseis mil candidatos a deputados estaduais. Desses, em torno de cinco mil mulheres e 186 eleitas, boa parte delas da direita.

“Nunca vi tanta violência. Eu, a governadora Fátima e a candidata a prefeita, Natália temos sofrido todo tipo de violência e para enfrentar isso é preciso união, fortalecer as mulheres no partido e as mulheres de esquerda, pois o feminismo é a principal arma”.

A deputada acredita também que a campanha de 2024 será uma das mais difíceis, e com as mulheres nas campanhas não será diferente, o que requer organizar uma estratégia de acolhimento e um aparato para fortalecer as mulheres nos momentos diversos, porque o PT tem um papel importante para fortalecer as mulheres tendo o feminismo como um fio condutor.

Juliana Cardoso, deputada federal PT/SP, falou sobre a injustiça que é a herança histórica que fica sobre os corpos e ombros das mulheres: o legado de um Brasil patrimonialista, patriarcal, escravocrata, que reforça as desigualdades.

Observou que é um avanço termos 94 deputadas federais mas que um aspecto que a preocupa é a forma como essas mulheres tem conseguido chegar. A cota e os recursos financeiros para as mulheres na campanha foi uma causa do PT e das mulheres de esquerda mas a extrema direita tem se apropriado disso para avançar mais e com pautas machistas e misóginas, em especial aquelas vinculadas às igrejas evangélicas, mas não apenas essas. Há outros setores.

Outro aspecto mencionado por Juliana é que no parlamento não tem mulheres nos espaços de poder. Não tem mulher na presidência da Câmara, do Senado e até mesmo nas comissões mais importantes. Isso acontece também no governo federal onde, apesar do presidente Lula ter avançado na presença de mulheres nos ministérios, na hora das negociações foram elas as que foram retiradas dos seus cargos.

Em relação a ocupar cargos de poder Juliana considera que o PT é uma rara exceção. Tem uma mulher na presidência e outras em importantes secretarias. No partido as mulheres estão no poder de decisão e estão na linha de frente.

Tatau Godinho, da executiva estadual do PT/SP, pontuou algumas questões abordadas pelas palestrantes para organizar e aproveitar as experiências políticas apresentadas e, com isso, ajudar a reforçar aquelas que, a cada hora, entram em diferentes espaços da política a enfrentarem os desafios.

Observou que um aspecto importante é olhar a política no seu conjunto, não apenas política partidária e parlamentar, pois as mulheres tem uma participação política muito forte mas o reconhecimento dessa participação é pequeno. Poucos reconhecem, por exemplo, a participação que as mulheres tiveram na resistência ao golpe e na eleição do presidente Lula.

Outro aspecto observado por Tatau é que barreiras à participação aumentam na medida em que os espaços são mais formais. As mulheres sentem mais facilidade para participar de um conselho municipal, do movimento de moradia, do movimento popular porque ela pode levar os filhos ou pensar em um arranjo local.

Para Tatau as reivindicações e as formas de organização coletivas são as que vão possibilitar organizar a resistência de uma maneira capaz de possibilitar o avanço na luta como mulheres e como feministas e, nesse sentido, as pautas polêmicas tem que estar presentes.

No encerramento de seus comentários conclamou as participantes a se inspirarem no sucesso da francesas que conseguiram colocar o aborto na constituição, após anos de luta, e complementou dizendo que as mulheres se espelham em outras vitórias e esperanças para não esquecer que a luta, com todas as contradições, exige uma organização coletiva e que é isso que as mulheres do PT, as mulheres petistas, em conjunto com os movimentos sociais nos quais militam precisamos fazer: disputar e ganhar, porque é isso que vai fazer com que haja, de fato, uma vitória coletiva das mulheres.

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