Cinco décadas após sua morte, o guerrilheiro argentino continua a inspirar, dividir opiniões e influenciar a política, a arte e a cultura global

Herói, vilão ou mito? A trajetória de Che Guevara 57 anos após sua morte
Foto: Alberto Korda/Reprodução

Ernesto “Che” Guevara é um dos personagens mais icônicos e controversos do século XX. Médico, guerrilheiro, ministro e idealista, o argentino se tornou símbolo da luta contra a desigualdade e do sonho revolucionário. 

Admirado por uns e odiado por outros, sua imagem, registrada na célebre fotografia de Alberto Korda, ultrapassou fronteiras e ideologias. Tornou-se um ícone global da rebeldia, estampando murais, camisetas, capas de álbuns e cartazes em manifestações de jovens de diferentes gerações.

Mais de meio século após sua morte, em 9 de outubro de 1967, na Bolívia, Che continua a inspirar movimentos políticos e artísticos. A cultura pop transformou o guerrilheiro em mito. 

Ele já foi retratado em filmes como Diários de Motocicleta (2004), de Walter Salles, baseado em seus diários de juventude, e Che (2008), dirigido por Steven Soderbergh e estrelado por Benicio del Toro, que recebeu o prêmio de Melhor Ator em Cannes. 

Sua figura também aparece em documentários e obras literárias, como Che Guevara: Uma Vida Revolucionária, do jornalista norte-americano Jon Lee Anderson, uma das biografias mais respeitadas sobre o tema.

Herói, vilão ou mito? A trajetória de Che Guevara 57 anos após sua morte
A icônica foto de Alberto Korda, reproduzida em camisetas e murais ao redor do mundo, transformou Che Guevara em símbolo pop da rebeldia e da resistência Foto: Reprodução

Che: o mito e o ícone global

Admirado por artistas e intelectuais, Che influenciou gerações. John Lennon e Yoko Ono citaram sua luta como inspiração; Jean-Paul Sartre o chamou de “o ser humano mais completo de nossa era”; e Bob Dylan, Patti Smith e Rage Against the Machine o homenagearam em suas músicas. No Brasil, Caetano Veloso e Chico Buarque também o referenciaram em canções e declarações públicas.

Por trás do mito, há o homem de carne e osso — médico, ideólogo e comandante revolucionário. A seguir, sete pontos ajudam a compreender quem foi, de fato, Ernesto Guevara de la Serna.

Che: o homem e o revolucionário

1. Da medicina à revolução
Nascido em Rosário, Argentina, Che formou-se em medicina e percorreu a América Latina, onde presenciou a pobreza e a desigualdade. Essas experiências moldaram sua visão de mundo e o convenceram da necessidade de mudanças radicais. Seus relatos de viagem foram publicados em Diários de Motocicleta, obra que inspirou o filme homônimo de 2004.

2. O comandante da Revolução Cubana
Che integrou o Movimento 26 de Julho e embarcou no iate Granma rumo a Cuba, em 1956. Destacou-se na guerrilha da Sierra Maestra, tornando-se comandante militar e aliado de Fidel Castro. Após a vitória sobre Fulgencio Batista, ocupou cargos de destaque, como presidente do Banco Nacional de Cuba e ministro da Indústria, implementando reformas sociais e econômicas estruturais.

3. Internacionalismo revolucionário
Convicto de que a revolução deveria ultrapassar fronteiras, Che tentou expandir o modelo de guerrilha no Congo e na Bolívia. Embora essas campanhas tenham fracassado, reforçaram sua imagem de militante disposto a sacrificar o conforto pessoal pelos ideais de solidariedade internacional. O filme Che (2008), de Steven Soderbergh, retrata essa fase.

4. Contribuições sociais em Cuba
Che liderou campanhas de alfabetização, saúde pública e reforma agrária. Promovia a austeridade e a criação do “homem novo”, ideal de cidadão guiado por valores coletivos. Seu estilo de vida disciplinado consolidou sua imagem de coerência ideológica e de líder comprometido com o bem comum.

5. Autoritarismo e execuções
Como comandante da prisão de La Cabaña, Che supervisionou julgamentos e execuções de opositores do antigo regime. Críticos o acusam de autoritarismo e de empregar métodos duros; defensores afirmam que ele agia dentro do contexto de guerra revolucionária e da consolidação do novo governo. É um dos aspectos mais controversos de sua biografia.

6. Acusações de homofobia
Che foi acusado de ter visões homofóbicas, associando a homossexualidade ao “desvio” do ideal do homem novo. Historiadores, porém, afirmam não haver provas diretas de perseguição pessoal. A repressão a grupos LGBT em Cuba ocorreu anos depois e não pode ser atribuída exclusivamente a suas ações.

7. Mito global e legado dividido
Após sua morte, a fotografia de Alberto Korda transformou Che em símbolo mundial da rebeldia. Sua imagem foi apropriada por movimentos sociais e pela cultura de consumo, consolidando um legado que ainda provoca debate político e ideológico.