No dia 8 de dezembro, o Centro de Convenções Ulisses Guimarães recebeu as muitas mesas organizadas pela Fundação Perseu Abramo que tiveram temas variados e amplos, no sentindo de que candidatos e candidatas das próximas eleições ouvissem e discutissem, num grande momento de preparação para o pleito que se avizinha.

A mesa sobre eleições e trabalho de base teve coordenação de Artur Henrique, diretor da Fundação Perseu Abramo, e com o auditório repleto de militantes de todas as partes do Brasil, durante todo o período da manhã, João Paulo, da coordenação nacional do MST, José Genoíno, ex-deputado federal (SP), Ary Vanazzi, prefeito de São Leopoldo (RS), Suzi Rodrigues, superintendente regional do Trabalho em Pernambuco, Rosilene Corrêa, vice-presidente do PT-DF e dirigente da CNTE, e Denise Mota Dau, responsável pela política de combate à violência do Ministério das Mulheres, puderam relatar situações locais e perspectivas para o futuro.

João Paulo Rodrigues considerou a “prosa muito relevante” alertando para temas como o uso das tecnologias e a necessidade do campo popular e democrático “reaprender a fazer campanha e trabalho de base em função das novas mudanças” no que ele chama de “transição geracional”.

O líder do MST também falou sobre o momento que vivemos hoje no Brasil – que está “melhor para as esquerdas mas ainda sem melhoras para a grande maioria da população”. João Paulo defendeu que será preciso lidar “com carinho, na nossa base, e formar uma geração de jovens, “bons comunicadores, um combo militante com trabalho de base, construção da maioria na sociedade para que nossa organização seja uma guerra política, numa conjuntura que será polarizada, mas com defesa de nossas bandeiras históricas”.

Na batalha das ideias, João Paulo apresentou os três eixos que ele acredita serem ponto de partida: comunicação, formação e organização, além da defesa constante do governo Lula e assim ganhar as eleições.

A superintendente regional do Trabalho em Pernambuco, Suzi Rodrigues, foi bancária, esteve candidata em algumas eleições e defendeu que é necessário “trabalho de base para os eleitos e eleitas mas também para os que não venceram os pleitos”. Suzi é uma mulher que veio das comunidades de sua região e para ela temos “que resgatar os princípios do que é ser petista, ouvir o povo preto e as mulheres a partir de uma ideia de sociedade que nos guie incluindo todos que precisam”.

E também apontou que é necessário disputar a hegemonia com cultura e educação, trabalho de base para fazer a disputa pública e reconstruir o sentimento que vai dar certo incluindo a juventude nesta jornada. E a proposta de candidaturas coletivas para refletir a história do PT. “O trabalho de base requer paixão, precisamos fortalecer a nossa base e defender o governo Lula porque somos o partido que nasceu para fazer diferente”, falou.

José Genoíno é uma liderança de longa experiência na construção do PT e nas articulações no Congresso Nacional. Em sua análise, “vivemos uma encruzilhada histórica, vivemos tempos de guerra, de polarização e de crise”. Ao analisar a conjuntura, Genoíno falou sobre a crise sistêmica do capitalismo que acaba gerando um modelo que gera problema grave: “a ideia de ser inimigo de toda experiência coletiva”.

Genoíno defendeu que “em 2024 podemos ter a oportunidade de abrir algumas portas do labirinto atual e para enfrentar o fascismo temos que mexer nas regras do neoliberalismo, e não podemos ignorá-los”. Ele também falou sobre as eleições municipais unirem o local ao nacional, politizar a perspectiva de futuro”, mas com um olhar especial para as lutas contra os preconceitos, incluir os precarizados, a classe trabalhadora que os sindicatos não alcançam”. Para ele, o momento é de radicalidade: “não podemos ter medo pois o PT pode ser o protagonista do futuro já que esta deverá ser a eleição da revanche da direita. Por isso, devemos priorizar a luta popular com alianças à esquerda para não perder nosso protagonismo da utopia”.

Rosilene Corrêa, vice-presidente do PT-DF e dirigente da CNTE, relatou a experiência recente no Distrito Federal, as disputas com o bolsonarismo e a necessidade de incluir jovens e mulheres para que de fato possamos fazer o enfrentamento do fascismo, lembrando que a direita “está empodeirada e por isso temos que nos diferenciar pra valer”.

Para Rosilene, “nosso projeto tem ideologia e por isso precisamos eleger prefeitas e prefeitos com muito pé no chão, o PT precisava ouvir a base e debater nossos mandatos, que precisam ser mais petistas e menos personalistas, com respeito às bandeiras do partido”.

Sindicalista na área da educação e ensino, Rosilene também propôs que o sindicalismo avance para além de suas categorias e faça a disputa em vários ambientes: “o tempo da política é o tempo todo, com habilidade e sabedoria nesse processo atual”.

Ary Vanazzi, prefeito de São Leopoldo (RS), uma cidade de 230 mil habitantes, depois de quatro mandatos elencou desafios, que segundo ele, “são maiores do que vencer a eleição pois a burguesia discorda e luta para te derrotar sempre, pode fazer escola, casa, asfalto, tanto faz. Eles querem nos derrotar”, alertou.

O prefeito contou uma série de exemplos que mostram que nem sempre a política pública ofertada se transforma em apoio político: “fizemos mais de dez mil casas populares, quando eu chegava para visitar, só tinha faixa de apoio ao Bolsonaro”, exemplificou. Para ele, se o PT não aumentar a quantidade de prefeitos e prefeitas eleitas, assim como bancadas de vereadores, corremos o risco de Lula não terminar o mandato”. “Não é tarefa simples mas temos que acabar com o orçamento secreto, radicalizar a democracia e além das ações de governo, construir a unidade na sociedade. Nossa base precisa fazer a disputa ouvindo e sabendo entender, lançando candidatos em todas cidades para levar nossas ideias”.

Denise Mota Dau, responsável pela política de combate à violência do Ministério das Mulheres, focou sua fala no momento de embates que vivemos e por isso “temos que levar para a população um projeto que não tenha o ódio como ponto central”. Para ela, os nossos mandatos têm que refletir a nossa realidade, acesso à direitos, à educação, combatendo o legado do machismo e do racismo que opera em nossa sociedade”.

Denise relatou o lamentável aumento de casos de abuso sexual de crianças de zero a quatro anos, assim como o estupro de meninas e que a cada seis horas uma mulher é morta além das inúmeras violência cotidianas contra a população LGBTQIA+. “O ódio é usado como disputa, e sem que a gente entenda que gênero, raça e classe são estruturantes não podemos ter projeto coletivo de país”, disse.

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