Sobre o Boletim NOPPE: O Boletim do NOPPE (Núcleo de Opinião Pública, Pesquisa e Estudos) traz uma visão global sobre as pesquisas de opinião pública divulgadas pelos principais institutos. Para além de uma análise de cada pesquisa, buscamos traçar tendências entre os dados, além de uma discussão sobre as diferentes metodologias e métodos de coleta utilizados pelos institutos de pesquisa. Para tal, divulgamos novos boletins à medida que uma quantidade significativa de pesquisas é divulgada de forma pública.

O contexto do período: rasil passou dos 540 mil mortos pela Covid-19. Cerca de 42% da população tomou a primeira dose da vacina contra a doença, e 16% estão totalmente imunizadas – a média móvel de mortes encontra-se abaixo do número de mil e quinhentos. Após internação por obstrução intestinal, Jair Bolsonaro (sem partido) teve alta hospitalar. A CPI da Covid-19 foi prorrogada por mais 90 dias e avança na investigação de fraudes e corrupção no contrato de vacinas, em especial a Covaxin.

 

1ª Parte – Intenção de voto 2022

1 ) Todas as pesquisas, presenciais e telefônicas, trazem Lula liderando com vantagem os cenários de intenção de votos. É uma rara convergência entre os institutos que apontam para uma divisão na qual cerca de 40% do eleitorado pretende votar em Lula e 25% em Bolsonaro sendo que os outros candidatos somam cerca de 15% no momento.

À exceção da pesquisa do Ideia Big Data, que testa apenas cenários reduzidos para mensurar a viabilidade de candidaturas de centro-direita (como Doria, Eduardo Leite e Mandetta), Lula tem mais de 10 pontos percentuais de vantagem sobre Bolsonaro e os candidatos da centro-direita apresentam pouca competitividade.

 

2 )Datafolha confirma pesquisa IPEC de junho: a intenção de voto em Lula, no primeiro turno, é maior entre as classes populares (57% entre quem recebe menos que 2 salários mínimos), e reduz conforme aumenta a renda dos entrevistados (22% entre os com renda familiar mensal maior que 10 salários). Bolsonaro só venceria Lula em segundo turno entre os empresários (56% a 34%) e no segmento com renda de 5 a 10 salários mínimos (48% x 38%).

Segundo o Datafolha, é a faixa de renda até 2 salários mínimos (SM), já mencionada, que garante ampla vantagem de Lula no primeiro turno. No caso da renda de 2 a 5 salários, a margem de Lula é pequena (36% x 33%), e o ex-presidente fica atrás do atual nas faixas de 5 a 10 SM e mais de 10 SM. No segundo turno, Lula teria uma vantagem de 42 pontos percentuais entre os que recebem até 2 salários mínimos, 8 pontos percentuais na faixa de 2 a 5, empate na faixa de mais de 10 salários e a já mencionada desvantagem na faixa de 5 a 10 SM.

A pesquisa Quaest aponta que o perfil do eleitor de Lula é do Nordeste (58%), com escolaridade até o ensino fundamental (57%) e renda de até 2 salários mínimos (56%). Já o eleitor de Bolsonaro é do Sul (41%), evangélico (35%) com ensino médio completo/incompleto (35%), com renda maior de 5 salários mínimos (34%) e do sexo masculino (33%).

3) As simulações reforçam uma tendência que apontamos em nosso último boletim – de que é precipitado afirmar que a força eleitoral de Lula se baseia em uma polarização com Bolsonaro. Em todas as pesquisas, o ex-presidente venceria todos os outros candidatos da direita ou centro-direita por uma larga margem.

Segundo a pesquisa Ideia Big Data, por exemplo: Lula venceria João Doria por uma diferença de 25 pontos percentuais, Eduardo Leite e Mandetta por 28 pontos percentuais e Sergio Moro por 23 pontos percentuais.

Outras pesquisas demonstram dados parecidos: segundo o Datafolha, por exemplo, Lula venceria Doria por uma vantagem de 34 pontos; já na pesquisa XP/Ipespe, Lula venceria Mandetta por 24. Até contra Ciro Gomes, que transita entre o centro e a centro-esquerda, Lula venceria por 15 pontos, segundo a pesquisa Xp/Ipespe, e por 8 pontos, segundo a pesquisa Ideia Big Data.

Outro ponto a se ressaltar é que Lula possui vantagem maior sobre Bolsonaro do que outros candidatos: venceria, segundo a pesquisa XP/Ipespe, o atual presidente por uma margem de 14 pontos percentuais. A título de comparação, são 4 pontos a mais do que a vantagem que Ciro Gomes teria, por exemplo. João Doria perderia por uma diferença de 4 pontos percentuais, e o atual presidente venceria tanto o ex-ministro Mandetta quanto o governador Eduardo Leite.

