Leia o boletim nº 10 do NOPPE/FPA
Sobre o Boletim NOPPE O Boletim do NOPPE (Núcleo de Opinião Pública, Pesquisa e Estudos) traz uma visão global sobre as pesquisas de opinião pública divulgadas pelos principais institutos. Para além de uma análise de cada pesquisa, buscamos traçar tendências entre os dados, além de uma discussão sobre as diferentes metodologias e métodos de coleta utilizados pelos institutos de pesquisa. Para tal, divulgamos novos boletins à medida que uma quantidade significativa de pesquisas é divulgada de forma pública.
O contexto do período: Brasil passou dos 520 mil mortos pela Covid-19. Cerca de 37% da população tomou a primeira dose da COVID, e 12% estão totalmente imunizadas – a média móvel de mortes encontra-se abaixo do número de 2 mil. Denúncias de corrupção na aquisição da vacina Covaxin atingiram o governo, e tornaram-se foco da CPI da COVID-19. Além disso, manifestações de rua contra Bolsonaro ocorreram por todo o Brasil por 3 vezes nos últimos 45 dias, organizadas pelo campo popular. BC eleva a taxa básica de juros pelo segundo mês consecutivo.
1ª Parte – Intenção de voto 2022
1 ) Realizadas de forma presencial, as pesquisas IPEC e CNT/MDA trazem larga vantagem para Lula no primeiro e no segundo turno –semelhante ao resultado da pesquisa Datafolha realizada em maio e também feita presencialmente. As outras pesquisas, telefônicas, mostram Lula e Bolsonaro com ⅓ da população cada, e dificuldade de outros candidatos de terem um desempenho relevante – o que abala a tese defendida pelo centro e centro-direita, de que há espaço para uma terceira via.
Destaque para um fato curioso da pesquisa Ideia Big Data. O Instituto simula apenas cenários reduzidos com Lula, Bolsonaro, Ciro e apenas um nome da centro-direita (Doria, Mandetta, Eduardo Leite e Tasso Jereissati). Em nenhum destes cenários do instituto, no entanto, a hipótese de que seria possível para outro candidato desidratar Bolsonaro para disputar um segundo turno com Lula se sustenta, pois Bolsonaro segue inabalável em seu ⅓ do eleitorado em todas as simulações.
2 ) Segundo o Ipec, renda, região e raça/cor marcam a intenção de voto em Lula. Ambos os segmentos também têm importância para entender o desempenho de Bolsonaro, além da questão de gênero e idade.
Há uma razão inversamente proporcional com idade e renda na intenção de voto em Lula no 1º turno – quanto maior a renda e maior a idade, menos votos em Lula. No Nordeste e no Sul, Lula tem seu melhor e seu pior desempenho, respectivamente 63% e 35%. Ainda que seja um segmento no qual Lula tenha um desempenho mais fraco do que no total, o ex-presidente vai melhor que Bolsonaro entre os evangélicos (41% a 32%). Entre pretos e pardos, Lula tem 54% das intenções de voto, e entre os brancos o número cai para 40%.
Outro dado interessante é trazido pela pesquisa CNT-MDA, que pergunta o que a pessoa entrevistada espera das eleições presidenciais em 2022. Nela, 40,3% esperam que Lula seja eleito, 30,1% que algum candidato que não seja ligado a Lula e Bolsonaro não seja eleito, e 25,1% que Bolsonaro seja reeleito.
No caso de Bolsonaro, a razão nos segmentos de renda e escolaridade é diretamente proporcional: quanto mais rico ou mais escolarizado, maior a intenção de voto em Bolsonaro. Mulheres, jovens e a região Nordeste são bastiões contra Bolsonaro. O presidente não vai melhor que Lula em nenhum segmento no primeiro turno. Apesar do fraco desempenho – e de outras pesquisas apontarem que os segmentos de renda mais alta possuem rejeição ao governo Bolsonaro, vale destacar que o presidente tem um potencial de voto (soma dos que votariam com certeza e os que poderiam votar) alto entre os segmentos mais ricos e mais escolarizados.
Em relação aos outros candidatos, apenas Ciro chega a atingir dois dígitos em algum segmento da população, chegando a 10% entre os mais jovens (de 16 a 24 anos). Outro apontamento interessante é que a soma de quem não sabe, não respondeu, brancos e nulos vai de 13% na média para 18% nas periferias, sendo diretamente vinculado à queda em relação à média na intenção de voto de Lula (não há diferença entre outros candidatos).
3) Em todas as simulações de segundo turno feitas pelos institutos, Lula venceria Bolsonaro – e qualquer outro candidato.
