O governo Bolsonaro tem dado sinais de que vai interferir na liberdade de cátedra na Educação Superior. Para além do apoio da administração ao projeto Escola Sem Partido (ESP), que visa acabar com a “ideologização da educação” no Brasil, tornando os ambientes educativos espaços de perseguição aos professores, vistos por muitos como inimigos, o governo aponta que vai interferir no livre pensamento na Educação Superior.

Um dos movimentos que apontam nesta direção é a notícia de que o Ministro da Educação, Ricardo Vélez, possivelmente estaria mapeando a “ideologia dos reitores” das Universidades Federais. Outra é a mudança realizada ainda pelo governo Temer, mas com apoio da equipe de transição para o governo atual, de tornar inválidas consultas à comunidade universitária para a escolha de reitor em que o voto dos estudantes tenha peso maior. Ou a possibilidade de que, no caso do Reitor/a eleito/a em alguma Universidade Federal ter “laços com a esquerda/marxismo”, o nome do mesmo não seja ratificado pelo Presidente. Ao não se respeitar as eleições nas Universidades, voltar-se-ia com os “interventores” nas Universidades Federais, vigentes durante a Ditadura Militar?

Isto conflui com as defesas que o ministro da Educação tem feito da Ditadura Militar (que teria “corrigido o curso” do país) e com o marco temporal do próprio ESP, que sempre aponta que o Brasil se tornou o caos nos últimos trinta anos (coincidentemente os anos democráticos no Brasil). Ao mesmo tempo, é importante lembrar que os militares ocupam agora cargos altos dentro do Ministério da Educação. O próprio ministro é professor emérito da Escola de Comando e Estado Maior do Exército.

A isto se somam as últimas declarações do ministro, de que a inclusão social seria uma bobagem e que as escolas deveriam preparar os jovens para serem youtubers e de que a “Universidade não é para todos”, mas para uma elite intelectual. O absurdo da elitização da última frase contrasta, por exemplo, com o significado da sigla Prouni, programa que ajudou a democratizar o acesso à educação superior nos últimos anos: a sigla significa “Programa Universidade para Todos”. Também, o slogan do governo Dilma por um tempo foi “Pátria Educadora”. O que sobrará?

Sinais contrários à liberdade de cátedra também são dados pelos laços do governo Bolsonaro com Victor Orbán, premiê húngaro que está expulsando uma universidade de seu território por esta ser supostamente parte de um “plano para destruir a Europa cristã”.
Os sinais mostram que o governo Bolsonaro deve perseguir a intelectualidade que a ele se opôs, sendo as universidades campos de muita oposição a ele – lembrando que, às vésperas da eleição, muitos eventos contra o fascismo foram interrompidos pela polícia ou pela justiça eleitoral em universidades no país afora. Neste sentido, o governo Bolsonaro cria “espantalhos” (caricaturas) dos “inimigos da nação”, ampliando a oposição social a alguns destes setores, o que, no entanto, não é uma estratégia nova.

 

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