Por: Núcleo de Opinião Pública, Pesquisa e Estudos da Fundação Perseu Abramo

A última pesquisa do Datafolha trouxe resultados que alimentaram um debate já corrente sobre metodologias de pesquisas de opinião pública. Os dados referem-se à percepção sobre a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, que anulou as condenações do ex-presidente Lula.

Outros três institutos fizeram questões sobre este tema: Segundo a pesquisa XP/Ipespe, 52% desaprovam a decisão de Fachin e 40% aprovam; O PoderData aferiu um resultado de 46% de discordância e 45% que concordaram com a decisão; A pesquisa Exame/Ideia, afirma que 54% consideram a decisão injusta e 33% justa. Por fim, na pesquisa Datafolha, 51% consideraram que Fachin ágil mal e 42% que agiu bem. Os quatro, no entanto, utilizam a abordagem telefônica em suas pesquisas.

O NOPPE tem uma opinião sobre este método de acordo com a experiência que tivemos na realização de pesquisas em 2020, durante a pandemia, validadas nos debates internos realizados sobre metodologia em pesquisas de opinião. Há limite técnico para mensurar a opinião dos brasileiros por telefone, apesar de sua importância num contexto pandêmico. Há dificuldade de estabelecer recortes territoriais seguindo um desenho amostral por setores censitários, menor ‘taxa de sucesso’ na realização das entrevistas, além de entraves para captar a opinião de alguns segmentos da população, especialmente os estratos de renda mais baixa – o agrupamento social que possui opinião mais favorável a Lula. Além disso, há problemas na pós-estratificação dos dados em alguns segmentos pelos institutos (Fernando Meireles, pós-doutorando em Ciência Política pela UFMG explorou essas questões: https://twitter.com/meirelesff/status/1373983078050324484).

Além do problema metodológico na coleta de dados, o instituto fez uma pergunta sobre a opinião dos entrevistados em relação à condenação de Lula em 2017, anulada por Fachin. A formulação é dúbia, pois pergunta a opinião dos entrevistados utilizando ‘à época’ na pergunta, podendo não refletir a opinião atual do respondente.

Ao contrário das manchetes da Folha sobre os resultados, não é possível concluir que há uma opinião hegemônica na sociedade brasileira sobre os temas levantados, e sim uma divisão parelha. Por exemplo, em outra questão, 51% acham que Lula não deveria ser candidato em 2022 e 47% acham que deveria. Um empate, no limite da margem de erro.

Os últimos anos foram de bombardeio midiático contra Lula e o PT, de ausência de espaço relevante para divergências ao lavajatismo e de apoio nos editoriais de grandes jornais a Sergio Moro. Ainda sim, quase metade dos brasileiros consideram legítima uma candidatura Lula em 2022, e veem positivamente a anulação de seus processos. Apesar de muito esforço dos partícipes e fiadores destes processos, e da ausência de qualquer autocrítica de veículos como a Folha de São Paulo, a narrativa lavajatista não é hegemônica no Brasil.

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