Não há dúvida de que o PT foi o grande vitorioso da eleição municipal. Dados objetivos demonstram isso sem precisar de análises políticas pormenorizadas: foi o partido mais votado, governará a maior população e gerirá a maior receita somada. A vitória do PT em 2012 é política e matemática. Seu maior número de prefeituras está no Nordeste e Sudeste, as regiões que puxam o crescimento e a distribuição de renda no Brasil.

Dos três grandes partidos, o que inclui PMDB e PSDB, foi o único que cresceu em número de prefeituras e também conquistou o maior número em cidades grandes, aquelas com mais de 200 mil eleitores, apesar de um sutil recuo. Teve um desempenho de 50% nas capitais que disputaram o segundo turno, com o diferencial de ter conquistado São Paulo, terceiro PIB do país, cidade que dava sobrevida ao PSDB e que é capaz de definir uma eleição nacional, ainda mais para um partido que detém a dez anos o Governo Federal. Apesar de Diadema, manteve o absoluto controle sobre seu berço, o ABCD paulista. Adiante, ficou em primeiro lugar no ranking das cidades com maior população a governar em Minas Gerais.

O “mensalão”, usado e abusado na campanha de Serra, não fez nenhuma diferença eleitoral da cidade. Nas demais em que o PT perdeu, especialmente no Nordeste e Norte, valeram outras reflexões: a força de novos atores do campo governista, que já reafirmaram apoio à reeleição da presidenta Dilma, destacando, porém, que João Pessoa foi vencida pelo PT. No Norte do país, a reflexão que deve vir à tona é a falta de um projeto mais consistente para a região. Se é verdade que a liderança da oposição lá, controlando as duas maiores cidades (Belém e Manaus), cria resistência aos efeitos das políticas federais, por outro lado é evidente que a ausência de um projeto de desenvolvimento para e compatível com as peculiaridades da Amazônia começa a gritar.

O campo governista saiu muito maior e inquestionavelmente hegemônico, em alguns casos disputando ele mesmo o segundo turno, sem a tradicional polarização PT x PSDB. Na maioria dessas incidências, inclusive, a polarização foi entre esquerda e esquerda. Importante registrar que embora PT e PSB tenham crescido, enquanto o PMDB diminuiu, a melhor conta é a que declara o PT como o maior entre as cidades grandes, o PSB como detentor da maioria das capitais e o PMDB como supremo nos pequenos municípios. Esta é a conta da governabilidade, aplaudindo um PC do B mais forte e competitivo, capaz de ser alternativa real de governo em cidades importantes como Manaus é para a Região Norte e para o novo Mercosul, Florianópolis e Porto Alegre.

Com a nova geração, avançar é preciso mas a estratégia elaborada em 1995 permanece atual

Outrossim, o caso de Fortaleza mostra que, embora o avanço eleitoral petista e de esquerda seja persuasivo na perspectiva de aprofundar as transformações sociais e o encaminhamento da reforma política e do marco regulatório da mídia, a estratégia forjada de 1995 a 2002, de alianças amplas de centro-esquerda, que evitem o isolamento e favoreçam o amplo diálogo social está longe de estar esgotada. O mesmo vale para o programa da revolução democrática, que prevê um propósito de governança voltado à universalização quantitativa e qualitativa dos serviços públicos mesclado à expansão da participação social, que segue sendo a ponte para as mudanças que queremos aplicar no Brasil, sem aventuras e voluntarismos.

Também não é demais registrar que, no que se refere ao PT, a população aprovou a aposta numa nova geração de líderes, cujo maior símbolo é Haddad, mas engloba também Alexandre Padilha e outros. A nova geração petista foi amplamente vitoriosa. Segundo balanço feito pelo Grupo de Assessoramento Eleitoral (GAE) do Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE), ligado à Executiva Nacional, o partido elegeu 16 prefeitos entre 24 e 29 anos, 133 de 29 a 40 anos, e 277 entre 40 e 50 anos (a idade de Haddad), totalizando 410 novos gestores que englobam a segunda e terceira gerações petistas de um montante de 628 eleitos só no primeiro turno.

A atualização do projeto político

Este resultado enseja também uma renovação programática, que é justamente correspondente ao balanço de uma década de experiência do PT no âmbito federal, e a necessidade de se apontar o aprofundamento das mudanças. Sobre isso, falando ao Valor Econômico em 29/10/12, na reportagem “Vitória em SP amplia coesão e cacife de Lula no PT”, de Caio Junqueira, o secretário-geral petista, Elói Pietá, corretamente, destacou que “São Paulo será o principal laboratório petista de políticas públicas para a nova classe média constituída no país nos últimos anos, egressa da pobreza e que anseia por serviços públicos de qualidade” e que “vai haver um debate sobre as ideias do partido a partir de um novo patamar que são essas mudanças na economia e na sociedade”. Já o senador Jorge Viana, na mesma matéria, ressaltou que “a vitória do Haddad deve inaugurar um novo modelo petista de governar. Antes a prioridade era a inclusão, agora é a qualidade do serviço público”.

Este passo à frente é fundamental, muito embora este já tenha sido o sentido destes últimos dez anos sem, contudo, ser uma estratégia política, que é o objetivo. Segundo dados do Ministério do Planejamento, de 2000 a 2011, cresceu em 84% o investimento em Previdência, 254% em Educação, 70% em Saúde, 390% em Assistência Social, 153% em Trabalho.

Temos, também, diante de nós, o desafio de aproveitar os novos mandatos municipais para atualizar o programa do PT para a gestão do Estado, a partir de inúmeras inovações empreendidas no Governo Federal, como o Bolsa-Família, o Brasil Sem Miséria, o PAC, entre outros, valorizando a experiência de uma enorme quantidade de servidores públicos concursados, petistas e, em sua maioria, “jovens”. A experiência do partido reforça essa iniciativa: já consagrado como partido que liderava os movimentos sociais na luta por democracia e inclusão social, o PT despontou na década de 1990 como exemplo de excelência na promoção de políticas públicas de viés redistributivo e de um modelo de gestão participativo e democrático.

Agora é hora de repactuar o governismo e preparar a cena de 2014, sem confundir alianças táticas – inevitáveis no âmbito local, em busca do rearranjo de forças na coalizão que governa o país – com estratégicas, sem tratar como inimigos atores do campo governista. Programaticamente, a chave está na demarcação do nosso campo como o campo da política social e, por conseguinte, a construção de uma narrativa que preveja o desenvolvimento do nosso “sistema de direitos” e maior conexão entre participação social e o planejamento do desenvolvimento; e ter o ciclo virtuoso do crescimento financiando, indubitavelmente, um Estado de Bem Estar Social “tropical”.  

 Amanda Lemes, Fernando Pacheco e Leopoldo Vieira são membros da Direção Nacional da Juventude do PT.