A nova fronteira da Juventude do PT
Quem é a nova geração do PT e de qual transição geracional o partido precisa?
Estas são três perguntas-chaves para entender dois acontecimentos recentes: a aprovação da cota para filiados com até 29 anos nas instâncias partidárias, a limitação do número de reeleições consecutivas que os parlamentares petistas podem concorrer e o resultado obtido pelos petistas nas urnas em 2012.
Em 2013, o PT realizará mais uma edição de seu Processo de Eleições Diretas (PED) e centenas de novos quadros comporão os diretórios municipais, estaduais e o nacional. Por que isto? Algumas pistas podem ser colhidas da boca da nossa velha guarda.
O deputado Ricardo Berzoini, ao anunciar a aprovação da “cota geracional” no IV Congresso, declarou em bom som que esta não era exclusiva para “coletivo de juventude do PT”. O ex-presidente Lula, em inauguração de uma escola técnica no Ceará no final de seu governo disse: “Daqui 20 anos eu talvez não exista mais.Vocês serão os políticos de amanhã. O político perfeito que vocês querem pode não estar em mim, mas pode estar dentro de vocês. Assumam essa responsabilidade. Não tem outro jeito de o país dar certo se a gente não for renovando e melhorando cada vez mais os quadros dirigentes de uma prefeitura, de um Estado, de uma República como o Brasil”.
O ex-ministro José Dirceu, em entrevista [1] para lideranças de movimentos sociais foi taxativo: “De certa forma, nós já estamos vivendo a transição geracional no Brasil. Estamos virando o século e a minha avaliação, todas as condições estão dadas para a juventude ocupar outro espaço no país. Os próximos 25 anos serão de desenvolvimento do conhecimento, da tecnologia e da cultura. Se o país quer sair da situação em que está, terá de impulsionar esse movimento.”
O recado é explícito: institucionalizar o papel da juventude e ao mesmo tempo não permitir que isso se transforme num gueto. O chamado dos fundadores do PT é para que tomemos as rédeas da direção partidária, num contexto em que há ainda um Brasil a ser construído, apesar dos avanços recentes, e que tal luta está cada vez mais feroz, vide o julgamento político da ação penal 470, apelidada de mensalão. Ou seja: é um chamado à juventude para que dirija o PT e o Brasil a partir de propostas consistentes sobre nosso desenvolvimento e a estratégia partidária geral para alcançá-lo.
O balanço eleitoral expressa isso. No artigo Balanço eleitoral e atualização do projeto nacional, os dirigentes nacionais da Juventude do PT Amanda Lemes, Fernando Pacheco e Leopoldo Vieira, mostram que “o partido elegeu 16 prefeitos entre 24 e 29 anos, 133 de 29 a 40 anos, e 277 entre 40 e 50 anos (a idade de Haddad), totalizando 410 novos gestores que englobam a segunda e terceira gerações petistas de um montante de 628 eleitos só no primeiro turno”. Isto seria apenas um jogo de dados se não fosse a diretriz lançada pelo secretário-geral Elói Pietá de que “São Paulo será o principal laboratório petista de políticas públicas para a nova classe média constituída no país nos últimos anos, egressa da pobreza e que anseia por serviços públicos de qualidade” e que “vai haver um debate sobre as ideias do partido a partir de um novo patamar que são essas mudanças na economia e na sociedade”.
Ou a Juventude do PT vai assumir este chamado, com toda a profundidade e responsabilidade, sendo protagonista desse processo ou se tornará mera expectadora, até porque é fato que, entre os eleitos até 29 anos pelo PT, pouquíssimos desenvolveram trajetória e têm vínculos nos de juventude.
Por exemplo, mais do que cursos de “pepejotas” (políticas públicas para a juventude), o PT precisa é ensinar os novos prefeitos e vereadores a realizarem planejamento público e conveniar com as inovadoras políticas públicas federais, assim como legislar para o desenvolvimento local.