Na pesquisa Ideia Big Data mais recente a medir os cenários, Bolsonaro vence todos os outros candidatos em segundo turno, exceto Lula. Por sua vez, Lula vence Bolsonaro, Sergio Moro, Ciro, Mandetta, Doria e Eduardo Leite – os últimos quatro por margem maior que 10 pontos percentuais. Esse resultado enfraquece outra hipótese do centro e da centro-direita, de que Lula só desempenharia bem em um cenário no qual polariza com Bolsonaro.
2ª Parte – Avaliação do governo Bolsonaro
1) Mantém-se a estagnação da aprovação e da reprovação ao governo.
2) Somente dois institutos divulgaram dados segmentados da avaliação do governo de Jair Bolsonaro: PoderData e XP/Ipespe. Ambos demonstram que mantém a baixa popularidade do governo entre as mulheres, os mais jovens e os moradores da região Nordeste.
Destaque para a queda de seis pontos percentuais na avaliação positiva entre os que recebem menos de dois salários mínimos, segundo a pesquisa XP/Ipespe.
3ª Parte – Temas conjunturais
1) Pandemia, Vacinação e CPI da COVID
XP/Ipespe: Caiu de 50% para 45% o número de pessoas que estão com muito medo do coronavírus (10 pontos percentuais a menos em relação a março). 28% dizem ter se vacinado contra a COVID, e 60% tem a intenção de se vacinar. 62% aprovam a instalação da CPI da COVID, uma queda de 5 pontos em relação ao levantamento do mês anterior.
PoderData: O instituto demonstra que 86% dos entrevistados têm a intenção de tomar a vacina contra a COVID-19.
CNT/MDA: 57% reprovam a atuação do governo federal na pandemia. O número contrasta com o total de 58,8% que aprovam a atuação do governo de seu estado na mesma área. Bolsonaro é considerado o responsável pela demora na vacinação para 49%.
2 ) Economia e expectativas – percepção da inflação é majoritária
XP/Ipespe: Desde março, houve uma queda de 5 pontos percentuais na percepção de que a economia do Brasil está no caminho errado – o sentimento é, no entanto, majoritário: 60% pensam desta forma. Somente 23% conhecem a proposta da reforma administrativa.
Exame/Ideia: 71% concordam que a inflação tem sido um grande problema no dia a dia – e o aumento é mais percebido sobre alimentos e bebidas (86%), combustíveis (79%), energia elétrica (77%) e medicamentos (55%). 63% mudaram os hábitos de alimentação por causa da inflação. Questionados sobre a reforma tributária, 41% concordam com o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda para 2500 reais. Outros 41% afirmam não concordar nem discordar.
CNT/MDA: São 92,4% os que consideram que os preços dos produtos estão aumentando muito. 88,2% veem uma contribuição positiva da vacinação para um maior crescimento econômico do Brasil. O auxílio emergencial é considerado muito importante para a população e a economia para 74,6% dos entrevistados. 51% afirmam ser contra privatizações, mas há visão positiva das mesmas se os recursos de venda das estatais forem destinados a programas de assistência social (53,4% concordam com isso).
3) Temas diversos
XP/Ipespe: 27% dos entrevistados se consideram de direita, 19% de esquerda, 7% de centro-direita ou centro-esquerda e 32% não souberam responder.
Poderdata: 60% afirmaram que a homossexualidade deve ser aceita pela sociedade. São 28% os que acham que não, e 12% os que não souberam responder. 35% disseram ter trabalhado, ou ainda estarem trabalhando, em regime de home office – 43% não tiveram essa opção.
CNT/MDA: 24,3% dos entrevistados se declara de direita, e 17,4% de esquerda. 4,6% são de centro-direita, mesmo número da centro-esquerda. 37,1% não souberam responder. Questionados se confiam nas urnas eletrônicas, 32,9% disseram confiar muito, 30,8% confiam moderadamente, 15,8% têm confiança baixa e 18,7% não confiam. 58%, no entanto, são a favor de urnas com impressão de voto, pois aumentará a confiabilidade. 55,4% creem que os candidatos derrotados em 2022 não irão aceitar o resultado final. O instituto também mensurou a opinião dos brasileiros sobre a democracia: segundo a pesquisa, 64,5% afirmam que a democracia é sempre melhor que qualquer alternativa não democrática de governo; para 16,5%, a democracia é geralmente melhor do que alternativas não democráticas, enquanto 7,4% dizem preferir formas não democráticas. 11,6% não souberam ou não quiseram responder.
Anexos
Confira o artigo do NOPPE sobre metodologias por telefone e a pesquisa Datafolha de março/2021https://fpabramo.org.br/2021/03/25/sobre-a-pesquisa-datafolha-e-metodologias/