Ernest Hemingway, em seu romance Adeus às Armas (de 1929, lançado no Brasil pela Bertand Brasil), nos ensinou a importância de quem está ao nosso lado nas trincheiras de uma guerra.

Enfrentando uma das piores crises econômicas, políticas e sanitárias já vividas no Brasil, nós estamos reunindo forças e reconhecendo nossas boas companhias.

A renovação do conselho editorial da Fundação Perseu Abramo é essa lufada de esperança em tempos obscuros. Reunido no último dia 16 de outubro, o primeiro encontro (virtual, por enquanto) contou com a presença expressiva e participação ativa dos membros.

O encontro teve por objetivo ouvir nossos conselheiros e conselheiras com o sentido de organizar os trabalhos da editora a partir de 2021, à luz das diretrizes da Fundação Perseu Abramo – representada pela diretoria executiva e o conselho curador.

A pedagoga e conselheira curadora da FPA Nilma Lino Gomes abriu os trabalhos trazendo palavras de incentivo e reconhecimento do valor deste coletivo formado para acompanhar a editora. Aloizio Mercadante, presidente da instituição, saudou a presença de todos e todas lembrando que o PT nasceu na fronteira do conhecimento e o papel da fundação nesse cenário, apresentou nossas diretrizes, o Centro de Altos Estudos e a formação dos Napps, citando a expectativa de se alcançar muito mais que os 98 mil dirigentes de base do partido.

Após 24 anos de criação, a editora da FPA foi um dos primeiros projetos da instituição, publicou centenas de livros e marcou a formação de leitores e leitoras tanto dentro quanto fora do Partido dos Trabalhadores (PT).

Como bem sintetizou Carlos Henrique Árabe, diretor responsável pela editora e anfitrião do encontro, a partir das contribuições valorosas dos presentes: “ao renovar e elevar seu papel, a editora deve ter em mira o estabelecimento de alcance e influência maiores que o chamado público interno e, como fez em diversos momentos, buscar diálogos amplos de caráter pluralista, democrático e de superação do capitalismo”.

Entre as ideias-força presentes neste dia, destaque para a defesa da democracia, a educação que liberta, a formação que fortalece e organiza, a história revisitada e reinterpretada pelos olhos de quem luta contra a opressão, o combate ao atraso das oligarquias, a neutralização da guerra cultural da extrema-direita, a difusão do entendimento da crise capitalista e a urgência do socialismo 20 anos depois do ciclo histórico capitaneado por Antonio Candido, a memória coletiva contra o silenciamento e o esquecimento das lutas populares, a compreensão das redes sociais e das mídias eletrônicas pela militância partidária e popular, como ampliar nosso alcance e nossa voz, valorização da cultura em seu sentido amplo, luta contra o ódio contruído e a simplificação da realidade, aumento da difusão dos conteúdos da FPA no interior do PT, a literatura como instrumento de formação política da juventude, gênero e política, necessidade de ultrapassar fronteiras com traduções de autorias latino-americanas, africanas e asiáticas, combate ao racismo, valorização dos povos originários, do meio ambiente e da questão socioambiental, o combate à desigualdade além da questão da renda, tratamento adequado do tema da corrupção na sociedade, juventude, teorização e práxis literária nas periferias do Brasil por meio dos slamers e rappers, e a soberania nacional e anti-imperialismo em tempos de capitalismo neoliberal.

Dessa riqueza de temas surgirão projetos editorias que pretendem alterar a rota e transformar derrotas em conquistas. Conhecimento, experiência e compromisso se unem neste novo conselho e marca o início de um novo ciclo, promissor e carregado da potência necessária aos tempos atuais.

Conheça a composição e o perfil do conselho editorial da FPA:

Albino Rubim, pesquisador do CNPq e professor do Programa Multidisciplinar de Pós-graduação em Cultura e Sociedade da UFBA. Tem diversos livros publicados. Foi secretário de Cultura da Bahia.

Alice Ruiz, poeta e compositora. Autora de diversas obras. Recebeu o prêmio Jabuti pelos livros de poemas Vice-verso (1989) e Dois em um (2009). Como compositora, tem parcerias com Arnaldo Antunes, Chico César, Itamar Assumpção, Zélia Duncan, Alzira Espíndola, entre outros.

André Singer, professor titular do departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Autor de diversas obras. Foi porta-voz da Presidência da República (Luiz Inácio Lula da Silva, 2003-07).