 

2ª Parte – Avaliação do governo Bolsonaro

1) Embora mês a mês as variações têm se dado na margem de erro, comparando a pesquisa de um instituto com sua anterior, é possível afirmar que o governo abre o semestre com uma deterioração severa de sua avaliação desde o final do ano passado. Em dezembro de 2020, o governo de Jair Bolsonaro tinha índices de reprovação que variavam, naquele momento, do patamar de 32% a 42%, a depender da pesquisa. Nesta última rodada, realizada na primeira semana de julho, os institutos mostram que os patamares de reprovação do governo estão variando de metade da população (50%) a quase 60%, dependendo da pesquisa.

 

 

2) As pesquisas convergem em apontar que no segmento de renda até 2 salários mínimos há tendência de aumento da reprovação e queda da aprovação nos últimos meses, conforme demonstra o gráfico abaixo. O Nordeste, as mulheres, os jovens e o segmento que se autodeclara negro/preto são aqueles nos quais o governo tem seu pior desempenho: segundo o Datafolha, a soma dos que consideram o governo ruim ou péssimo nos três segmentos está, respectivamente, em 60%, 56%, mesmo número para os jovens e 57% no quarto recorte.

 

 

 

3ª Parte – Temas conjunturais

1) Pandemia, Vacinação e CPI da Covid

XP/Ipespe: Cai o sentimento de ‘muito medo’ do coronavírus (de 45% para 38%), e cresce o ‘sem medo’ (de 21% para 25%) e ‘um pouco de medo’ (de 33% para 36%). A soma entre os que se vacinaram e os que pretendem se vacinar é de 90%.

Poderdata: São 74% dos entrevistados os que disseram acompanhar as investigações da CPI da Covid-19 no Senado.

Ideia BigData: Com uma forma diferente de fazer a pergunta, 43% concordaram com a frase ”estou acompanhando e informado sobre os acontecimentos da CPI da Covid-19”. E 59% concordaram que houve aumento no ritmo de vacinação nos últimos 30 dias no entanto, 47% discordam que isso tenha melhorado a visão sobre Bolsonaro.

Quaest: 57% dos entrevistados perderam alguém da família ou alguém próximo pela Covid-19. 79% estão muito preocupados com a pandemia. E 84% pretendem tomar a vacina.

Datafolha: 46% dos entrevistados consideram Jair Bolsonaro como responsável pela situação atual da pandemia no Brasil. E 94% do total são favoráveis à vacina 56% dizem já ter se vacinado e outros 38% pretendem se vacinar

2 ) Economia e expectativas corrupção e inflação

XP/Ipespe: Expectativas embora a expectativa para a sequência do mandato de Jair Bolsonaro seja negativa, há relativo otimismo sobre emprego (54% esperam manter seus empregos). Corrupção: 63% acreditam que acusações são verdadeiras.

Quaest: Há expectativa de geração de empregos no próximo período para 56%. Por outro lado, 64% esperam mais aumento dos preços (64%). E 47% acreditam no envolvimento de Bolsonaro em um escândalo de corrupção que envolve a negociação de compra da Covaxin.

Ideia Big Data: 33% disseram concordar que a economia irá melhorar no segundo semestre. Outros 34% não concordaram, nem discordaram, e 33% discordaram.

Poderdata: Para 50% dos entrevistados, Bolsonaro está pessoalmente envolvido com corrupção. Entre seus apoiadores, surpreendentemente, são 28% os que acham isso.

Datafolha: Para 64%, Jair Bolsonaro tinha conhecimento de corrupção na compra de vacinas.

3) Temas Diversos – Militares e voto impresso

Quaest: Questionados sobre o voto impresso, 61% disseram não estar acompanhando a discussão. Outros 18% disseram ser favoráveis a esse sistema e 18% são contrários. O dado demonstra que a maioria da população não está a par da questão, agendada pelo bolsonarismo.

Datafolha: São 63% os que consideram que Bolsonaro não tem capacidade para liderar o país. Ampla maioria da população é contrária à presença de militares da ativa em atos e manifestações políticas (62%), e o número que rejeita a presença destes em cargos públicos é de 58%.

Todos os institutos apontam uma divisão da população sobre o impeachment, exceto o Datafolha.

Anexos

Confira o artigo do NOPPE sobre metodologias por telefone e a pesquisa Datafolha de março/2021
https://fpabramo.org.br/2021/03/25/sobre-a-pesquisa-datafolha-e-metodologias/

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