A revista Reconexão Periferias de abril, mês da visibilidade indígena, propõe uma reflexão sobre a situação dos povos indígenas no Brasil e sobre a necessidade urgente do reconhecimento de seus direitos pelo Estado brasileiro, como base para o desenvolvimento políticas públicas que garantam suas vidas com dignidade.

Segundo dados do último Censo Demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010, o Brasil registrou à época a existência de 274 línguas indígenas no país, onde viviam 817.963 mil indígenas de 305 diferentes etnias.

O levantamento revelou também que 37,4% dos indígenas de 5 anos ou mais falavam no domicílio uma língua indígena, percentual que aumentava para 57,3% quando eram considerados somente aqueles que viviam dentro das Terras Indígenas. Essa característica confirma o importante papel desempenhado pelas Terras Indígenas em relação às possibilidades de permanência das características sócio-culturais e modos de vida dos indígenas.

Trata-se de uma população que, ao contrário do que imagina o senso comum, não vive apenas em territórios longínquos ou nas aldeias, mas está espalhada também nas periferias das grandes cidades brasileiras. Com isso, os indígenas enfrentam uma acelerada transformação social e se organizam para buscar respostas que assegurem sua sobrevivência física e cultural, com qualidade de vida, diante de realidades inóspitas e políticas públicas que tolheram seus direitos ao longo dos últimos séculos .

A revista traz o artigo “Entre margens”, do poeta Elizeu Braga, no qual retoma lembranças sobre a beira do rio Madeira, na vila onde nasceu, Tacuã, situada a cinco horas de barco de Porto Velho (RO), e também sua chegada a São Paulo, quando deparou com o devastado Rio Tietê. “Meu encontro com o Tietê me ajudou a pensar o Rio Madeira, ou Rio Iruri (rio que treme), seu nome mais antigo. Para o povo Mura, que antes do contato com os brancos era denominado Buhuaren (dominadores das águas), o Rio Iruri (o rio que treme) respira neles. Quem me contou foi Márcia Mura, professora e escritora indígena, uma parente do rio”.

O texto fala ainda sobre forças que comprometem o futuro das águas, como o garimpo, e provocam a morte acelerada de vários Rios no Brasil, entre eles o Rio Madeira, um dos mais importantes da bacia Amazônica que corre sério risco de colapsar diante da exploração dos seus recursos em hidrelétricas, desmatamento e agropecuária.

A entrevista do mês é com a deputada federal indígena Juliana Cardoso. Ela acredita que todo e qualquer mandato, inclusive nos movimentos sociais, precisa se dirigir às pessoas a partir “das dores da vida”, ouvi-las e ajudar a encontrar soluções para os problemas. Dessa forma, abrem-se as portas para as mudanças estruturais, para a tarefa de pensar o mundo e formas concretas de atingir essa meta. “As pessoas estão sem paixão pela política? Estão. Estão desacreditadas. Como a gente supera isso? Quando a gente fala de coisas que atingem a vida delas de verdade. Quando você pega assuntos que atingem a vida delas de verdade, você consegue virar essa chave”, diz.

O perfil traz a história do Coletivo Força Tururu, que atua na comunidade de mesmo nome, em Paulista (PE), para desenvolver projetos de comunicação popular e comunitária que se contraponham à ideia hegemônica de que as favelas sejam apenas habitadas por pessoas criminosas e violentas.

Já na seção de arte a edição apresenta Solange Gonçalves Luciano, mais conhecida como Sol, que nasceu na periferia de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Ela tem 54 anos, é uma sobrevivente dos escombros manicomiais, dos labirintos psiquiátricos e frequenta há mais de duas décadas um dos maiores e últimos manicômios da América Latina, o Hospital Psiquiátrico São Pedro. É nas Oficinas de Criatividade que Sol consegue fazer da arte uma ferramenta de auto resgate onde dissipa as dores de suas vivências e daquelas pessoas com quem compartilha sua arte.

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