Clarisse Paradis, professora da UNILAB (São Francisco do Conde, Bahia), doutora em ciência política pela UFMG e graduada em Relações Internacionais pela PUC Minas. Pesquisadora no campo da teoria feminista, teoria política e movimentos sociais na América Latina

Conceição Evaristo, escritora, ficcionista e ensaísta. Mestre em Literatura Brasileira pela PUC-RJ, doutora em Literatura Comparada pela UFF. Sua primeira publicação (1990) foi na série Cadernos Negros do grupo Quilombhoje. Tem sete livros publicados, entre eles o vencedor do Jabuti, Olhos D’água (2015). Entre outros, recebeu prêmio do Governo de Minas Gerais pelo conjunto de sua obra e homenagem pelo (2019) como personalidade literária.

Dainis Karepovs, graduado em Editoração pela Escola de Comunicações e Artes da USP, doutor em História Econômica pela Universidade de São Paulo e pós-doutor em História na Unicamp. Historiador do Movimento Operário e das edições de esquerda no Brasil no século XX.

Emir Sader, professor de sociologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde dirige o Laboratório de Políticas Públicas (LPP). Foi professor na USP e Unicamp. Presidiu a Associação Latino-Americana de Sociologia (ALAS) e foi secretário-geral da CLACSO.

Hamilton Pereira (Pedro Tierra), poeta, recebeu menção honrosa no Prêmio Casa de las Américas (1978) com “Poemas do povo da noite”. Foi Secretário de Cultura do DF. Doutor Honoris Causa das Universidades Católica de Brasília e Federal do Tocantins. Foi presidente da FPA.

Laís Abramo, doutora em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP). Especialista em temas de gênero e trabalho, desigualdades e políticas sociais na América Latina. Foi diretora do Escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil entre 2005 e 2015 e diretora da Divisão de Desenvolvimento Social da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), entre 2015 e 2019. Compõe o conselho curador da FPA.

Luiz Dulci, vice-presidente nacional do PT. Foi ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República durante os oito anos de governo Lula. Foi Secretário de Cultura e Secretário de Governo em Belo Horizonte (MG). Presidiu a Fundação Perseu Abramo (1996-2003).

Macaé Evaristo, mestra em educação pela UFMG. Secretaria de Educação de Belo Horizonte e do Governo do Estado de Minas Gerais. Também foi Secretária de Educação continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do Ministério da Educação (governo Dilma Rousseff).

Márcio Meira, antropólogo, pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi e professor do Programa de Pós Graduação em Diversidade Sociocultural desta instituição. Presidiu a Fundação Cultural do Município de Belém (FUMBEL), foi Secretário de Articulação Institucional do Ministério da Cultura (MinC) e presidiu a FUNAI.

Maria Rita Kehl, psicanalista em consultório particular, autora de vários livros, entre eles O tempo e o cão, vencedor do prêmio Jabuti (2010). Entre 2006 e 2011, foi psicanalista de membros da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF). Integrou a Comissão Nacional da Verdade (2012-2014) , investigando as graves violações contra povos indígenas e camponeses.

Marisa Midori Deaecto, professora livre-docente em História do Livro, do curso de Editoração da Escola de Comunicações e Artes (USP). Doutora em História Econômica (FFLCH-USP). Foi membro da diretoria da ANPUH e atua como editora da LIVRO, Revista do Núcleo de Estudos do Livro e da Edição. É membro de comitês científicos de revistas acadêmicas e especializadas em história do livro, da edição e da leitura em diferentes países.

Rita Sipahi, advogada pela Universidade de Direito do Recife (1964). É servidora pública aposentada (PMSP). Foi conselheira da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça.

Silvio de Almeida, doutor em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela Universidade de São Paulo. Professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie e na Escola de Administração de Empresas da FGVSP e professor visitante na Universidade Duke (EUA).

Tassia Rabelo, professora da Universidade Federal da Paraíba. Doutora em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2012). Estuda partidos políticos em perspectiva comparada e gênero e política.

Valter Silvério, professor titular de Sociologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Vice presidente do Scientific Commitee of Volume IX, X e XI da General History of África da Unesco. Dedica-se aos estudos pós coloniais, transnacionalismo negro, diáspora africana, ações afirmativas e afro-brasileiros.

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