De Antananarivo a Casablanca, jovens impulsionados por redes sociais tomam as ruas exigindo emprego, democracia e transparência, revelando o poder de uma geração moldada pela era digital

Do TikTok às ruas: Geração Z lidera levantes no continente Africano 
Foto: Reprodução YouTube

Milhares de pessoas foram às ruas de Madagascar na última semana, na maior onda de protestos em 15 anos. O movimento Gen Z Mada, liderado por jovens e articulado por redes sociais como Facebook e TikTok, coordenou os atos que se espalharam rapidamente por várias cidades do país.

Sindicatos, incluindo o maior de Madagascar, a Solidariedade Sindical Malgaxe, aderiram às manifestações e formaram um comitê conjunto com os jovens para organizar novas mobilizações. 

Os protestos chegaram à capital, Antananarivo, na sexta-feira (3), e foram reprimidos com gás lacrimogêneo pela polícia. “Ninguém se beneficia com a destruição da nação. Estou aqui, permaneço aqui pronto para ouvir, pronto para estender a mão e… para trazer soluções para Madagascar”, declarou o presidente Andry Rajoelina em discurso transmitido em sua página no Facebook.

Mais de 180 mil jovens participaram dos protestos coordenados pelo coletivo GenZ 212 no Marrocos

Presidente ignora pedidos de renúncia e fala em tentativa de golpe 

Rajoelina nomeou o general Rupin Fortunat Zafisambo como primeiro-ministro na segunda-feira (6/10), numa tentativa de conter a crise política. Os grupos de jovens, porém, mantêm o pedido de renúncia do presidente. Organizações da sociedade civil pediram mediação da Igreja para “impedir que Madagascar afunde no caos ou na guerra civil”.

O presidente classificou as manifestações como “tentativa de golpe” orquestrada por adversários políticos. De acordo com a Al Jazeera, a ministra das Relações Exteriores, Rasata Rafaravavitafika, afirmou que o país sofreu um “ataque cibernético em massa” e uma “campanha de manipulação digital direcionada” vinda do exterior. Ela também acusou “grupos oportunistas” de se infiltrarem nos protestos para “explorar a vulnerabilidade dos jovens de Madagascar”.

Localizado no Oceano Índico, o país é rico em recursos naturais, mas segue entre os mais pobres do mundo: 75% da população de 32 milhões vive abaixo da linha da pobreza, segundo o Banco Mundial.

Marrocos é palco de protestos liderados pelo GenZ 212

No norte da África, o coletivo juvenil GenZ 212 organizou o oitavo dia consecutivo de protestos no sábado (4/10), em cidades como Casablanca, Agadir, Marrakech, Tânger, Salé, Oujda e Rabat. As manifestações, organizadas via Discord, TikTok e Instagram, reúnem mais de 180 mil participantes e denunciam a corrupção, o desemprego, a precarização dos serviços públicos e os altos investimentos para a Copa do Mundo de 2030.

Embora pacíficas nos primeiros dias, as manifestações se intensificaram, com episódios de violência, veículos incendiados e repressão policial. As forças de segurança utilizaram gás lacrimogêneo, balas de borracha e, em alguns casos, munição letal.

A polícia marroquina registrou 286 feridos entre civis e agentes durante os confrontos

O coletivo juvenil GenZ 212, que defende o caráter não violento dos protestos, afirmou que “a violência não é nossa linguagem”, mas reconheceu incidentes em cidades menores após as manifestações de quarta-feira (1/10). Segundo balanço do Ministério do Interior do Marrocos, ao menos 263 agentes das forças de segurança e 23 civis ficaram feridos durante os confrontos.

A Anistia Internacional exigiu uma “investigação imediata e independente” sobre o uso excessivo da força por parte das autoridades marroquinas. Em comunicado divulgado na quinta-feira (2/10), a organização de direitos humanos alertou para o “uso desproporcional da força” e cobrou responsabilização diante dos relatos de violência contra manifestantes.

A força global da Geração Z

A chamada Geração Z consolida-se como a primeira geração de nativos digitais integralmente moldada pela presença constante da internet, dos smartphones e das redes sociais. Suas experiências, valores e comportamentos são profundamente influenciados por esse contexto, resultando em uma postura social pragmática, globalmente conectada e movida por autenticidade.

Eventos históricos como a crise financeira de 2008 e a pandemia de COVID-19, somados à aceleração tecnológica, moldaram uma visão de mundo que prioriza segurança, flexibilidade e propósito. No ambiente de trabalho, a Geração Z desafia estruturas tradicionais, exige modelos híbridos e valoriza empresas com compromissos sociais e ambientais.