Para o conjunto dos movimentos sociais e populares, novembro é um mês dedicado às denúncias e ações em torno do Dia da Consciência Negra (20 de novembro). Assim, nesta edição da Revista Reconexão Periferias propomos refletir sobre o tema, olhando para a história, o atual cenário e os desafios futuros.

Respeitando e honrando o legado histórico daqueles e daquelas que tanto lutaram por uma sociedade livre de racismo, vivemos hoje com uma nova geração de lutadores negros e negras, periféricos, urbanos e rurais, que têm conseguido denunciar o racismo e pautar a importância de política públicas antirracistas e também a importância de que os espaços de poder reflitam a real composição racial de nosso país.

Para tratar de um aspecto que evidencia a complexidade do tema em pauta deste mês, Juliana Borges, consultora da área de violência do Projeto Reconexão Periferias, apresenta em artigo o necessário debate sobre abolicionismo penal. Colocando este como uma proposta para repensarmos os limites, as problemáticas e violências geradas e reproduzidas pelo sistema penal; e apontando perspectivas radicais baseadas em uma sociedade de não-violência e solidariedade.

Na seção “Quando novos atores entram em cena”, apresentamos Renato Freitas, 37 anos, vindo da periferia, vereador pelo PT, mais votado de toda cidade de Curitiba em 2020. Renato afirma a importância de manter seu compromisso com a periferia, por compreender a responsabilidade histórica que ele representa como vereador na Câmara Municipal. O parlamentar destaca ainda a importância de não naturalizar as injustiças, as desigualdades, e que, ao reconhecer o que não está correto, cada um e cada uma assuma a sua responsabilidade em transformar essa situação.

Adriele do Carmo, redatora na Iniciativa Negra por Uma Nova Política sobre Drogas, afirma em seu artigo que o genocídio da população negra se dá não somente na morte física, mas também no apagamento simbólico e na visibilidade negativa de pessoas, espaços e narrativas negras. Assim, a autora apresenta uma reflexão acerca da criminalização da cultura negra, abordando a relação do Estado brasileiro com territórios negros e as desigualdades enfrentadas por eles no acesso à recursos públicos de cultura.

O multimúsico Gilberto Gil, eleito em novembro o mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), ambientalista de longa data, ex-vereador da cidade de Salvador, ex-ministro da Cultura no governo Lula e inspiração artística, poética e também política de várias gerações, participou dos Seminários Cultura e Democracia. Em texto escrito especialmente para o encontro, Gil falou de possibilidades e necessidades de futuro.

Paulo Ramos, coordenador do Projeto Reconexão Periferias, escreve sobre racismo policial, no contexto de pouco mais de um ano do movimento Black Lives Matter, frisando a importância de que que não se pode falar de violência policial e de segurança pública sem considerar o passado e o presente de discriminação racial no mundo. Afirma ainda que para mudar a realidade é preciso dar um basta à normalização da quantidade cotidiana de mortes da população negra.

Esta edição apresenta o perfil do coletivo Mães de Maio, uma rede de mães, familiares e amigos(as) de vítimas da violência do Estado, formado em São Paulo, sobretudo na capital e na Baixada Santista. Elas desenvolvem uma série de atividades de acolhimento e solidariedade entre familiares e amigos de vítimas do Estado; denunciam casos de violência e a situação de investigações e processos; participam de debates, seminários, encontros, conferências; e organizam atividades de luta, como protestos, marchas e vigílias.

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