Aula relembra movimentos que levaram à derrota da ditadura e fundação do PT
A Fundação Perseu Abramo (FPA) e a Escola Nacional de Formação do Partido dos Trabalhadores (ENFPT) iniciaram, no último sábado (13), o ciclo de difusão da memória “Partido dos Trabalhadores: 43 Anos na Construção da Democracia Brasileira”.
A primeira aula contou com três expositores: o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, que foi deputado federal, vice-prefeito de São Paulo, fundador do PT e atuou na defesa de sindicalistas presos durante as greves dos metalúrgicos do ABC no final dos anos 1970 e início dos anos 1980; o ex-metalúrgico e advogado Vicentinho, deputado federal em seu sexto mandato, que foi líder sindical e presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT); e a socióloga Maria Victoria Benevides, professora da USP, membra da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns (Comissão Arns) e da diretoria da Associação Nacional de Direitos Humanos – Pesquisa e Pós- Graduação (Andhep).
A aula foi aberta pela diretora da Fundação Perseu Abramo Elen Coutinho, responsável pelo Centro Sérgio Buarque de Holanda. Ela explicou que o ciclo foi pensado para a ocasião dos 43 anos do PT, junto com a exposição virtual “PT 43 anos na luta pela democracia brasileira”, que relaciona a história do partido à construção e consolidação da democracia no Brasil.
O diretor da Escola Nacional de Formação Política do PT Osvaldir Freitas disse que a composição da mesa lembra um importante tripé de grande importância para o partido: o movimento sindical, a intelectualidade e a defesa dos direitos humanos presentes nesses 43 anos. “É importante retomar essa memória no momento em que o Brasil e o mundo vivem uma situação de avanço da extrema direita. E também essencial ampliarmos nossos pilares de conhecimento para enfrentar esse período histórico e fortalecer o governo Lula”, afirmou.
Greenhalgh falou sobre a ditadura militar brasileira nos anos 1970. “Quando os militares chegaram, imediatamente fizeram 17 atos institucionais que se sobrepunham à Constituição”. E mencionou o resultado do grande aparelho de repressão montado pelo regime militar com o financiamento de empresas multinacionais, em especial as do ABC paulista Ford, Volkswagen, GM, Scania e Mercedes Benz: 144 desaparecidos políticos, 62 deles na guerrilha do Araguaia, 466 mortos em câmaras de tortura, mais de 20 mil presos políticos e mais de 50 mil pessoas exiladas. “Até que, em 1974, o povo brasileiro derrotou a Arena, com vitória do MDB em muitos estados. Em São Paulo, Orestes Quércia foi eleito para o Senado com cinco milhões de votos, derrotando Carvalho Pinto, da Arena. Isso animou a resistência à ditadura”, afirmou.
Greves do ABC – Vicentinho fez sua exposição sobre as greves metalúrgicas e o nascimento de um novo sindicalismo. Disse que filiou-se ao sindicato em 1977, porque sentia falta do contato com as pessoas. Mas chegando à sede já encontrou um faixa que dizia: sindicato é para lutar. “Na assembleia da campanha de 1977, conheci nosso companheiro Lula, que me disse o seguinte: ‘nós somos como um feixe de lenha. Uma madeira quebra fácil, mas um monte é difícil de quebrar’”.
Contou que sua primeira greve, em 1978, dentro da pequena fábrica Tamet, era chamada de “parada”, e que os funcionários reivindicavam direito a café e restaurante. Não havia assembleia nem participação direta do sindicato. Os trabalhadores apenas combinavam um horário e paravam. “Eu me envolvia muito com as greves mas não sabia o que pensavam os nossos dirigentes”.
“Com a greve de 1978, tivemos a presença das chefias no pé da máquina, pessoas que nunca tínhamos visto, para nos pressionar a recuar. Mas tivemos uma grande vitória, que foi o reajuste mensal automático por quatro meses”, relatou. Já em 1979, a greve durou 15 dias, mas a partir dela a comissão de mobilização decidiu não mais parar dentro da fábrica para evitar a presença chefia e concentrar os trabalhadores no Sindicato e no estádio da Vila Euclides. Porém, tiveram a presença da polícia para espancar os trabalhadores.
Lula foi para a Câmara dos Deputados para explicar sobre as greves, mas apenas três ou quatro pessoas deram atenção a ele, que voltou convencido da necessidade de criar um partido para representar os trabalhadores dentro do Congresso. Vicentinho acredita que, nas fábricas, o PT nasceu com a greve de 1980, a maior de todas com extraordinário envolvimento e solidariedade do povo. “As pessoas da vizinhança doavam comida ao fundo de greve. Quando a diretoria do Sindicato foi cassada, fecharam a Vila Euclides, o Baetão e o Paço Municipal, D. Claudio Hummes determinou que as nossas assembleias poderia ser feitas dentro das igrejas. A greve terminou com uma grande derrota econômica, mas fortaleceu-se a ideia de criar um partido dos trabalhadores”, afirmou.
Maria Victoria Benevides lembrou uma frase de Greenhalgh, “ a luta faz a lei”, que marcou muito todo o movimento que tentava mostrar a importância da legitimidade legal. “Nós tivemos a formação política pelo movimento sindical da época, que levou à formação do PT. E as comunidades eclesiais de base que foram importantíssimas. Dessa luta das mulheres na Zona Leste surgiu a luta que desembocou na criação do SUS”, disse.
Assista à aula completa neste link: https://www.youtube.com/watch?v=EczLc3ZARFc
O ciclo
O ciclo é formado por três encontros quinzenais em formato híbrido. As próximas aulas acontecerão nos dias 27 de maio e no dia 10 de junho, sábados, das 9h30 às 12h. Pessoas inscritas que acompanharem os encontros no formato online receberão certificado de participação. A exibição e o controle de frequência serão realizados por meio de plataforma de webinar e o link para acesso é enviado até 24h antes do evento.
Confira abaixo os temas a serem discutidos:
Aula 2 | 27 de maio
O PT na constituinte de 1988
- Expositora: Benedita da Silva – deputada federal em sexto mandato, foi governadora do Rio de Janeiro, senadora, ministra da Assistência e Promoção Social e única mulher negra a se eleger deputada constituinte
A participação do PT nas eleições presidenciais a partir da redemocratização
- Jorge Bittar – diretor de formação da FPA e engenheiro, foi deputado federal, vereador e presidente da Telebras.
As Caravanas da Cidadania: viagem ao coração do Brasil. Enfrentamento ao Neoliberalismo
- Expositor: Paulo Okamotto – presidente da FPA, foi sindicalista, tesoureiro da campanha presidencial de Lula em 1989, presidente do PT de São Paulo, presidente do Sebrae e um dos fundadores do Instituto Cidadania e do Instituto Lula
Local: sede do PT/RJ – Rua Sete de Setembro, 164, Rio de Janeiro (RJ).
Aula 3 | 10 de junho
O PT é outra história: democracia, inclusão e diversidade na inclusão partidária – Fundação Perseu Abramo
O legado do PT nos municípios e estados brasileiros
Governos Lula e Dilma, 2002-2016
Enfrentamento ao golpismo, resistência, lutas sociais e política em defesa das conquistas, democracia, estado de direito, do PT, de Lula, e dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiras – 2022: a vitória de Lula e os desafios da democracia