A mais recente pesquisa do Datafolha sobre a disputa pela prefeitura da cidade de São Paulo indica um empate entre Guilherme Boulos (Psol), com 30% das intenções de voto e o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), com 29%. Em seguida, Tabata Amaral (PSB) alcança 8%, Marina Helena (Novo), 7%, Kim Kataguiri (UB), 4% e Altino (PSTU), 2%. Os dados indicam a possibilidade de uma disputa acirrada na capital – como era de se esperar.

A análise por segmentos, no entanto, revela que o patamar que Boulos parte nesta corrida eleitoral não está constituído por um forte desempenho nas franjas do eleitorado que são tipicamente lulistas. Nestes, como a base da pirâmide social (os que possuem renda familiar mensal menor do que dois salários mínimos), Boulos tem 24% contra 30% do atual prefeito. O candidato de Lula também não possui vantagem entre as mulheres (28% contra 27% de Nunes), tem desvantagem entre os católicos (29% a 34%) e empata na população preta da capital (28% para cada). Neste momento, Boulos possui, inclusive, maior vantagem em dois dos segmentos mais distantes do lulismo, como os que possuem renda familiar mensal de cinco a dez salários mínimos (43% a 31%) e de mais de dez salários mínimos (41% a 17%).

Assim, por um lado, a pesquisa revela onde está o potencial de crescimento de Boulos: na base eleitoral do lulismo e do PT. Além dos segmentos já citados, entre os 28% de eleitores e eleitoras da capital paulista que dizem ter o PT como seu partido preferido, somente 48% tem intenção de votar em Boulos no momento – outros 19% optam por Nunes, 6% em Tabata e 10% em Marina Helena (o índice gera estranheza e a pergunta: parte dos eleitores paulistanos podem ter confundido a candidata do Novo com a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, eleita deputada federal por São Paulo em 2022?).

Por outro lado, os dados também revelam desafios: a proximidade das intenções de voto entre Boulos e o atual prefeito é um dado relevante, junto à presença de índices de intenção de voto não desprezíveis em outras candidaturas do campo de direita (Kataguiri e Marina). Em cenário sem Tabata, por exemplo, suas intenções de voto distribuem-se de forma praticamente igual entre os dois líderes da pesquisa: Boulos cresce 3 pontos percentuais (p.p.) e Nunes 4 p.p. – o que indicaria pouco espaço para avanço do candidato de Lula e do Psol dentro das opções colocadas. Para ampliar seu desempenho será necessário, portanto, converter eleitores lulistas que hoje estão dispersos.

Conta ao seu favor, para isso, o apoio de Lula e do PT, e uma parte do histórico eleitoral recente da cidade: em 2020 Bruno Covas venceu Boulos em boa parte das zonas eleitorais da capital, inclusive as das periferias (excetuando parte considerável do extremo-sul e uma parte menor do extremo-leste), mas sua candidatura mantinha grande distância do então presidente do país (Bolsonaro), sob um mote relativamente moderado e de centro. Agora, seu então vice e agora prefeito, Nunes, angariou o apoio de Jair Bolsonaro e sinaliza para a base radical do ex-presidente: compareceu ao último ato na Avenida Paulista e indica que terá como vice um extremista de direita. No entanto, compõe este cenário o fato de que a candidatura presidencial de Bolsonaro foi derrotada por Lula na capital paulista nas eleições presidenciais de 2022, com derrota, inclusive, de seu candidato ao governo do estado para o candidato do PT, Fernando Haddad. Assim, vincular Nunes a Jair (aliança que o próprio candidato exalta e pretende transformar em ativo eleitoral), e Boulos a Luiz Inácio, para angariar o grande contingente petista e lulista da capital, parece ser promissor do ponto de vista da disputa que se avizinha.

Matheus Tancredo Toledo é analista do Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos (Noppe-FPA) e doutorando em ciência política pela USP.

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