A luta das mulheres pela equidade de direitos, em questões sociais, culturais, políticas e econômicas ganha visibilidade no mês de comemoração do Dia Internacional da Mulher. No esforço de organizar, preservar e difundir seu acervo, o Centro Sérgio Buarque de Holanda oferece ao público as versões digitalizadas do Brasil Mulher e Nós, Mulheres, dois dos principais jornais da chamada imprensa alternativa feminista presentes no acervo.

Uma das políticas do regime militar (1964-1985) foi a censura aos órgãos de imprensa oficialmente reconhecidos, principalmente da grande imprensa escrita. No entanto, ainda na ditadura, e como forma de resistência ao regime militar brasileiro, a crítica ao governo prosseguiu e, a partir da década de 1970, se ampliou a produção de jornais independentes, muitos deles clandestinos, a chamada imprensa alternativa. Neste contexto, surgem jornais de imprensa feminista, feitos por mulheres e dirigidos às mulheres. São eles os jornais Brasil Mulher (1975 – 1980), Nós, Mulheres (1976-1978) e Mulherio (1981 – 1988).

A imprensa alternativa foi um grande espaço de rearticulação da esquerda brasileira, somado à reorganização do movimento operário, com as grandes greves ocorridas principalmente a partir de 1978 e nos anos 1980, além da organização de movimentos sociais e de organizações de mulheres. As páginas destas publicações feministas constituem uma fonte importante e pouca explorada para compreendermos esse período e entendermos o papel das mulheres no restabelecimento do regime democrático.

O primeiro jornal de temática feminina a ser publicado neste período foi o Brasil Mulher. Lançado em 1975, ano em que a ONU declarou o Ano Internacional da Mulher, publicou vinte edições, sendo dezesseis regulares e três edições extras, entre os anos de 1975 e 1980.

O segundo jornal com o mesmo enfoque foi o Nós, Mulheres, que teve duração mais curta, mas não menos expressiva. Publicou oito edições, e teve dois anos de duração, circulou entre os anos de 1976 e 1978.

As duas publicações, Brasil Mulher e Nós, Mulheres, disponíveis agora na base de dados do CSBH, contribuíram para o debate das questões femininas e feministas, nem sempre discutidas, mesmo dentro da própria esquerda. Esses periódicos constituíram importantes veículos das reivindicações e difusão dos anseios relacionados às condições e situações às quais são submetidas as mulheres, principalmente no que se refere às mulheres negras e às que vivem em regiões periféricas. Nessas publicações, mulheres se colocaram como novos sujeitos coletivos, como protagonistas, criando seu espaço de representação e discutindo assuntos até então pouco debatidos.

Além do enfrentamento do regime imposto, os periódicos debatiam questões mais gerais, tais como a anistia, principalmente no jornal Brasil Mulher, a organização das trabalhadoras, o sindicalismo, o custo de vida, a educação e as creches. Dentre os assuntos específicos sobre a temática feminina presentes nas publicações podemos destacar: violência doméstica, condições de trabalho das mulheres, direitos reprodutivos, planejamento familiar, sexualidade, 8 de Março, entre outros.

Além dos jornais citados, o CSBH possui conjuntos documentais compostos por acervos pessoais de mulheres que lutaram, trabalharam e militaram no Partido dos Trabalhadores (PT) e em movimentos sociais. Também em nosso maior arquivo, o do Diretório Nacional do PT, podem ser pesquisadas imagens que permeiam as lutas das mulheres ao longo da história contemporânea recente, retratadas em passeatas, atos e encontros, e também os documentos produzidos pela Secretaria Nacional de Mulheres do PT, ainda em fase de organização. O CSBH possui coleções sobre os “Movimentos Sociais” com um rico acervo iconográfico de cartazes, e a coleção “Imprensa Alternativa” que, entre seus documentos, além dos jornais Brasil Mulher e Nós, Mulheres, reúne outros periódicos que podem contribuir com as pesquisas e ampliar o debate e a reflexão sobre o papel das mulheres dentro e fora do partido, na política e nos movimentos sociais. Com a disponibilização desses expressivos jornais da imprensa alternativa feminista o CSBH, através do tratamento e disponibilização de seus documentos, compreende o uso de seu acervo como uma importante ferramenta para a valorização e afirmação da memória das mulheres na luta dos trabalhadores e trabalhadoras na história recente.

Todo este acervo arquivístico está descrito no guia e os documentos iconográficos, assim como os periódicos citados, podem ser pesquisados em nossa base de dados. E na Revista Perseu “Dossiê mulheres: esquerdas, política e trabalho”.

 

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