Estrutura dos parlamentos deve ser repensada e ampliada.
O debate contou com a presença de José Eduardo Cardozo, Antonio Carlos R. Pereira (Carlão), Alisson Mendonça e Daniel Tietze

  "Será que o parlamento é realmente importante e indispensável para o funcionamento da democracia?". Foi com essa pergunta provocativa que José Eduardo Cardozo, deputado federal do PT/SP, iniciou o debate. O problema, segundo ele, é que para os governos de direita o melhor parlamento é aquele que não influencia nas decisões. Já para os de esquerda, a democracia direta é melhor do que a representativa, o que excluiria a necessidade do parlamento como intermediário. Porém, o deputado logo explicou que considera, sim, o parlamento relevante para a democracia, mas "a matriz autoritária de pensamentos dificulta as atividades". Referindo-se às audiências nas câmaras, o deputado disse que "a maioria dos parlamentares parte do pressuposto que o outro não terá nada de interessante a dizer, por isso não escuta".

Cardozo disse ainda que a visão dos três poderes está em cheque no Brasil e no mundo, por isso o sistema deve ser repensado: "O parlamento não é sério. Na prática, quem governa é o executivo, os próprios parlamentares não se sentem co-responsáveis pelo governo", acrescentou. Segundo ele, falta também informação para o munícipe, que desconhece a função do parlamento.

Mesmo com estas constatações, o deputado esclarece que a democracia direta não substitui o espaço necessário da democracia representativa. Ele explica que é necessário pensar em mecanismos para um novo parlamento, unindo a democracia direta e a representativa, mas que ainda não houve reflexão suficiente para definir qual seria esse modelo.

Antonio Carlos R. Pereira (Carlão), vereador do PT/BH, concordou com a falta de reflexão. Para ele, grande parte da população está excluída da democracia e do debate político. Conforme explica, com a velocidade da urbanização houve quebra na referência de realidade, e nada substituiu essa lacuna, portanto, "é difícil pensar num conceito de democracia que seja entendida pela maioria", concluiu, ressaltando que a representação se encontra fragilizada, o que compromete todo o sistema, daí a necessidade de se repensar o modelo da estrutura do Estado.

Vereador do PT na cidade de Ilhéus, Alisson Mendonça contribuiu para o debate expondo sua realidade como político na Bahia. "Fazer oposição política na Bahia é o mesmo que andar pelo Iraque com uma bandeira dos Estados Unidos enrolada no corpo", comparou ele, referindo-se à liderança de poder de Antonio Carlos Magalhães no estado: "O que nos resta a fazer é fiscalizar, pois construir alguma coisa é quase impossível. Eles não mexem no orçamento nem através do representativo. Não aceitam emenda nem de sua bancada".

De acordo com sua visão, há 40 anos o governo de sua região é preparado de forma a desmobilizar a sociedade civil. "Ser vereador em Ilhéus é ter a certeza de passar 4 anos sem sofrer qualquer pressão da sociedade", disse, lamentando que a situação política da Bahia reflita a certeza da proteção e impunidade.

O vereador enfatizou a necessidade de mecanismos que façam a população entender as diferenças na maneira de governar do PT, pois por mais que o partido esteja associado à honestidade, a população muitas vezes acaba por preferir o famoso "rouba mas faz", disse, denunciando o clientelismo que se instala entre o poder local, seja através de atendimento médico, carona ou benefícios de água e luz.

Participou também da discussão o vereador de Berlim pelo PDS, Daniel Tietze, que há 7 anos participa da política municipal. Ele contou que, a partir de sua experiência, percebeu que as pessoas têm esperanças exageradas com relação às ações dos políticos, mas assim mesmo é preciso assumi-las.

Para ele, o desafio é aproximar o sistema eleitoral do ser humano. Em seu país, onde o voto não é obrigatório, apenas cerca de 30% a 60% da população vota: "Com essa realidade, até que ponto a democracia pode ser considerada representativa?", questionou. "Deveriam ficar algumas cadeiras vazias, ou sortear alguns candidatos, para representar aqueles que não votam", brincou.

Tietze conta que, aos 21 anos, quando começou sua carreira política, tinha a ambição de ser o melhor administrador, mas passado algum tempo, pôde perceber que o sistema se auto-administra. Passou então a tentar entender quais são as expectativas da população e examinar o que o estado pode oferecer. "O que o eleitor quer são respostas simples para questões extremamente complicadas", disse ele.

"Democracia é a ação estatal, não apenas pelo povo e para o povo, como também através do povo", definiu, explicando que a população não espera que hajam comissões para que ele possa participar, mas sim que seus interesses sejam implementados pelos políticos e transformados em ações.

Durante o debate, as principais questões colocadas foram referentes à necessidade de existência do parlamento e às formas de aumentar a representatividade parlamentar. A conclusão a que se chegou é que o parlamento é uma arena de luta política que atravessa uma crise de representatividade. Porém, ele é necessário, apenas precisa recuperar seus valores. O vereador Carlão sintetiza: "O parlamento é um instrumento democrático para melhorar a vida do cidadão, mas da forma que está não ajuda em nada! É necessário, portanto, que os espaços de participação sejam, permanentemente, repensados".

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