Certo dia, desfrutávamos da boa acolhida da família Kotscho, naquela aconchegante casa que ainda hoje permanece de portas abertas, na Cidade Universitária. Provavelmente comemorávamos algum aniversário, não importa. Era uma época em que não precisávamos de motivo para nos reunir, sempre tínhamos tempo para dividir entre os amigos e, o que é mais importante, não faltava assunto para as longas conversas.

Certo dia, desfrutávamos da boa acolhida da família Kotscho, naquela aconchegante casa que ainda hoje permanece de portas abertas, na Cidade Universitária. Provavelmente comemorávamos algum aniversário, não importa. Era uma época em que não precisávamos de motivo para nos reunir, sempre tínhamos tempo para dividir entre os amigos e, o que é mais importante, não faltava assunto para as longas conversas.

Estávamos em 1982, ano da primeira eleição direta para os governos estaduais. Numa roda, na beira do jardim, a discussão corria solta. De um lado, um grupo encabeçado pelo dono da casa, Ricardo – que ainda não tinha virado assessor de Lula –, reforçado pela argumentação de Paulo Patarra, defendíamos o líder metalúrgico no Palácio dos Bandeirantes. No outro, Quartim de Moraes, já assessorando Franco Montoro, vendia seu peixe, ajudado por Zélio, que naquela época ainda creditava que o PMDB era a melhor saída. Tempo bom, quando se podia discutir entre Lula e Montoro, nem sequer imaginávamos os candidatos colloridos que ainda veríamos pela frente.

O papo corria solto, a discussão era acalorada – como sempre – as defesas de cada candidato intransigentes. Ninguém pensava em fazer a cabeça de ninguém. Apenas discutia-se por discutir, tentando resolver nas rodas de discussão todos os problemas do país. Nem fazíamos idéia do que ainda iríamos ver, das mudanças que presenciaríamos, dos intelectuais daquela época que depois pediriam que esquecêssemos o que tinha escrito e dito.

O único que ficou quieto o tempo todo era Carlito, parecia alheio. Ninguém reparou quando ele conseguiu junto a uma das três mulheres da casa – a doce Mara, a simpática Mariana, hoje jornalista como o pai, ou a trepidante Carol – um papel e uma caixa de lápis-de-cor.

Lá pelas tantas, o silêncio dele pareceu incomodar aos demais, fazendo com que alguém o questionasse, não tanto para saber de que lado ele estava – pois isso era público – mas provavelmente em busca de uma frase genial, ou uma de suas tiradas fantásticas. Carlito, chamado à roda, não entrou na discussão.

Sem se deixar contagiar pela exaltação dos demais, permaneceu com sua fisionomia doce, sorriso nos lábios. Num gesto simples, sacou o papel no qual, pacientemente, em letras pretas e vermelhas, acabara de bolar o símbolo que acompanhou o Partido dos Trabalhadores para o resto da vida: OPTEI.

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