Algumas coisas não mudam. Nas eleições municipais de 2024, novamente, um dos principais recursos que o PT e suas candidaturas devem utilizar é a conversa franca, olho no olho, junto ao maior número possível do eleitorado das cidades.

No ano que vem, outra tradicional ferramenta vai ganhar maior importância: trazer a pauta histórica do PT e contexto político nacional para dentro do debate das cidades, associando de maneira inequívoca as políticas construídas pelo terceiro governo do presidente Lula e o projeto que se quer implementar em cada município.

Estas são duas propostas defendidas de maneira unânime pelas pessoas que participaram da mesa “Como fazer análise de conjuntura municipal”, realizada na manhã do último dia 8 de dezembro, como parte da programação da Conferência Eleitoral do PT 2024, em Brasília.

O primeiro a falar, Humberto Amaducci, destacou a necessidade de conhecer cada palmo da cidade e conversar com o maior número de lideranças comunitárias, cidadãos comuns e até mesmo com setores refratários ao PT. “É preciso conhecer a cidade como ela realmente é. E buscar diálogo, em busca de quem a gente pode conquistar para nosso projeto e nossas candidaturas”, disse ele, amparado por sua experiência de três mandatos à frente da prefeitura de Mundo Novo (MS).

Para Amaducci, esta é a principal e melhor forma de fazer uma análise de conjuntura da cidade que se quer conquistar eleitoralmente. Um bom planejamento de governo vem daí. Depois, a gestão tem de ser compartilhada pela participação e controle social. Segundo ele, o povo precisa saber o que é gasto, e como é gasto, e poder opinar. “E nunca deixe de propor mudanças radicais”, disse o ex-prefeito (gestões 2000-2004, 2005-2008 e 2013-2016).

A deputada federal Maria do Rosário (RS) ratificou que o contato direto com a população, mesmo em cidades maiores, é essencial. E não apenas para vencer eleições, mas para fortalecer e renovar o projeto do PT.

“Onde é que a gente se sente bem de verdade? Em contato com o povo é que a gente encontra forças e o sentido do nosso projeto, um projeto de transformação, um projeto com consciência de classe”, destacou a pré-candidata à prefeitura de Porto Alegre.

A deputada incluiu no debate a absoluta necessidade de fazer as campanhas no ano que vem explicitando a agenda do governo Lula, não apenas para defendê-la e ampliar o conhecimento público sobre os projetos, mas também para garantir que cheguem aos municípios.

Maria do Rosário disse considerar de extrema importância que o PT volte a conquistar capitais em 2024 (atualmente o partido não governa nenhuma) para ampliar a influência política.

“Não caiam na armadilha de separar o que é nacional do que é local. Se a cidade precisa de um SUS melhor, de um serviço de abastecimento de água melhor, de mais áreas verdes, isso tudo pode ser construído a partir justamente das prioridades que Lula vem defendendo e que nós queremos ver implementadas nos municípios”, exortou.

Lindbergh Farias, deputado federal (RJ) e ex-prefeito de Nova Iguaçu, também insistiu que as campanhas municipais devem estar fortemente associadas à conjuntura nacional. “O maior erro nesta eleição será alguém querer esconder que tem lado, esconder a bandeira vermelha”. Na opinião do deputado, o ativismo da extrema-direita só arrefecerá se a esquerda organizar campanhas de forte conteúdo ideológico. “A alternativa ao sucesso do Lula seria a barbárie”, disse.

Washington Quaquá, deputado federal (RJ), ex-prefeito de Maricá (2009 a 2017) e atual vice-presidente do PT, defendeu que as campanhas devem empunhar propostas ousadas, mesmo que marqueteiros e consultores recomendem moderação.

“Quando eu fiz campanha para a prefeitura pela primeira vez, eu queria adotar o lema ‘Maricá é bonita demais para ser controlada por uma empresa de ônibus’. O pessoal da comunicação disse que era um lema ruim. Pois eu insisti e ganhamos a eleição”, recordou.

Quaquá disse que o mote se referia ao principal desafio que enxergava na cidade. Segundo ele, uma empresa de ônibus que hegemonizava o transporte impedia que surgissem novos nichos de desenvolvimento local, pois a necessidade de a população ir trabalhar em outras cidades era fonte de lucro para a concessionária. “Eles não queriam abertura de lojas, de pequenas empresas, queriam Maricá isolada”.

Na opinião dele, tanto as cidades quanto o próprio Brasil precisam nos próximos anos de um novo modelo econômico de desenvolvimento. “A China tem nos mostrado o caminho, usando os fundos públicos para orientar projetos pré-definidos, que construam uma nova economia”, disse. A mesa foi coordenada por Elen Coutinho, diretora da Fundação Perseu Abramo. Ela disse considerar que a disputa eleitoral de 2024 é uma tarefa essencial para fortalecer o processo de reconstrução do Brasil e derrotar a direita, sempre à espreita.

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