A Fundação Perseu Abramo (FPA) reuniu na noite do dia 24 de julho, em São Paulo, militantes, intelectuais e amigos do pensador socialista Antonio Candido, falecido em 2017, para homenageá-lo na data em que completaria 100 anos. O evento foi realizado em parceria com o PT, o Instituto Lula, a TVT e a Escola Nacional Florestan Fernandes, no auditório que recebeu o nome do homenageado.

Participaram Walnice Nogueira Galvão, que foi aluna e assistente de Antonio Candido, Álvaro Anacleto, da Escola Florestan Fernandes, Paulo Vannuchi, do Instituto Lula, e a filha do homenageado, Laura de Mello e Souza, entre dezenas de admiradores deste que foi o mais importante crítico literário do Brasil e um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores. Flávio Aguiar, ex-aluno de Antonio Candido, e Lígia Chiappini, ex-aluna e assistente, não puderam comparecer ao local do evento, mas enviaram contribuições em vídeo (assista aos vídeos no fim deste texto).

Nas palavras comovidas de sua filha Laura, uma das grandes surpresas da família toda é a perenidade dele após a morte e a dimensão de seu legado. “Ele teve esse dom de viver até os 98 anos, absolutamente autônomo, lúcido, íntegro e tomando conta da própria vida. Ele insistia que não era homem da política, mas naquilo que a política tem de mais nobre e essencial sempre esteve presente. Era um homem fraterno, extremamente preocupado com a injustiça social e foi justamente esse sentimento que o levou a atuar politicamente. Ele considerava que a luta dos sem terra era o fenômeno político mais importante do Brasil contemporâneo”, afirmou.

Candido plantou uma árvore de pau brasil durante uma de suas visitas à Escola Florestan Fernandes, que adquiriu grande significado simbólico para os militantes do MST, pois representa a perenidade e o potencial multiplicador de seu pensamento. “Coerência na luta pelo socialismo é o que traduz para nós quem foi Antonio Candido”, afirmou Álvaro Anacleto. “Quando questionado sobre a suposta vitória do capitalismo sobre o socialismo, ele sempre ponderou que as conquistas e direitos da classe trabalhadora são fruto da luta socialista”.

A pesquisadora Juliana Borges, graduada em Letras pela USP, relatou que o professor sempre fez questão de apoiar os movimentos de alunos e docentes da universidade e também o quanto esse apoio foi importante para fortalecer a luta. “Aprendi com ele que o espaço do saber literário é também de mobilização. Que a literatura é um direito inalienável, que nos leva à justiça social”, disse.

Walnice Galvão enfatizou o lado do intelectual socialista em sua atuação não partidária, marcada por solidariedade, ausência de preconceitos e afinidades com a rebelião, e mencionou como um dos exemplos sua intensa atuação durante a ocupação da Faculdade de Filosofia, na Rua Maria Antonia, em São Paulo, em 1968, onde esteve presente todos os dias. “Ele deu aulas especiais adequadas à ocasião, aceitou experimentos com professores assistindo às aulas dos alunos, foi eleito membro da comissão paritária que regia a ocupação como representante dos livres docentes e participou de todas as passeatas e atos públicos”, contou.

Vannuchi disse que ele sempre será muito lembrado por sua enorme contribuição no terreno da literatura, mas fez questão de destacar o papel fundamental de Antonio Candido na formulação e articulação da cultura no PT. “Cabe a nós organizarmos e multiplicarmos seu papel como pensador político e militante petista”, afirmou.

O presidente da FPA, Marcio Pochmann, anunciou durante o evento que também será lançada em breve uma seleção de monografias a respeito do pensamento radical brasileiro, que terá o próprio Antonio Candido, Paul Singer, Florestan Fernandes, entre outros nomes que ajudam a construir uma perspectiva sobre o país atualmente e a enfrentar o golpe que colocou o Brasil em trajetória de decadência.

 

Vídeos

 

Íntegra do evento:

 

Depoimento de Lígia Chiappini:

 

Depoimento de Flávio Aguiar:

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