É tempo de ousadia: tempo de lutar!
Por Lúcio Costa, em Crônicas do Sul
As manifestações do MBL e Vem Pra Rua deste domingo, 26 de março, foram um fiasco. O comparecimento aos atos chamados pela direita não passou de algumas centenas de pessoas nas principais capitais, incluídos aí o Rio de Janeiro e São Paulo.
Segundo a imprensa, na Avenida Paulista seis trios elétricos gigantescos a atravancavam a via pública. No entanto, como a horda fantasiada de camisetas da CBF faltou ao encontro à frente do MASP, restaram algumas centenas de gatos pingados a revelar o isolamento de Kataguiri e seus comparsas.
Até as grande empresas comerciais de “comunicação”, ainda que de forma envergonhada ao se darem conta que “não conseguiriam tapar o sol com a peneira” tiveram de refletir, ainda que com retoques, a realidade das ruas.
O UOL publicou reportagem com o título: Em protesto com baixa adesão, manifestantes defendem Lava Jato e criticam Congresso. Os dados expostos pela Globo na reportagem Cidades pelo país têm manifestações a favor da Lava Jato neste domingo revelaram o mesmo cenário.
No domingo, ao tratar das manifestações deste domingo a Folha de S.Paulo, por sua vez, usou a expressão “baixa adesão” para descrever o fenômeno do abandono de largas parcelas das classes médias dos movimentos convocados pelas organizações para-partidárias – eis que, financiadas pelo PSDB, PMDB, PP – da direita. Na segunda-feira, se imagina que a contragosto, a realidade se impôs e a matéria da empresa dos Frias publicava, Atos a favor da Lava Jato levam menos gente às ruas.
No Sul, a edição de 27/03 do Correio do povo estampava “Protesto a favor da Lava Jato em Porto Alegre decepciona organizadores”.
O desinteresse da classe média no chamamento da direita deita raízes no fato de que amplas camadas destes setores sociais se desiludiram com o golpe que apoiaram e passaram a compreender o sentido reacionário do governo Temer.
A prosa do golpismo foi cruelmente desmentida. Os milhões de desempregados reduziram a pó as promessas de crescimento de Meirelles; a assustadora quantidade de ministros – incluído o da Justiça – envolvidos nas mais variadas maracutaias deixaram a corte de Cajus e Angorás desnudos ante a opinião pública; as tropelias e a truculência do Torquemada de Curitiba, os vazamentos seletivos da PF e do MPF fizeram minguar o entusiasmo com a Lava Jato ao ponto em que, o Conselho Federal da OAB – que, de recordar, apoiou o golpe – se viu constrangido a impetrar uma ação no STF a questionar a constitucionalidade das “conduções coercitivas” de Moro.
A população e, em especial, as parcelas das classes médias que até ontem iam às ruas de camisetas da CBF a brandir patos e pixulecos, compreenderam que reformas de Temer & Fiesp são um esbulho dos direitos sociais e trabalhistas.
Noutra banda, em crescentes setores das oligarquias burguesas cresce a insatisfação com o governo Temer, tanto diante da incapacidade crescente deste em levar adiante a contrarrevolução paleoliberal quanto em decorrência de uma recessão econômica, que não apenas não dá sinais de amainar, mas, ao contrário, se aprofunda. A face pública deste mal-estar e das divisões nas elites foi a recente briga de bugio entre Gilmar Mendes e Janot.
Confrontadas as dimensões das manifestações de 15 de março convocadas pela resistência democrática e o fiasco do 26/03, a revelar a perda da capacidade de convocatória da direita para-partidária, é evidente estar em curso uma mudança no espírito dos tempos, na agenda política da maioria do povo brasileiro.
Deste fenômeno, dá conta inclusive a conservadora Câmara Federal brasileira na qual a base de apoio ao governo golpista minguou de 350 para 250 parlamentares diante dos 188 votos contrários a terceirização das atividades fins das empresas.
A rejeição ao governo Temer hoje predomina sobre a pauta da direita: apoio às reformas e à Lava Jato. Hoje, as vozes das ruas pedem com cada vez mais força a defesa dos direitos sociais, dos direitos trabalhistas e, particularmente, da aposentadoria com dignidade.
Emblema destes tempos que ora vivemos são, de um lado, a foto das centenas de milhares com Lula na Avenida Paulista a defender a aposentadoria e, de outro lado, o vazio na frente do MASP neste domingo.
No entanto, o isolamento social do governo golpista, as divisões entre as várias facções golpistas, a perda de convocatória da direita por si só não garantem uma saída democrática e nacional para a crise político-econômica que vive o Brasil. E, na ausência desta, tanto Temer poderá se manter até 2018 quanto é possível, numa saída tão ao gosto da Casa Grande, um arreglo entre as elites com a eleição indireta pelo Congresso de um fantoche ao estilo de Mendes.
Em síntese, se hoje é mais possível que ontem – dada a crise social vivida e a perda de hegemonia da agenda das direitas – derrotar a contrarrevolução paleoliberal, a construção de uma saída democrática à crise não “está escrita nas estrelas”. Depende da ousadia, da capacidade de luta das filhas e filhos do povo brasileiro.
Derrotar as oligarquias se relaciona estreitamente a capacidade de ampliar a resistência popular, em dar maiores dimensões a luta de massas, em colocar em movimento a indignação do povo pobre, em levar adiante a denúncia contundente do caráter corrupto, antipopular e antinacional do conluio de gatunos que chefiados por Temer – com a cumplicidade de setores do Judiciário, do Ministério Publico Federal e da Policia Federal -assaltou a República.
Neste caminho, duas questões são essenciais: uma postura intransigente em face do governo Temer – no dizer, do presidente da CUT: com golpista não se negocia – e, a continuidade e o aprofundamento da unidade das Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo em torno da defesa dos direitos do povo e das liberdades democráticas. Esses são os caminhos de construção da vitória da resistência, do triunfo do povo brasileiro.
O futuro pertence aos que lutam! Venceremos!