Um movimento para dentro do Estado, sim…
Que nada tem nada a ver com baboseiras em torno de “querem aumentar a idade para votar no congresso da JPT”
Após milhares de vagas abertas em concursos públicos, uma nova geração de servidores vem sendo protagonista de inovações de soluções para antigos e novos dilemas do país. Uma boa parte formada por petistas, simpatizantes ou atores de novas políticas públicas que mudaram o Brasil. Inovações como o Bolsa-Família, o PAC ou o Brasil Sem Miséria fazem parte destes exemplos. Esta imensa renovação observada nas urnas também. Sem contar a enorme quantidade de jovens que ocupam DASs no Governo Federal e outros níveis federativos que, no dia-a-dia, se capacitam a governar e operar as mudanças que enxergamos em vigorosos números oficiais e reportagens da mídia alternativa e internacional. Nos movimentos sociais, a renovação é importante, renovando também pautas destas organizações que precisam responder aos dilemas do que fazer daqui para frente, após substanciais transformações sociais, ou como abordar antigas reivindicações que resistem em ser superadas. E aqui não há como delimitar os 29 anos como teto rígido e inflexível.
Enquanto na Europa, os jovens saem às ruas contra a exterminação de seu futuro, na América Latina são os governos progressistas que atraem novas gerações para maiores mudanças. Um caso disso é o movimento argentino La Cámpora [2], incentivado pela corrente kirchnerista do Partido Justicialista, que atua no movimento sindical, secundarista e no Estado, presidindo a reestatizada empresa petroleira do país. Lá, estes jovens são alvos diários da imprensa golpista porque incomodam o status quo com suas mobilizações e controle de áreas estratégicas do governo, representando um futuro ainda mais sombrio para a velha direita, já que são a prova da renovação, pela esquerda, do projeto democrático e popular começado por Nestor Kirchner. E de lá vem um exemplo que deve nos inspirar aqui. Lá se discute projeto nacional nas rodas juvenis e lá se sabe que para se renovar um projeto é preciso escapar da caixinha da “política pública específica” para uma visão que enxergue que a renovação política deve considerar jovens do ponto de vista geracional, isto é: quem fundou aquele projeto e o encaminha e quem recebe agora o bastão para levá-lo adiante, já arrastando e formando a nova geração da nova geração.
Temos matéria-prima de sobra no Brasil para seguir este rumo e nos colocarmos à altura do chamado dos nossos antigos dirigentes. Todo jovem militante, numa campanha eleitoral, por exemplo, vai a um bar depois das atividades e discute as questões do desenvolvimento da sua cidade. Precisamos institucionalizar isso na pauta estruturante da Juventude do PT. Esta gama de jovens concursados, DASs, da liderança social e aqui me refiro ao jovem tesoureiro, secretário-geral, vice-presidente, coordenador-regional de um movimento, anseia por um espaço onde possam se encontrar e se organizar para discutir ideias e propostas para o país sistematizar posições para o partido.
Com esta opção, não apenas estaremos sendo úteis ao desafio histórico do PT, mas estaremos efetivamente no centro da transição geracional. Sem este balanço e esta opção clara, corremos o risco de nos encerramos como apenas um setorial partidário, apesar de toda a resolução que nos classifica como “instância partidária”. E por que? Porque os setoriais foram criados para serem celeiros de temas específicos e é assim que a Juventude do PT tem se comportado. A classificação de “setorial da juventude” ainda presente na fala de muitos dos nossos dirigentes se deve a isso e não à incompreensão por parte deles do que representamos.
A nova fronteira da Juventude do PT está aberta. Produziremos para o partido e para o Brasil “commodities” ou “bens“ com valor agregado?
[1] Ver em http://juventudeempauta.blogspot.com.br/2009/11/as-tarefas-politicas-da-juventude.html
[2] Ver em https://www.google.com.br/search?q=la+campora&ie=utf-8&oe=utf-8&aq=t&rls=org.mozilla:pt-BR:official&client=firefox-a
Fábio Sá é advogado e coordenador de relações institucionais da Executiva Nacional da Juventude do PT